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Opinião

AVC e o Congresso Português


Rui Cernadas

Vice-presidente do CD da ARS Norte



Rui Cernadas
Vice-presidente do CD da ARS Norte

Decorreu no Porto, nos primeiros dias de fevereiro, como todos os anos, o Congresso Português do AVC.

Falar deste Congresso é falar obrigatoriamente do papel do Professor Castro Lopes e da Sociedade que fundou e sediou no Porto, a Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral.

E um pretexto para lhe agradecer publicamente o esforço continuado de informação e educação para a saúde, bem como o empenhamento dedicado e pedagógico na formação de centenas de profissionais de saúde e de médicos, sobretudo dos jovens médicos que lhe enchem a sala, como nesta oitava edição do Congresso do AVC!

Uma palavra para o Professor José Manuel Ferro, o Presidente da Comissão Científica, obreiro igualmente de um programa de formação multidisciplinar ímpar.

O país conhece e mantém uma prevalência muito elevada de AVC e de diabetes. Falar nesta associação poderia parecer estranho, tendo em conta uma outra entidade, a hipertensão arterial, que um dos mais recentes estudos portugueses – o Estudo PHYSA, promovido pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão – aponta para uma prevalência de 42,2% na população adulta.

Esperamos, com ansiedade, pela prometida divulgação dos dados relativos a mais de três mil amostras, que permitirão compreender o papel da genética e complementarão o PHYSA…

Recordar que a hipertensão aumenta o risco dos eventos vasculares, incluindo em especial o AVC, é apenas sublinhar o seu peso etiológico na principal causa de mortalidade e de morbilidade nacionais.

Mas a prevalência da diabetes é assustadora e cresce ano após ano, sendo que os dados de 2012 apontam já para uma prevalência de 12,9%! Ora, a relação que estabelecemos entre a diabetes e o AVC assume o propósito de lembrar o que nos preocupa mesmo: mais de 1 em cada 4 pessoas internadas em Portugal com AVC, em 2012, eram portadoras de diabetes!

Não haverá orçamento que na Saúde chegue, seja em que país for, se não houver capacidade de prevenir as complicações e gerir por antecipação a evolução das doenças crónicas.

O peso das comorbilidades na hipertensão arterial, como na diabetes, significa que, medicamente, hoje, falar de alguém que é só diabético ou só hipertenso é uma pura ficção ou raridade de museu!

Medidas transversais de prevenção, como o controlo da pressão arterial, a evicção do tabagismo, a promoção do exercício físico numa perspetiva mais abrangente, que contribua igualmente para um bom e adequado controlo do peso, o tratamento da obesidade e, em especial, da obesidade visceral são alguns dos muitos exemplos do que pode e deve ser feito.

Mas que pode e deve ser feito, para uma boa eficiência, de um modo integrado, planeado, repetido e sistemático.

Basta de medidas avulsas ou dos rastreios popularuchos, mas ineficazes. É preciso um esforço concertado que envolva, naturalmente, a DGS e as ARS, através das suas unidades funcionais, quer da saúde pública, quer das USF e UCSP, e das URAP, em colaboração inevitável com a comunicação social generalista e as televisões, em particular.

Como digo sempre, em Portugal, não precisaríamos de falar da hipertensão, sabendo que quase metade de nós é hipertensa…

Mas temos que falar, porque a outra metade, ainda que o não seja, há de o ser…



Artigo publicado no jornal Médico de março 2014

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