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Doenças Imunomediadas Sistémicas: «Esta Unidade é transversal, literalmente multidisciplinar»

A existência de uma Unidade de Doenças Imunomediadas Sistémicas (UDIMS) e a escolha da sua equipa foram condições sine qua non para José Delgado Alves abraçar o desafio de fundar e liderar o Serviço de Medicina Interna IV do Hospital Fernando Fonseca. Em 2013, foi então criada oficialmente a primeira unidade do país a desenvolver atividade na área das doenças autoimunes de forma autónoma e com internamento próprio.

Em entrevista à Just News, José Delgado Alves começa por explicar, antes de mais, a designação da própria Unidade. Isto porque nem todas as doenças tratadas neste contexto são necessariamente autoimunes, "no sentido de existir uma prova evidente de que o sistema imunológico reagiu contra si próprio".

Assim, refere que “a expressão doenças autoimunes acaba por ser incompleta, como muitas outras terminologias na área da Medicina". E, nesse sentido, a denominação de Unidade de Doenças Imunomediadas Sistémicas "resulta de uma tentativa, que obviamente não é perfeita, de encontrar um termo mais abrangente, que pudesse estar mais próximo da realidade do que tratamos."

Na época, já havia médicos a desenvolver atividade nesta área no hospital, "mas não existia uma unidade estruturada", algo que para José Delgado Alves faria toda a diferença. Depois de, em meados de 2009, levar a cabo a constituição do Serviço de Medicina IV e de este estar consolidado, quatro anos mais tarde, avançou então com a UDIMS.


José Delgado Alves, Susana Oliveira, Maria Barrantes, Joana Caetano, Filipe Seguro Paula, Ricardo Marques, Marisa Neves, Bruno Grima e Marta Amaral

“As doenças não escolhem fronteiras”

Atualmente, a equipa desta Unidade conta com 7 internistas e uma enfermeira a tempo integral, que conta com o apoio de vários colegas, além da colaboração de administrativos, da assistente social e de muitos outros especialistas, como, por exemplo, nefrologistas, neurologistas, gastrenterologistas, pediatras e oftalmologistas.

“As doenças não escolhem fronteiras” salienta José Delgado Alves, avançando que, ao tratar patologias sistémicas, é fundamental que as especialidades se cruzem. O internista defende que “esta plasticidade das instituições, das unidades e dos grupos é uma defesa para os doentes”.

Na sua opinião, não há fronteiras completamente estanques e vai haver sempre doentes que necessitam de ser observados por várias áreas, portanto, “este entrecruzamento saudável deveria ser acarinhado e visto como uma mais-valia”.

E dá um exemplo: numa situação de doença inflamatória intestinal com compromisso fora do aparelho gastrintestinal, o gastrenterologista tem uma perspetiva e o internista outra. O internista não deve substituir o gastrenterologista nem vice-versa, o importante é o trabalho conjunto para encontrarem a melhor solução possível. “No entanto, por vezes, há atitudes de cacique cujo interesse não pode ser científico”, lamenta.

Colocar o Rossio "numa das pedras da calçada da rua da Betesga"

Quanto à organização logística da UDIMS, o professor da Nova Medical School começa por relembrar o problema de espaço com que o Fernando Fonseca se debate, pois, dá assistência a três ou quatro vezes mais população do que o inicialmente previsto. “Criámos um novo conceito de colocar o Rossio na rua da Betesga, colocámo-lo numa das pedras da calçada da rua da Betesga”, desabafa, entre sorrisos.

Todavia, a UDIMS tem conseguido dar resposta a este grande desafio. No que respeita ao internamento, das 45 camas do Serviço de Medicina Interna IV, quatro delas estão especificamente alocadas à Unidade, embora muitas vezes tenha de utilizar mais.

"Uma consulta a que o doente pode ir sem marcação prévia"

Já no que se refere ao ambulatório, existem três vertentes: o hospital de dia, os exames complementares e as consultas. Os tratamentos e avaliações programadas são efetuados no Hospital de Dia do próprio Fernando Fonseca. Por outro lado, para as situações urgentes e não programadas, a UDIMS tem um Hospital de Dia específico.



“Entendemos que não faz sentido que um doente destes vá para uma qualquer urgência, daí a designação walk in clinic, uma consulta a que o doente pode ir sem marcação prévia”, revela José Delgado Alves.

A UDIMS tem também um gabinete de exames complementares onde são efetuados tanto os mais típicos para doenças autoimunes, como a capilaroscopia, as provas de secreção salivar e lacrimal ou a ecografia articular, como outros mais transversais (caso da ecocardiografia, da punção lombar ou das biopsias).

No que respeita à formação, além da UDIMS receber internos do próprio hospital e de outros hospitais do país, estando já planeados estágios até ao final de 2020, tal é a procura, recebem também jovens africanos, visto estarem a colaborar com a Faculdade de Medicina de Maputo.

“Não é por acaso que estamos a fazer colaborações com África. Aqui recebemos muitos doentes de outras origens, como a africana. Eu não diria que o padrão das doenças é diferente por essa maior concentração populacional nesta região, mas seguramente que o aspeto das doenças é necessariamente distinto. Ou seja, não é que as doenças sejam outras, mas a forma como se manifestam tem aspetos particulares”, sublinha José Delgado Alves.



A reportagem completa, com declarações de outros profissionais da unidade, pode ser lida na edição de maio do Hospital Público.

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