USF Arca d`Água: unidade ambiciona transitar para modelo B
Com a entrada em funcionamento da USF Arca d’Água, sediada em Paranhos, no Porto, há quase dois anos, mais 6250 pessoas passaram a ter médico de família. Atualmente, o grande objetivo desta unidade é conseguir passar a modelo B. A candidatura já foi feita, aguardando-se, com expectativa, o resultado.
A ideia de criar a USF Arca d’Água nasceu na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) Vale Formoso II. Em entrevista ao Jornal Médico, Felicidade Malheiro, que na altura dirigia a UCSP e que atualmente é coordenadora da USF, conta que a vontade que sentia em constituir uma unidade de saúde familiar era partilhada por diversos elementos do grupo e que agora integram a equipa da USF.
A designação da unidade tem uma história. De acordo com a nossa interlocutora, havia um secretário clínico na UCSP que fazia questão que fosse criada uma USF. Até que um dia colocou no consultório de Felicidade Malheiro um papel onde estava escrito ‘USF Arca d’Água’. A responsável gostou do nome e quando se constituiu a USF propôs esta designação à equipa, que aceitou.
A Arca d’Água é um jardim localizado no centro da Praça de 9 de abril, na cidade do Porto, que deve o seu nome aos reservatórios das águas de Paranhos (Arca D’Água) que foram o sustento de muitas fontes e chafarizes do Porto, até finais do século XIX.
A unidade entrou em funcionamento a 2 de abril de 2012, com uma equipa constituída por sete médicos, sete enfermeiros e cinco secretários clínicos, tendo passado para seis o número de secretários clínicos em junho de 2013.A USF Arca d’Água abrange 11.591 utentes. Três dos médicos que pertencem à equipa vieram de outras unidades e, com uma média de 1750 utentes por lista, absorveram cerca de 5250 utentes sem MF. O alargamento das listas dos outros quatro clínicos já a trabalhar em Paranhos permitiu abranger mais mil utentes a descoberto, o que significa um ganho total de 6250 mil utentes. “Todos têm médico de família atribuído”, indica Felicidade Malheiro, salientando que o compromisso assistencial ainda não foi atingido, havendo ainda vagas para a inscrição de novos utentes.
Disponibilidade, equidade e respeito pela pessoa são os três valores pelos quais a unidade se orienta. A sua missão é dar resposta às necessidades em saúde e às expectativas dos utentes, de uma forma organizada e com elevados padrões de qualidade técnico-científica e aos melhores níveis de eficiência, de forma a contribuir para a maximização dos “ganhos em saúde”, e prestar cuidados de saúde personalizados, globais, adequados, acessíveis, continuados e equitativos.
Localizada num edifício partilhado com o ACES Porto Oriental, a Unidade de Apoio à Gestão (UAG), uma unidade de saúde pública e uma unidade de cuidados continuados (UCC), a USF dispõe de 10 consultórios médicos, dois dos quais destinados apenas à saúde da mulher e à saúde infantil, quatro consultórios de enfermagem, quatro salas de tratamento, uma sala de backoffice, um armazém de consumíveis e uma sala de arquivos clínicos.
Evolução permitiu candidatura a modelo B
Na opinião de Felicidade Malheiro, na altura em que a unidade foi criada as pessoas que a constituíam eram um grupo, mas atualmente formam uma equipa. “Ainda estamos em fase de maturação, no entanto, somos uma equipa muito trabalhadora, que não olha a esforços para atingir os objetivos”, salienta.
Embora considere que seja cada vez mais difícil passar a modelo B, devido à implementação dos numerus clausus e à conjuntura em que vivemos, a responsável adianta que esse é, atualmente, o principal objetivo da unidade. A candidatura foi apresentada e está para breve a auditoria que, espera a coordenadora, determinará a passagem a modelo B.
A unidade disponibiliza uma carteira básica de serviços a grupos vulneráveis, que inclui as consultas de planeamento familiar, saúde materna e saúde infantil; a grupos de risco com consultas de diabetes e hipertensão; além de consultas de saúde de adultos e vigilância oncológica.
