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A abordagem da sexualidade nos idosos «deve fazer parte integrante da consulta»




“No caso dos idosos, a abordagem da sexualidade deve ser parte integrante da consulta e o profissional de saúde deve falar deste tema exatamente da mesma forma que o faz com uma pessoa mais jovem”, afirmou Francisco Allen Gomes, psiquiatra e sexólogo, durante a sua intervenção na 1.ª Reunião de Sócios da APECS (Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da SIDA).

O evento, que decorreu em Aveiro, no Hotel Meliã Ria Aveiro, esteve subordinado ao tema: “Infeção pelo VIH - A importância do diagnóstico precoce (dos cuidados de saúde primários aos centros de referência)”, sendo que um dos objetivos do encontro foi exatamente "tentar a aproximação aos cuidados de saúde primários (CSP), de forma a estabelecer uma ligação mais estreita com estes profissionais, em prol dos doentes”, explicou Célia Oliveira, membro da Direção da APECS.




Francisco Allen Gomes, cuja intervenção esteve subordinada à temática “Vamos falar sobre sexo com os nossos doentes: que abordagem?”, destacou a necessidade de existir uma disponibilidade temporal dos técnicos de saúde, que não se pode limitar “a uns meros 15 minutos”.

A sexualidade e o envelhecimento é, como mencionou, um tema que está mais liberto de tabus e preconceitos e é abordado com mais abertura a diversos níveis. “Mas como é que o médico fala de sexo às pessoas idosas?”, questionou. 

Segundo explicou, “o profissional deve estar à vontade com as temáticas da sexualidade. É importante que faça perguntas francas e diretas, sem rodeios nem metáforas; que tenha em atenção que sem questões não há respostas nem queixas; que perceba se há ou não atividade sexual e se esta é satisfatória; e que dê conselhos simples”.

O médico deve lembrar-se que “a doença física e mental e os seus tratamentos são os responsáveis por uma grande parte das dificuldades sexuais dos idosos e ter em atenção para não ser iatrogénico, através de Intervenções terapêuticas precipitadas e insensatas. O médico deve ser proativo no detetar de problemas, mas sem ser intrusivo, respeitando sempre as opções individuais de cada pessoa”.


Francisco Allen Gomes fez, ainda, referência ao aumento progressivo de pessoas heterossexuais com idade superior a 45 anos infetadas com o vírus.



Citando números a que teve acesso, salientou que 25% dos novos casos notificados ocorrem em pessoas com 50 anos ou mais e 6,5% em pessoas com mais de 65 anos. “Verifica-se, de facto, que a cada ano, há uma acentuação da tendência do envelhecimento da população infetada com VIH, sendo importante ter em atenção o grupo das pessoas com mais de 70 anos.”

Durante a sua apresentação, o psiquiatra focou vários estudos e salientou algumas datas históricas que, no seu entender, foram o início da revolução sexual, o aparecimento da infeção VIH/SIDA e a sua evolução até aos dias de hoje.

Fez referência aos primeiros ensaios da pílula, em Porto Rico, em 1956, e ao seu lançamento no mercado mundial, em 1960. “Isto é o início daquilo que veio a ser considerada uma revolução sexual, que teve a sua expansão sobretudo nos anos 60 e 70”, observa, lembrando que em 1980 apareceram os primeiros casos de SIDA nos EUA.

Segundo mencionou, com o aparecimento da doença, surgiram grandes desafios, que passaram por perceber se era possível manter e aprofundar a liberdade sexual e, ao mesmo tempo, prevenir a transmissão sexual da doença. Ou seja, qual seria a possibilidade de montar estratégias de prevenção sem colocar em causa a diversidade sexual e sem privilegiar o sexo relacional, relativamente ao ocasional.


“A epidemia trouxe consequências importantes, a generalização dos estudos epidemiológicos sobre o comportamento sexual, com instrumentos semelhantes em vários países, que permitiram fazer comparações que, até à data, eram impossíveis de efetuar”, indicou. E desenvolveu:

“Foi também graças à SIDA que foram implementados programas de educação sexual, com o objetivo do exercício de uma sexualidade responsável, dentro de uma paisagem marcada pela diversidade.



Artigo publicado na edição de maio do Jornal Médico, no âmbito de um Especial dedicado à 1.ª Reunião de 2016 da APECS - Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da SIDA.

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