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Opinião

20 anos de anestesiologia obstétrica – Centro Hospitalar de Setúbal


Irene Ferreira

Anestesiologista, CH de Setúbal. Presidente da Comissão Organizadora dos Encontros de Anestesiologia Obstétrica do CHS



O Serviço de Anestesiologia 1 do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) comemora 20 anos de atividade regular de Anestesiologia Obstétrica, ininterruptamente, 24/24 h, 365 dias/ano.

Ao longo destes anos, contribuímos para uma maternidade sem dor e mais segura. A prática obstétrica tem sofrido adaptações face às tendências sociológicas, com um maior envolvimento do casal e um maior recurso a práticas ditas mais naturalistas. Evoluímos da grávida fixa à cama e cesariada sob anestesia geral para o casal informado e participativo no trabalho de parto e para cesarianas sob locorregionais.

A Anestesiologia Obstétrica desenvolve-se em todas as áreas da Anestesiologia moderna: perioperatório, dor aguda, dor crónica e cuidados intensivos. A sua prática pressupõe competências técnicas e competências não técnicas, pelo que a formação nesta área constitui um desafio quer para o formando, quer para o formador.

Promovemos uma prática de qualidade, segundo indicadores clínicos, com implementação de uma política de qualidade. Estes indicadores permitem uma monitorização contínua da prática anestésica, comparando-a com o definido como boas práticas, nomeadamente na ocorrência de complicações, como as cefaleias pós-punção da dura.

Ao longo destes anos, tivemos oportunidade de participar em cerca de 40.000 partos, em que 12.000 foram cesarianas e 18.000 bloqueios do neuroeixo, para analgesia de trabalho de parto.


Formámos cerca de 25 internos de Anestesiologia, com estágio estruturado e de acordo com a legislação em vigor.

No entanto, ao longo destes 20 anos, a nossa prática anestésica desenvolveu uma plasticidade, adaptando-se às exigências da maternidade neste novo século. Estas mudanças são transversais a várias realidades hospitalares, sobrepondo padrões de vida, com uma idade materna mais avançada, com maior morbilidade materna a tendências naturalistas, criando falsas expectativas relativas ao momento do parto e à intervenção médica. A desinformação dos dias de hoje não é melhor que a falta de informação de há 20 anos e no quotidiano somos confrontados com planos de parto desajustados às expectativas do casal.

O anestesiologista obstétrico deve informar, validando as perceções trazidas pelo casal grávido. Os recursos físicos também se foram adaptando e melhorando ao longo destes anos. Mudámos de um modelo de maternidade com fracos recursos físicos e sem bloco cirúrgico próprio para um bloco de partos com as diferentes valências integradas e com uma equipa de enfermagem que se integrou na Anestesia Obstétrica e na Enfermagem do perioperatório.

Neste contexto, promovemos um Congresso abrangente de vários profissionais, com diferentes realidades hospitalares e perspetivas da Anestesiologia Obstétrica. Este Congresso foi organizado pelo Serviço de Anestesiologia 1 do CHS, com a participação dos enfermeiros do Bloco de Partos. Designou-se de Encontros de Anestesiologia Obstétrica para traduzir este objetivo dinâmico.

Congratulamo-nos com a participação alcançada: 160 participantes, com uma abrangência nacional, 70 médicos especialistas, 60 enfermeiros e 30 médicos internos, garantiram um debate vivo numa área muito particular da Anestesiologia.

Falámos do que nos preocupa no quotidiano, da formação e na importância da simulação e da comunicação em Anestesiologia Obstétrica, destacando a importância do envolvimento em equipa e da integração do enfermeiro na sala operatória.

A hemorragia pós-parto e as principais complicações em Anestesiologia Obstétrica, nomeadamente, as cefaleias pós-punção da dura, o diagnóstico diferencial de lesões neurológicas e a dor crónica pós-parto suscitaram o interesse dos participantes.

Foram apresentados trabalhos científicos, médicos e de enfermagem, sob a forma de comunicações livres e de posters. Os temas destes trabalhos, apesar de variados, relacionam-se com a Anestesiologia Obstétrica, sendo na maioria casos clínicos, mas também estudos retrospetivos e revisão de temas.

Esperamos ter correspondido às expectativas de todos aqueles que participaram nos Encontros, sendo o feedback muito positivo, o que nos dá ânimo para continuar uma prática assistencial, organizativa e formativa baseada em padrões de qualidade.




Artigo publicado na Women`s Medicine 14.

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