É feita também visitação domiciliária em situações de utentes com dependência temporária ou permanente e existe ainda uma consulta aberta que funciona das 8.00h às 20.00h e que se destina à resolução no próprio dia de situações de doença aguda.
A USF tem como ambição alargar os serviços que presta. No entanto, Felicidade Malheiro entende que, em primeiro lugar, é necessário que a unidade “estabilize” para depois avançar. “Há muito trabalho que se pode desenvolver em cuidados de saúde primários, embora, ao contrário do que acontecia antigamente, neste momento, não exista a possibilidade de contratualizar carteiras adicionais de serviços. Ainda assim, podemos melhorar”, refere, recordando que a unidade ainda nem sequer completou dois anos.
O logótipo da unidade (hélice azul, verde e lilás) simboliza o espírito que ali se vive. “Somos três grupos de profissionais que trabalham de forma concertada, autónoma e responsável, tal como a hélice de um barco na água o faz flutuar e avançar com segurança.”
Ganhos em saúde são notórios
Para Felicidade Malheiro, a abertura da USF trouxe grandes vantagens, sobretudo para os utentes. “Antigamente, eles vinham para a unidade muito cedo para conseguir uma consulta. Neste momento, as pessoas vêm à hora que abre o serviço (8.00 h), pois, sabem que têm garantia de atendimento ao longo do dia.” Adicionalmente, refere, “a equipa está mais empenhada porque, além de sentir como se a ‘casa’ fosse sua, tem metas que se propôs atingir quando contratualizou os serviços”.
E os ganhos em saúde têm sido evidentes. Há uma evolução francamente positiva em todos os indicadores de desempenho técnico-científico, no acesso e também no desempenho económico. Por exemplo, em 2011, antes da entrada em funcionamento da USF, apenas 45,8% de utentes iam à primeira consulta antes dos 28 dias de vida, um dos critérios de qualidade em saúde, e agora isso acontece em 97% dos recém-nascidos.
Outro dos indicadores que demonstra os bons resultados que têm sido alcançados prende-se com os rastreios oncológicos. Em 2011, apenas 17% das mulheres entre os 25 e os 64 anos estavam rastreadas para o cancro do colo do útero por colpocitologia, e, atualmente, e em menos de 2 anos, 62% das mulheres que se situam nesta faixa etária têm o seu rastreio efetuado. Por outro lado, apenas 7,4% da população fazia o rastreio do cancro colorretal, enquanto, presentemente, 57% da população está rastreada. E, “seja qual for o indicador de saúde avaliado, a evolução é sempre positiva e considerável, o que, inevitavelmente, traz mais e melhor saúde a todos os utentes a quem dedicamos o nosso trabalho e empenho”.
A gestão dos indicadores financeiros tem sido um dos maiores desafios para a USF Arca d’Água. “A ideia é gastarmos sempre menos. Nesse sentido, o valor que contratualizamos é sempre mais baixo. Por outro lado, não é um indicador que depende apenas do nosso esforço e capacidade de trabalho. Somos nós que prescrevemos os medicamentos, mas não somos nós que fazemos os preços.
Adicionalmente, há também a prescrição por DCI, que tem algum cunho de quem está na farmácia a disponibilizar o medicamento”, menciona Felicidade Malheiro.
Na opinião da coordenadora da unidade, atualmente, os utentes estão muito mais acompanhados. “O facto de existir uma contratualização faz com que a equipa esteja constantemente atenta e com maior responsabilidade. Apesar de exigir um maior esforço da nossa parte, este modelo organizacional é muito mais satisfatório em termos de realização pessoal”, observa, acrescentando que é feito também um maior esforço no sentido de motivar o utente a comparecer às consultas e de o responsabilizar também pela sua saúde, para que ele seja parceiro no seu tratamento.
A reportagem pode ser lida na íntegra (em pdf) aqui.