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Opinião

«Colocar a Saúde Oral na agenda de Saúde Global»


Juan Manuel Frade

Diretor Geral da Align Technology de Portugal e Espanha



As doenças da cavidade oral estão entre as doenças não transmissíveis mais comuns em todo o mundo e podem surgir em todas as idades1. Segundo a Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), as doenças orais podem ter impactos variados, afetando as relações pessoais, a autoconfiança e até a própria alimentação, além de contribuir para o isolamento social.

Doenças como a periodontite podem aumentar o risco de diabetes, ataque cardíaco e cancro do pâncreas. É, por isso, fundamental manter a saúde da boca para que esta mantenha as suas funções e contribua para a saúde no geral.
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Além disso, apesar de problemas como os dentes desalinhados puderem ser vistos como puramente estéticos, as mal oclusões podem, por vezes, ser sinal de problemas mais graves. Por exemplo, o correto alinhamento da arcada dos dentes é importante porque quando os mesmos estão corretamente alinhados, as gengivas encaixam melhor à volta dos dentes e os pacientes podem ter uma melhor saúde oral.

A nível mundial, em 2022 estimava-se que existiam 3.5 mil milhões de pessoas com doenças orais e outros problemas na cavidade oral
3, e muitos deles possíveis de prevenir. Quando não tratadas, as consequências podem ser severas e ter impacto nas famílias, nas comunidades e nos sistemas de saúde a nível mais amplo. 

O impacto físico, emocional e socioeconómico das doenças orais  

Os tratamentos realizados por médicos dentistas são fundamentais para otimizar os cuidados prestados ao paciente. Trabalhar em estreita colaboração com os médicos dentistas para melhorar as práticas dentárias é crucial para transformar os sorrisos dos pacientes. Infelizmente, obter cuidados dentários prestados por um profissional não está acessível ou não é economicamente viável para todos, muitas pessoas não têm acesso a ferramentas, tratamentos e a formação que ajudam a prevenir uma má saúde oral.

Além de causar desconforto físico e emocional aos pacientes, os impactos das doenças orais representam um grande encargo nos sistemas de saúde em todo o mundo, uma situação potenciada pelo número de pacientes não tratados durante os últimos anos.
 

Salientar a necessidade de fazer ações arrojadas a larga escala  

As doenças orais são muitas vezes ofuscadas por outras questões de saúde, contudo a consciência sobre os impactos mais abrangentes de uma saúde oral deficiente e a necessidade de os abordar tem aumentado, conforme demonstrado pelo recente anúncio da Organização Mundial de Saúde com uma estratégia histórica sobre saúde oral4.

A sua nova visão apela a uma cobertura universal da saúde oral a nível mundial até 2030, também com o objetivo de quebrar as barreiras sociais e financeiras que impedem o acesso aos cuidados eficazes, e de combater os fatores de risco comuns das doenças orais. É certo que uma ação coordenada a nível global é necessária, mas os esforços concentrados e localizados para responder às necessidades dos pacientes também podem ter um impacto positivo no terreno.
 


Juan Manuel Frade

Apoiar as necessidades dos pacientes mais vulneráveis  

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS)5, os custos com a saúde oral podem ser uma grande barreira ao acesso a cuidados, razão pela qual é importante identificar e disponibilizar aos pacientes com deformidades orais uma oportunidade de alcançar o sorriso que sempre desejaram. Disponibilizar tratamentos através de campanhas de beneficência é uma maneira que os médicos ortodontistas têm de poder ajudar os pacientes e retribuir à comunidade.

Estes tratamentos são disponibilizados a pacientes com problemas maxilo-faciais – problemas relacionados com a região da mandíbula e do rosto que podem revelar o tratamento dentário um verdadeiro desafio. Apesar da ideia de que o alinhamento dos dentes é feito simplesmente por razões estéticas, este representa uma parte essencial da saúde e do bem-estar e desempenha um papel relevante numa efetiva higiene oral.
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É igualmente importante que os médicos dentistas sejam apoiados para disponibilizar tratamentos dentários para os indivíduos mais vulneráveis, que não têm oportunidade de aceder aos apropriados serviços de medicina dentária com os requeridos ajustamentos específicos, quer seja porque não podem colocar aparelhos ou porque não conseguem pagar o custo do tratamento. Proporcionar formação contínua aos profissionais de medicina dentária é fundamental para resolver estes aspetos na prática e satisfazer as necessidades dos pacientes vulneráveis. 

Combater as desigualdades na saúde 

Apesar dos promissores avanços no campo dos cuidados de saúde nas últimas décadas, as desigualdades na saúde ainda existem, são ainda muitos os que não conseguem aceder aos cuidados que necessitam. Contudo, devido ao trabalho de muitas organizações em todo o mundo, estamos a combater estas desigualdades – incluindo aquelas que afetam a saúde oral – um passo de cada vez.

Por exemplo, a Operation Smile, uma organização médica global sem fins lucrativos, tem feito centenas de milhares de cirurgias gratuitas a pessoas que nascem com fenda palatina ou fenda labial em países de baixos e médios rendimentos. Juntos, acreditamos num futuro onde a saúde e a dignidade são melhoradas através de cirurgias seguras – em concordância com a nossa missão de transformar sorrisos e mudar vidas.
 

Manter um sorriso saudável e alinhado devia ser uma parte importante da rotina de cuidados de saúde de todos uma vez que uma boa saúde oral é fundamental para uma boa qualidade de vida. Há uma clara necessidade de dar um apoio maior a quem tem dificuldade de acesso em obtê-lo. Juntos com os conhecimentos de médicos dentistas temos o compromisso de criar um futuro onde é dada prioridade à saúde oral de cada pessoa.  


(1) OMS (2022) Estratégia global sobre saúde oral adotada na Assembleia Mundial da Saúde 75 Landmark global strategy on oral health adopted at World Health Assembly 75 (who.int)
(2) OMD, Como viver com uma boca saudável ao longo da vida (omd.pt)
(3) OMS (2022) Saúde Oral (who.int)

 

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