Opinião
Insuficiência cardíaca na Unidade mais Sentido: a inspiração da nova «filosofia do cuidar»
Luís Parente Martins
Coordenador da Unidade Mais Sentido, Hospital de Dia de Cuidados Paliativos de IC Avançada, Serviço de Cardiologia do CHULN
Sara Correia
Enfermeira coordenadora da Unidade Mais Sentido
Pode conhecer o trabalho da Unidade Mais Sentido numa reportagem da Just News AQUI.
Com o podcast de Valentin Fuster de julho de 2022, comentando um artigo do JACC (Journal of the American College of Cardiology), pensamos que se encerra uma década de incerteza quanto à pertinência dos cuidados paliativos na insuficiência cardíaca (IC), tornando, hoje, fútil advogar a sua utilidade.
Se a complexidade da IC é reconhecida por todos os cardiologistas, atendendo a tantas variáveis inerentes (fatores de risco, etiologias, formas de apresentação, intervenções terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas, comorbilidades, prognóstico…), torna-se agora mais evidente que esta complexidade é sempre subestimada e amputada.
Parece inconcebível, mas, no dia-a-dia da cardiologia, esquecemos que a IC acontece na Pessoa Humana, que, para além da dimensão física – fundamental na abordagem desta síndrome –, tem também dimensões psicológica, social, relacional e espiritual.
Ao pensar a IC torna-se evidente que, no decurso de uma doença incurável e grave, que influi na sobrevida, não se pode esquecer o impacto que esta síndrome provoca na vida toda do paciente, da sua família e cuidadores, causando depressão e ansiedade; altera papéis e estatuto social; modifica os relacionamentos na família e na sociedade e questiona o sentido da existência.
Luís Parente Martins e Sara Correia
Esta tendência de fragmentação da vida tornou-se num novo “ovo de Colombo” cuja resolução foi sugerida por Cicely Saunders, já há várias décadas, ao propor o conceito de Dor Total. Este conceito aponta para a confluência e interdependência das várias dimensões da doença.
Após anos de utilização desta nova “filosofia do cuidar” na pessoa com doença oncológica, estamos no tempo da sua aplicação na pessoa com doença de órgão crónica, grave e incurável, com os benefícios que esta abordagem holística, protagonizada por uma equipa multidisciplinar, aporta ao doente e seus cuidadores.
Existem muitos “barreiras” de maior ou menor dimensão, com maior ou menor suporte lógico, que impedem a implementação dos Cuidados Paliativos nos doentes com IC. Ultrapassar estas “barreiras” é o grande desafio que, profissionais de saúde, doentes, decisores políticos e sociedade em geral, todos temos de enfrentar e superar.
A Unidade Mais Sentido, aplica esta metodologia, no nosso CHULN, há mais de quatro anos, sendo pioneira nacional e internacional, na criação de uma equipa multidisciplinar que inclui cardiologistas e paliativista, mas sediada num serviço de cardiologia, sendo composta por conjunto de profissionais e consultores que se colocam ao serviço dos doentes com IC.
Pode conhecer melhor o trabalho da Unidade Mais Sentido numa reportagem da Just News AQUI.