«A versatilidade do anestesiologista em situação de catástrofe: tarefas que mostram o nosso valor»
Vítor Almeida
Anestesiologista do Centro Hospitalar Tondela-Viseu. Membro Gab. Crise Covid-19 da OM. Membro GT de Ensino e Simulação da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia. Presidente do Colégio da Comp. Emergência Médica da OM
A atividade do anestesiologista não consiste apenas na clássica anestesia ao doente que vai ser alvo de uma intervenção cirúrgica. As competências e áreas de abrangência deste especialista são muito mais diversificadas.
Durante estes últimos dois anos, a Anestesiologia teve de intervir em diferentes âmbitos, o que permitiu trazer ao de cima essas funções. Além de manter em funcionamento o Bloco Operatório de doentes covid e não covid, que é o seu core business, tem-se dedicado ainda aos Cuidados
Intensivos e a outras atividades.
Uma significativa resposta nestes Serviços deve-se aos anestesiologistas, alguns a trabalhar há muitos anos neste campo, outros que, nos piores momentos, foram recrutados por ter sido necessário ampliar a resposta à doença covid-19.
Outra área importante, que nunca pode ser secundarizada, é a atenção que se tem de dar à Emergência Pré-Hospitalar e Salas de Emergência e as transferências inter-hospitalares.
Vítor Almeida
São ao todo 44 VMER no país e 4 meios aéreos do INEM, nos quais exercemos, de norte a sul do país. A própria Medicina da Dor também continuou a funcionar com o nosso apoio e liderança.
O que se verificou especificamente no CH Tondela-Viseu é que foram alocados anestesistas em enfermarias, organizámos e liderámos ainda o hospital de campanha "Fontelo", dedicado a doentes covid, e que necessitavam de ser tratados, o que permitiu reduzir a pressão no CHTV, que chegou a triplicar o número previsto de infetados.
Falamos, assim, da clássica Medicina de Catástrofe, que teve uma forte componente liderada pela Anestesiologia, que no período de diminuição da atividade cirúrgica alocou recursos humanos em enfermarias covid.
Muitas tarefas e responsabilidades que mostram o nosso valor.
Quando os anestesiologistas asseguram posições de liderança, de coordenação e de planeamento num cenário macro e continuam a conseguir dar resposta a doentes covid e não covid (salas de parto, bloco operatório, emergência hospitalar, etc.) é porque temos total capacidade para trabalhar em variados cenários.
Esta é a grande mais-valia da Anestesiologia, uma especialidade que veio para ficar e que de certeza vai ter uma posição de maior destaque no futuro.
Em Portugal, surgiu um aparente divórcio entre a Medicina Intensiva e a Anestesiologia, o que não faz qualquer sentido. Devemos reforçar o nosso papel nos diversos campos de atuação, mas o ideal é manter uma boa colaboração e interligação entre ambas as especialidades, a bem do doente.