Opinião
Os futuros sistemas de saúde
Luís Pisco
Vice-presidente do Conselho Diretivo da ARSLVT
Luís Pisco
Vice-presidente do Conselho Diretivo da ARSLVT
Nos últimos anos, a sustentabilidade tem sido uma preocupação generalizada dos sistemas de saúde. Em 2006, no seu livro Redefining Health Care, Michael Porter alertava para o facto da prestação de cuidados de saúde estar em rota de colisão com aquilo que eram as necessidades dos doentes e a realidade económica.
Muito antes da atual crise económica, a ideia era que a maioria dos países não tinha recursos para manter os seus sistemas de saúde.
Mais recentemente, um estudo da consultora McKinsey, elaborado para o Fórum Mundial de Davos, afirma que, se nada for feito, em 2040, a Holanda (um dos sistemas de saúde mais eficiente e bem organizado a nível mundial) gastará um quarto do PIB e ocupará um quarto da sua população ativa na saúde, o que é insustentável.
Em Portugal, uma das preocupações recorrentes é o facto de tudo apontar para que a nossa população seja cada vez menor e mais velha. Segundo as projeções do Eurostat, em 2040, seremos o País mais envelhecido da União Europeia e até 2060 a população portuguesa perderá quase dois milhões de indivíduos, segundo projeções do INE.
Esta situação não é, obviamente, uma tragédia, pelo contrário, é o resultado de apostas que tiveram sucesso e são, por isso, verdadeiras conquistas civilizacionais.
A demógrafa Maria João Rosa, no seu livro Envelhecimento da Sociedade Portuguesa chama a atenção para o facto de que os idosos do futuro serão diferentes dos atuais. Serão mais escolarizados, mais próximos das novas tecnologias, saberão que vão viver mais tempo e não fará sentido que, aos 65 anos, deixem de ser interessantes para a sociedade.
As pessoas vão viver mais tempo e têm de se preparar para isso, pois, o futuro continua depois dos 65 e a organização da nossa vida em três fases, a da formação, a da atividade e a da reforma, terá que ser repensada. O que vamos fazer com o nosso bónus de vida? Serão necessárias soluções diferentes e talvez tenhamos de ter várias carreiras, ao longo da nossa vida, como defendia Peter Drucker, no final do século XX, pois, o futuro continua depois dos 65 anos.
Os futuros sistemas de saúde serão influenciados por uma série de fatores que estarão fora do controlo dos seus responsáveis. Num estudo coordenado pela McKinsey e elaborado para o Fórum de Davos, foram feitas mais de 100 entrevistas a peritos e foram organizados vários workshops, tendo sido identificadas seis incertezas críticas que poderão alterar significativamente o contexto e a forma como os sistemas de saúde operarão no futuro:
Atitudes em relação à solidariedade:
Será que a solidariedade – a disposição dos indivíduos para compartilharem os riscos de saúde da população – aumentará, diminuirá ou estará condicionada a certos fatores?
Origens da governação: Será que o poder e a autoridade estarão predominantemente localizados a nível nacional, supranacional ou local?
Organização do sistema de inovação em saúde: Será que a inovação vem de dentro ou de fora do sistema existente? Qual será o nível de financiamento? Quais serão os tipos de inovação produzidos?
Acesso à informação em saúde:
Quem vai assumir a responsabilidade de recolher e analisar os dados de saúde? Será que as pessoas darão o seu consentimento para que os dados pessoais possam ser utilizados?
Influência sobre os estilos de vida: Até que ponto a influência ativa sobre os estilos de vida individuais vai ser aceite e implementada?
Cultura de Saúde: Uma vida saudável será uma escolha minoritária, um dever cívico ou uma aspiração?
São aspetos que merecem uma profunda reflexão.