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Opinião

1.º Episódio de Esquizofrenia: «Eficácia no mundo real de doses antipsicóticas»


Luís Câmara Pestana

Especialista em Psiquiatria e Farmacologia Clínica pela OM. Diretor do Serviço de Psiquiatria e SM do CHULN



Tratando-se o 1.º episódio da esquizofrenia de um estado clínico que origina desafios muito relevantes em termos do plano de tratamento e da sua implementação, a clarificação da eficácia e segurança da terapêutica contribuirá para um projeto terapêutico mais favorável.

Para além da psicoeducação, do envolvimento da família, da cessação do consumo de substâncias, da intervenção psicoterapêutica, nomeadamente de base cognitiva comportamental, a medicação antipsicótica é a estratégia de intervenção que tem evidenciado maior utilidade.

Contudo, não basta dispormos de medicamentos eficazes e seguros, é também necessária a acessibilidade e a boa adesão ao tratamento. Esta última condicionada por muitos fatores.

A ausência ou reduzida eficácia, com alguma frequência atribuível a utilização de doses subterapêuticas, os efeitos adversos, nomeadamente extrapiramidais, como o tremor, a rigidez muscular, as distonias agudas, a acatísia, assim como o aumento de peso, a síndroma metabólica, a sonolência diurna e a ausência de crítica sobre a necessidade de tomar a medicação levam a frequentes abandonos, com as consequentes recaídas, por vezes, com a necessária hospitalização.

Embora os ensaios clínicos realizados com antipsicóticos tenham relevante qualidade no sentido de caracterizar a eficácia e a segurança devido à sua metodologia, que obriga a dupla ocultação, a aleatorização e a replicabilidade, esta é demonstrada de forma muito específica em virtude do caráter muito homogéneo das amostras.

Doentes com menor comprometimento crítico que entendem a necessidade do tratamento, doentes em que a família se encontra envolvida no procedimento, visitas regulares, maior atenção dos profissionais envolvidos no procedimento experimental, observação dos critérios de inclusão, eliminação de outros fatores, tais como outras doenças não psiquiátricas associadas ou consumo de substâncias psicoativas. 



No mundo real, sabemos que a esmagadora maioria dos doentes com um 1.º episódio de esquizofrenia não tem estas características. Estes doentes consomem substâncias psicoativas, nem sempre têm terceiros envolvidos no tratamento, a acessibilidade ao médico fora das consultas programadas é difícil, abandonam o tratamento quando surgem efeitos adversos ou esquecem-se de tomar a medicação.

Assim, é com alguma dificuldade que podemos extrapolar os resultados que parecem evidentes nos estudos experimentais.

Num mundo real, a necessidade de determinar quais os antipsicóticos que potencialmente sejam mais vantajosos em termos da sua eficácia e do seu perfil de segurança e da sua formulação é da maior importância, assim como as doses dos medicamentos a utilizar, bem como a sua implementação.

Uma nota final em relação ao perfil metabólico dos doentes. Sabendo que muitos doentes serão metabolizadores rápidos ou lentos de alguns antipsicóticos, deveria, no sentido de minimizar os efeitos adversos e otimizar a eficácia, ser implementada nesta população em particular a utilização de testes genéticos na escolha de medicamentos.



Artigo divulgado no Jornal do XVI Congresso Nacional de Psiquiatria.

 

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