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Opinião

Satisfação no trabalho nos ACeS


André Biscaia

Médico de família na USF Marginal. Doutorado em Políticas de Saúde e Desenvolvimento pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical – UNL



André Biscaia
Médico de família na USF Marginal.
Doutorado em Políticas de Saúde e Desenvolvimento pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical – UNL

O trabalho tornou-se algo tão identitário como o apelido ou a nacionalidade. Esta constatação e a disseminação da crença de que o trabalho nos deve fazer felizes, dar satisfação, alteraram a nossa atitude em relação ao trabalho. A satisfação no trabalho pode ser definida como a atitude do indivíduo em relação ao seu trabalho e às condições em que este é desempenhado. O trabalho, esse, surge de uma relação entre um indivíduo e o seu capital humano, com uma organização.

Ao trabalhar numa organização, cada pessoa disponibiliza este seu capital humano em troca de uma retribuição, sendo esta interação o que torna possível a produção e criação de valor nas organizações, tornando-as mais aptas a atingir os seus objetivos.

O ideal é uma situação em que todos ganham. Foi isso que possivelmente pensaram os legisladores quando escreveram a Lei de Bases de Saúde, que estabelece que o SNS “está sujeito a avaliação permanente”, segundo quatro dimensões, sendo uma delas “o nível de satisfação dos profissionais”.

No entanto, a realidade atual, e desde sempre, são avaliações pontuais, raras e não integradas. Contudo, um dos objetivos da Missão para os CSP na Reforma de 2005 foi, entre outros, aumentar a satisfação de profissionais e utilizadores.

A explicação para este foco na satisfação no trabalho pode encontrar-se nas variáveis com que esta está correlacionada:
– (positivamente) motivação, comportamento de cidadania organizacional, desempenho no trabalho, satisfação com a vida em geral e saúde mental; e
– (negativamente) absentismo, falta de pontualidade, doenças cardíacas, abandono da organização e stresse percebido.

Num estudo que realizei com médicos de família, apurou-se uma correlação positiva entre a satisfação no trabalho individual e a do conjunto dos médicos dos centros de saúde, verificando-se, ainda, associações com o estado de degradação dos edifícios dos centros de saúde, os rácios médico/enfermeiro, utentes/médico ou número de médicos por gabinete de consulta, salientando a importância dos contextos de trabalho.

Por outro lado, registaram-se correlações positivas com a autoapreciação do estado de saúde dos médicos, tornando a satisfação no trabalho, também, vital. Maior satisfação estava, igualmente, associada a menores cognições de saída da profissão, da carreira e do centro de saúde. Todos estes aspetos têm impacto na vida pessoal e profissional de cada indivíduo e grande importância para a qualidade do serviço e para a retenção dos profissionais.

A satisfação no trabalho é, portanto, importante para o desempenho das unidades de saúde, com ganhos para todos – usufrutuários, políticos, gestores e prestadores.


Artigo publicado na edição
de junho do Jornal Médico.

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