«A especialização em Serviço Social na Saúde é extremamente necessária»

“É fulcral o reconhecimento político dos assistentes sociais como profissionais academicamente especializados nos cuidados sociais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).” Quem o defende é Inês Espírito Santo. A assistente social do Hospital de Santa Marta é uma das coordenadoras da "inovadora" Pós-Graduação em Serviço Social em Saúde do ISCTE-IUL, cuja sessão de apresentação se realiza dentro de dias.

"O Serviço Social tem sido pouco reconhecido"

Em declarações à Just News, Inês Espírito Santo considera que já foram dados alguns passos para se dar mais valor ao papel dos assistentes sociais na Saúde, mas “ainda não se deu a mudança do paradigma biomédico para o biopsicossocial”. A responsável diz mesmo que “na teoria fala-se muito em cuidados integrados, mas na prática ainda são poucos os exemplos que privilegiam esta dimensão”.

Esta pós-graduação surge assim como "uma mais-valia". Na sua opinião, “a especialização em Serviço Social na Saúde é extremamente necessária e emergente na qualificação específica e diferenciada". Para Inês Espírito Santo tal é "um importante contributo para a promoção da qualidade do exercício profissional nas diferentes áreas do Serviço Social no SNS, cumprindo-se assim os critérios para a ingressão na carreira de técnicos superiores de saúde.”


A preparação e coordenação da nova pós-graduação do ISCTE está a cargo de Jorge Ferreira e de Inês Espírito Santo

Segundo a assistente social, “o Serviço Social tem sido esquecido e consequentemente pouco reconhecido pelo poder político e gestores, o que resulta em prejuízos para o bem-estar da pessoa”. Contudo, recorda que o percurso do Serviço Social na área da Saúde não é recente:

"Desde o início do século XX que o assistente social integra equipas de saúde no Massachusetts General Hospital, nos EUA. Este reconhecimento internacional é sublinhado por Richard Cabot, médico nesse hospital, que afirmava que os diagnósticos clínicos são uma perda de tempo, devido aos doentes não poderem cumprir as indicações de tratamento; e os organismos médicos e sociais não devem trabalhar separados, porque os seres humanos por quem somos responsáveis não podem ser fracionados em dois.”

Em Portugal, a integração deste profissional nas unidades de saúde e equipas multiprofissionais foi reforçada em 2002, tendo por base a Lei da Organização Hospitalar de 1946. “Todavia, essa regulação ficou estagnada na desvalorização e na ausência de reconhecimento da profissão ao longo destes anos e consequentemente das mais-valias da sua prática multifacetada nos cuidados sociais no SNS e, por conseguinte, no bem-estar da pessoa”, alerta.



Inês Espírito Santo, que é assistente social adstrita à Cardiologia de Adultos e Pediatria do Hospital de Santa Marta – Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, salienta que “o assistente social é o profissional que detém os múltiplos conhecimentos da globalidade da pessoa, que vão desde o momento que recorre aos serviços de saúde até à sua integração na comunidade.”

E acrescenta que é este profissional "quem conhece as várias informações sobre o doente, tais como a causa de internamento ou consulta, o diagnóstico clínico, o prognóstico, as limitações funcionais ou cognitivas, situação socioeconómica, familiar e profissional, receios, expectativas, crenças, direitos e qual a rede de apoio social a que pode ter acesso".

“É este conjunto de conhecimento vasto que induz à premente e efetiva necessidade de alteração de pensamento e paradigma nos cuidados do SNS, de modo que haja valorização e reconhecimento dos cuidados sociais, para que o diagnóstico clínico seja integrado e mais centrado na pessoa”, reitera a responsável.

Um programa "que fomenta a visão integral do doente"

Face à relevância dos assistentes sociais no SNS, o ISCTE-IUL criou esta nova pós-graduação em Serviço Social na Saúde. Como explica Jorge Ferreira, cocoordenador do curso, pretende-se ter “uma oferta formativa inovadora, orientada para a promoção de um perfil técnico científico e transversal do AS que exerce a sua atividade no campo da Saúde”.

O foco estará assim na "concetualização de planos de intervenção individual, com uma dimensão multi e interdisciplinar, a fim de se garantir respostas adequadas às necessidades das pessoas, promovendo o bem-estar e a qualidade de vida dos doentes e familiares". Mas não só, e acrescenta outros dos propósitos da formação:

“Identificar as redes de suporte formal e informal com impacto no tipo de resposta do assistente social no domínio psicossocial, associado às vulnerabilidades clínicas inerentes ao processo de doença; inovar e desenvolver a competência criativa na prática do assistente social no domínio da Saúde; e capacitar profissionais para o desenvolvimento de competências técnicas de qualidade nos diferentes contextos de saúde e a tomar decisões.”



Para Jorge Ferreira, esta formação vai fazer a diferença. “O curso aposta num programa inovador e holístico que aprofunda e inova em todas as vertentes a intervenção psicossocial, que fomenta a visão integral do doente e o papel central do cidadão no sistema de saúde, contribuindo para uma prática profissional nas organizações de saúde, adequada à integração de cuidados e baseada em evidências.”

Continuando, frisa que “os assistentes sociais que trabalham em saúde são especialistas em questões psicossociais associadas à doença e necessitam, de forma constante, de desenvolverem e atualizarem uma base de conhecimentos mais vasta, assim como competências e habilidades para garantir uma intervenção de qualidade, um bom diagnóstico social e a capacidade de elaborar um plano de intervenção adequado a cada situação particular”.



Sessão de apresentação com presença de Maria de Belém Roseira


A Pós-Graduação em Serviço Social na Saúde, dirigida a profissionais com licenciatura em Serviço Social ou nas áreas de ciências sociais e humanas e ciências médicas, irá iniciar-se apenas em outubro de 2019, mas, no próximo dia 20 de maio, no ISCTE, vai decorrer a cerimónia de abertura da sua primeira edição, com um debate sobre “O papel do Serviço Social no SNS do futuro”.

Entre os convidados destacam-se Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde; Luís Pisco, presidente da Administração Regional de Saúde Lisboa e Vale do Tejo; e Ricardo Mestre, vogal do Conselho Diretivo da Administração Central do Sistema de Saúde. 


Inês Espírito Santo e Jorge Ferreira

A participação na cerimónia de apresentação da Pós-Graduação em Serviço Social na Saúde e na conferência sobre “O papel do Serviço Social no SNS do futuro” é gratuita e aberta a todos os interessados no tema. É obrigatória a inscrição, que pode ser efetuada aqui.

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