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Opinião

Osteoporose: «Na prevenção de fraturas é fundamental a avaliação do risco de queda»


Lia Marques

Internista com competência em Geriatria pela OM. Co-coordenadora da Unid. Ortogeriatria do H. Beatriz Ângelo. Secretária da coordenação do Núcleo de Estudos de Geriatria da SPMI



O envelhecimento da população contribuiu para o aumento da prevalência de osteoporose (OP). As quedas são uma das principais síndromes geriátricas: 1 em cada 3 adultos com > 65 anos, da comunidade, tem, pelo menos, 1 queda por ano. 10% das quedas complicam-se com lesões graves. As quedas são multifatoriais e preveníveis, através da abordagem dos seus fatores de risco.

A OP e as quedas no idoso aumentam com a idade, são mais prevalentes nas mulheres e são fatores de risco para fraturas que condicionam compromisso funcional e da qualidade de vida. Acarretam elevados custos sociais e aumento dos gastos em saúde. A OP é um dos fatores de risco para quedas. Esta relação tem sido atribuída a alterações do equilíbrio e da força, condicionando maior instabilidade da marcha nos idosos com OP.

A definição de OP da Organização Mundial de Saúde é um índice T < -2,5 na absorciometria radiológica de dupla energia (DEXA) da coluna lombar ou do colo femural. O objetivo da intervenção clínica na OP não é a determinação da densidade mineral óssea (DMO), mas sim a prevenção de fraturas de fragilidade (FF).

Na prevenção de FF é fundamental a avaliação do risco de queda. A história prévia de quedas e a instabilidade da marcha são os dois fatores de risco mais determinantes nesta avaliação.


A sua presença implica uma avaliação multifatorial do risco de queda, que inclui: revisão da terapêutica farmacológica, identificação e correção de défices sensoriais, avaliação neurológica e cardiovascular, identificação e correção de fatores de risco ambientais e a abordagem das restantes síndromes geriátricas (compromisso cognitivo e funcional, depressão, incontinências, desnutrição, iatrogenia, isolamento social e fragilidade).


Lia Marques

O medo de voltar a cair ocorre em 40 a 60% dos idosos após uma queda. Associa-se a restrição da atividade física e contribui mais para a perda de autonomia do que as lesões traumáticas secundárias à queda.

A intervenção terapêutica das quedas e da OP nos idosos baseia-se em planos integrados de cuidados, multidimensionais: intervenção nutricional, programas de exercício personalizados, incluindo treino cardiovascular, de postura e equilíbrio, fortalecimento muscular, acompanhamento psicológico e social. Para prevenção de quedas e fraturas está recomendada a suplementação com vitamina D, sobretudo em idosos residentes em instituições.

Para identificar os doentes que beneficiam de terapêutica farmacológica para a OP existem vários instrumentos de estratificação do risco de FF. A versão portuguesa da Fracture Risk Assessment Tool (FRAX®) é o instrumento recomendado para guiar esta decisão. Os fármacos de primeira linha são os bifosfonatos orais.

A terapêutica farmacológica deve ser iniciada em todos os doentes idosos com, pelo menos, um dos seguintes 4 critérios: ≥ 1 FEPF ou ≥ 1 fratura vertebral de fragilidade sintomática; ≥ 2 FF, independentemente da localização ou sintomas; FRAX®Port, sem DEXA ≥ 11% para fratura osteoporótica major (FOM) ou ≥ 3% para FEPF; FRAX®Port, com DEXA ≥ 9% para FOM ou ≥ 2.5% para FEPF.




Publicações recentes relacionam o conhecimento do diagnóstico de OP com as quedas. Alguns autores postulam que o conhecimento do diagnóstico de OP, independentemente da extensão da doença, leva a limitação autoimposta na atividade física com descondicionamento, aumentando o risco de queda.

Devemos ser cautelosos na informação veiculada aos idosos, pois, a ênfase excessiva no risco de queda associado ao diagnóstico de OP pode resultar em iatrogenia não farmacológica, aumentando o medo de cair e as suas alterações comportamentais.



Artigo publicado no Jornal Médico de setembro 2021, no âmbito de um Especial Curso Pós-Graduado sobre Envelhecimento.

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