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Opinião

Como deverá um sistema de CSP operar no século 21?


Luís Pisco

Vice-presidente do Conselho Diretivo da ARSLVT



Luís Pisco
Vice-presidente do Conselho Diretivo da ARSLVT

No editorial do passado dia 26 de julho da prestigiada revista The Lancet lê-se que desde a definição de cuidados de saúde primários, estabelecida em Alma-Ata, em 1978, que não havia tanta procura sobre a melhor forma de fornecer um sistema de primeiro contacto que seja justo, equitativo, acessível, eficaz, sustentável e, sobretudo, que melhore a saúde e o bem-estar da população que serve.

Na opinião do editor, parte desta atenção renovada nos CSP resulta do sentimento generalizado, em particular nos países mais ricos, de uma crise iminente, com médicos de família insuficientes, uma carga de trabalho cada vez mais insustentável, subfinanciamento por parte dos governos, fragmentação entre serviços primários, secundários e terciários e uma população com perfis de risco e cargas de doença em permanente alteração.

A questão que se coloca é: Como deverá um sistema de CSP operar no século 21?

Parte da resposta pode ser encontrada num relatório de um painel de peritos da União Europeia divulgado a 10 de julho deste ano sobre formas efetivas de investir na saúde. O parecer do Painel de Especialistas considera os CSP como a prestação de cuidados universalmente acessíveis, integrados, centrados nas pessoas. São serviços de saúde globais, de âmbito comunitário, prestados por uma equipa de profissionais capazes de abordar a grande maioria das necessidades de saúde das pessoas. Estes serviços são prestados em parcerias com as pessoas e cuidadores informais, no contexto da família e da comunidade, e desempenham um papel central na coordenação e na continuidade dos cuidados prestados aos cidadãos.

Os profissionais que atuam nas equipas de cuidados primários incluem, entre outros, dentistas, nutricionistas, médicos de família, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, optometristas, farmacêuticos, fisioterapeutas, psicólogos e assistentes sociais.

O painel de especialistas salienta que sistemas de CSP fortes contribuem para a equidade e para melhores resultados de saúde, mas enfatizam que os cuidados primários precisam de evoluir continuamente se pretendem responder às mudanças e desafios da sociedade.

O editorial chama ainda a atenção para o documento inglês “Nós somos Cuidados Primários”, recentemente divulgado e onde se refere que a maneira colaborativa de trabalho nos cuidados primários deve ser incentivada e que o tempo do médico de família isolado está
ultrapassado e acabou.

O atual sistema de cuidados primários na Inglaterra está longe desta colaboração e um estudo recente, abrangendo mais de 2400 pessoas, identificou uma clara necessidade de ajudar as pessoas a compreender que os cuidados primários são cuidados de saúde prestados fora do hospital por uma gama de profissionais competentes e qualificados que não são apenas médicos ou enfermeiros e que inclui farmacêuticos comunitários, técnicos de farmácia, dentistas e optometristas, que estarão numa posição excelente para, de forma amigável e com fácil acesso, dar conselhos para males menores e muitas condições de longo prazo.

Defendem ainda que as fronteiras entre cuidados primários e secundários precisam ser repensadas. Tem de haver uma colaboração mais estreita entre os dois tipos de cuidados, quer fisicamente, quer através de estruturas de gestão e de financiamento, tendo o cidadão como foco central e mais importante.

Fazem um apelo e afirmam que os cuidados primários precisam ser reformulados se querem realmente funcionar como o pilar mais importante da saúde centrada nas pessoas e no bem-estar no século 21.

Num recado para o Royal College of General Practitioners, afirmam que as Lideranças dos Cuidados de Saúde Primários precisam acordar e começar uma revolução.



Artigo publicado na edição de outubro do Jornal Médico.

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