Opinião
Integrar a dieta, a atividade física e os programas de controlo de peso nos cuidados de saúde primários
Luís Pisco
Vice-presidente do Conselho Diretivo da ARSLVT.
A obesidade e os estilos de vida associados continuam a ser um problema de importância crescente a nível mundial. A Europa é gravemente afetada pelas doenças não transmissíveis, que representam 77% da carga de doença e quase 86% da mortalidade prematura.
As recomendações globais para a prevenção e controlo da epidemia de doenças não transmissíveis sugerem um conjunto abrangente de atividades, tanto a nível individual como da população em geral, de molde a reduzir e controlar os principais fatores de risco.
As atividades vão desde a promoção e proteção da saúde a nível populacional, como a regulação dos conteúdos de sal e de açúcar nos alimentos processados, até à realização de atividades de prevenção de doenças para indivíduos de alto risco, incluindo estratificação de risco e aconselhamento individual nos CSP. O objetivo combinado é diminuir a progressão natural dos fatores de risco comportamentais e metabólicos das doenças não transmissíveis.
O foco deste documento recentemente divulgado pela OMS é a avaliação dos desafios e oportunidades para implementar uma das recomendações da OMS para a prevenção e controlo das doenças não transmissíveis, ou seja, a prestação de serviços individuais a doentes de alto risco em CSP. Os CSP desempenham um papel crucial na prestação de serviços para promover dietas saudáveis, envolver os indivíduos na atividade física e ajudar as pessoas no controlo de peso.
Os países da Região Europeia da OMS comprometeram-se com estas recomendações, adotando o Plano de Ação Europeu de Alimentação e Nutrição 2015-2020 e a Estratégia de Atividade Física 2016-2025, ambos salientando a importância dos CSP.
No entanto, os dados nacionais mostram que o aconselhamento sobre dieta, atividade física e controlo de peso é, na generalidade, insuficiente em termos de cobertura e qualidade.
Este importante documento resume as evidências sobre a efetividade dos serviços para promover o aconselhamento sobre dieta, atividade física e controlo de peso oferecidos nos CSP e fornece uma análise estruturada das razões para que esta prestação de serviços seja insuficiente.
O documento fornece opções para transformar as políticas dos serviços de saúde dos diferentes países, visando melhorar a cobertura e a qualidade dos serviços de aconselhamento sobre dieta, atividade física e controlo de peso nos CSP, de acordo com o quadro europeu de ação sobre a prestação integrada de serviços de saúde.
A evidência mostra que os serviços de aconselhamento sobre dieta, atividade física e controlo de peso oferecidos nos CSP são efetivos na redução de peso, em conseguir níveis crescentes de atividade física e facilitando a mudança para uma dieta mais saudável.
Serviços abrangentes que abordam simultaneamente a dieta e a atividade física são mais efetivos do que serviços separados; a inscrição em médicos de família e o acompanhamento rotineiro por enfermeiros e profissionais de saúde produz melhores resultados de saúde do que os serviços que dependem apenas de consultas médicas tradicionais; que o apoio de autogestão, como em grupos de pares e intervenções baseadas na internet, é fundamental para aumentar a adesão das pessoas.
Os serviços de aconselhamento sobre dieta, atividade física e controlo de peso oferecidos nos CSP devem ser cuidadosamente selecionados, devem aproveitar todas as oportunidades para abordar o tema, estar alinhados com as normas de orientações clínicas e ser muito claro o papel de cada um dos diferentes prestadores de CSP.
Além disso, as transformações devem incluir o apoio à utilização da tecnologia e a adoção de modalidades de prestação de serviços que encorajem os pacientes a usar o apoio dos pares e os autocuidados.
Para assegurar a sustentabilidade e a adoção generalizada dessas reformas, a transformação do sistema de saúde deve estar alinhada com o planeamento dos recursos humanos da saúde e o estabelecimento de parcerias com outros setores. É mais um excelente documento da OMS, numa área de enorme importância e que merece uma análise cuidada.
Artigo publicado na edição de janeiro do Jornal Médico.