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Opinião

Seguimento de doentes com demência: «Articulação entre especialidades é fundamental»


Inês Laranjinha

Neurologista, CH Universitário do Porto



A doença de Alzheimer e outras demências representam um problema de saúde pública, de prevalência crescente, com consequências quer a nível individual, quer familiar e na sociedade.

Os estudos mais recentes demonstram que o número de pessoas com demência em todo o mundo mais do que duplicou nas últimas décadas, com elevada morbilidade e mortalidade associadas. O consequente impacto sobre os sistemas de saúde do presente e, sobretudo, do futuro requer uma articulação estreita entre cuidados de saúde primários e consulta hospitalar de Neurologia.

Na avaliação inicial de queixas cognitivas em consulta de Medicina Geral e Familiar existem sinais de alarme na anamnese que podem sugerir uma doença neurodegenerativa. Estes incluem noção de progressão das queixas, importante perda funcional, falhas em compromissos de responsabilidade e preocupação/sinalização por parte de terceiros.

Os casos de possível défice cognitivo beneficiam da realização precedente de exames complementares de diagnóstico, como a tomografia computorizada cerebral e estudo analítico (com função tiroideia, VDRL, vitamina B12 e ácido fólico), que muito auxiliam a avaliação na consulta de Neurologia. Possíveis confundidores como perturbação de humor, sono ou ansiedade, que podem conduzir a dificuldades mnésicas e de raciocínio, devem ser igualmente identificados e, se possível, corrigidos.

O tipo de referenciação hospitalar depende das especificidades do doente.

Uma suspeita de défice cognitivo em idade jovem, com história familiar positiva, quadro clínico atípico ou dúvida diagnóstica deverá ser encaminhada a consulta de Doenças Neurodegenerativas.


Inês Laranjinha

Nesta consulta de subespecialidade, é revista a anamnese detalhada com acompanhante, história médica, medicamentosa e familiar; o exame neurológico engloba um teste de rastreio cognitivo; é verificada a exclusão de causas tratáveis de demência.

Atualmente, não existe ainda tratamento modificador de doença na demência, apesar da profícua investigação passada e em curso. Na doença de Alzheimer, em particular, estão em desenvolvimento ensaios clínicos com mais de uma centena de fármacos, com distintos mecanismos de ação.

Em conclusão, a resposta dos cuidados de saúde ao aumento no número de doentes com demência depende de uma observação cuidadosa nos cuidados primários, agilização na referenciação à consulta hospitalar de Neurologia/Neurodegenerativas.

A articulação entre especialidades no seguimento destes doentes é fundamental, especialmente com a expectativa de futuros tratamentos destas patologias, até ao momento inexoravelmente progressivas.


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