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Consulta do Farmacêutico apoia utentes idosos e polimedicados na USF São João do Estoril

Sacos ou gavetas cheias de caixas de medicamentos, alguns fora do prazo de validade, ou apenas com blisters soltos, são imagens comuns para Cláudia Elias, uma das farmacêuticas que integram a equipa da Farmácia, no âmbito do projeto “Gestão do risco e otimização da polimedicação no doente idoso”, da ARS Lisboa e Vale do Tejo.

Após um percurso de vários anos ligada à Farmácia Hospitalar, aquela profissional aceitou o desafio de se mudar para os cuidados de saúde primários, com o objetivo de integrar a equipa de família da USF São João do Estoril, mas não só.


USF São João do Estoril

“O projeto da ARS, que conta comigo e com mais 4 farmacêuticos – para além de todos os que estão na retaguarda –, tem como objetivo apoiar os mais idosos que, regra geral, são polimedicados e com baixa literacia. Começámos por esta unidade, tendo-se seguido a USF Marginal e a UCSP Sete Rios. Atualmente, já temos pedidos de outras unidades, com as quais ainda não colaboramos apenas por causa da pandemia.”

Cláudia Elias não podia estar mais satisfeita com a experiência que tem vivido na USF São João do Estoril: “Tanto eu como a minha colega Miriam Silva, que foi quem iniciou a Consulta do Farmacêutico, fomos muito bem recebidas e sentimo-nos sempre integradas na equipa.”

Esse trabalho multidisciplinar foi bem visível antes da pandemia, quando os médicos pediram a presença de um farmacêutico nas visitas domiciliárias. “Fomos a casa de alguns idosos polimedicados que precisavam de apoio e, numa das situações, contámos ainda com a enfermeira de família, o que foi muito interessante para nós e até para o filho do utente, que não imaginava que houvesse esta possibilidade na USF”, revela Cláudia Elias.


Cláudia Elias

O principal problema relativo à polimedicação tem que ver, precisamente, com a toma incorreta dos fármacos: “São muitos, com caixas diferentes, cores diversas... Os utentes que têm menos escolaridade estão habituados às cores das caixas, mas com o surgimento dos genéricos a situação complicou-se, por causa das embalagens, que mudam consoante o laboratório, apesar de a substância ativa ser a mesma.”

Nalguns casos, a situação pode ser ainda mais caótica e, de alguma forma, pôr em causa a saúde do doente. “Nos domicílios, encontrámos casos de pessoas que acumulavam medicamentos e que, quando os juntávamos, enchiam uma mesa da sala. Muitos desbliterados, outros fora do prazo de validade, noutros nem sequer se percebia a data de validade...”, pormenoriza a farmacêutica.

Face a estas limitações, o que se pretende com o projeto da ARSLVT é que os médicos e os enfermeiros de família possam referenciar o utente para uma consulta com o farmacêutico. “Nas consultas programadas do médico e do enfermeiro nem sempre é possível dispor de tempo para explorar todas estas relevantes questões”, refere Cláudia Elias, acrescentando:

“O meu papel é pedir ao utente que traga todas as caixas para, em conjunto, o ajudar a gerir melhor a sua medicação, além de poder detetar alguma sobreposição de terapêuticas ou a necessidade de desprescrição ou de reajuste. Nestes últimos casos, as alterações são decididas, obviamente, com a restante equipa de saúde."


Cláudia Elias com Bárbara Carvalho, diretora executiva do ACES Cascais, e Daniela Boleto, coordenadora da USF São João do Estoril

Como refere, “os casos mais frequentes são o uso prolongado e desnecessário de benzodiazepinas e de inibidores da bomba de protões. No primeiro, a indicação é para se tomar durante determinado período de tempo, a partir do qual se deve fazer o desmame, para se evitarem efeitos secundários que podem ser graves em idade mais avançada. É o caso das quedas. Mas isso nem sempre acontece”.

Apesar do projeto se destinar, num primeiro momento, aos idosos polimedicados, a farmacêutica não descarta ninguém. “Se um jovem asmático tiver dificuldades em utilizar de forma correta o inalador também é ajudado”, garante.

Para Cláudia Elias, o projeto tem sido “um enorme desafio” e ainda bem. “Há muito que faziam falta farmacêuticos nos CSP que pudessem fazer parte da equipa multidisciplinar”, afirma.

E espera que as consultas, realizadas agora por telefone, passem a ser presenciais. "Assim a pandemia o permita".


Elementos da equipa de profissionais da USF São João do Estoril

Diversidade e complementaridade em vários projetos

A presença de um farmacêutico não é habitual numa equipa de saúde da família, mas para Daniela Boleto, coordenadora da USF São João do Estoril, isso não foi um problema: “Trabalhamos muito bem de forma pluridisciplinar e aceitou-se de imediato este projeto da ARSLVT."

As principais mais-valias são, sobretudo, “a orientação que é possível dar aos mais idosos e aos seus cuidadores e/ou familiares, promovendo-se a adesão terapêutica, mas também pelos conhecimentos que nós, médicos e enfermeiros, podemos adquirir na área da Farmacologia”.


Daniela Boleto

E garante: “As informações da farmacêutica não caem em ‘saco roto’. Na consulta, percebemos perfeitamente que as pessoas têm uma melhor noção da medicação que estão a fazer e do seu papel no controlo da doença, evitando-se, assim, os casos de descontinuação por não terem quaisquer sintomas.”

A pluridisciplinaridade e a multidisciplinaridade são o cunho da USF São João do Estoril desde a sua génese. Inaugurada oficialmente a 11 de novembro de 2014, surgiu após o sonho de um grupo de especialistas e recém-especialistas.

"Trata-se de um projeto ganhador"

Para Bárbara Carvalho, diretora executiva do ACES Cascais, a presença do farmacêutico nos CSP faz todo o sentido, sobretudo na conjuntura atual:

“O envelhecimento demográfico, resultante do aumento da esperança média de vida, acompanhado do declínio da natalidade, promoveu um incremento da prevalência das patologias crónicas, repercutindo-se num acréscimo no número de medicamentos por cada doente e, por conseguinte, numa eventual predisposição dos mesmos para o aparecimento de eventos adversos.”


Bárbara Carvalho

O projeto da ARSLVT é, assim, considerado essencial pela responsável. “O farmacêutico contribui para a atualização permanente dos registos da totalidade da medicação, para que o esforço de manter um tratamento consistente seja mais eficaz, além de assumir, cada vez mais, um papel importante nos CSP, demonstrando a sua mais-valia clínica e a sua capacidade para acrescentar valor à saúde do doente", afirma Bárbara Carvalho.

Na sua opinião, as vantagens também se refletem “na comunicação entre o doente e os profissionais de saúde, tornando-se, por isso, um bom exemplo da implementação de equipas multidisciplinares”.

Em suma: “Trata-se, sem dúvida, de um projeto ganhador, uma vez que a experiência nos demonstra uma elevada valorização e aceitação pelos próprios utentes.”



A reportagem completa pode ser lida na edição de setembro do Jornal Médico dos cuidados de saúde primários, onde são entrevistados outros profissionais. Daniela Boleto destaca também a grande dinâmica da equipa e revela os vários projetos que têm sido implementados nesta unidade.

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