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Doença coronária: técnica inovadora «é imbatível na informação que transmite aos profissionais»

Foi há uma dúzia de anos que Rui Cruz Ferreira, diretor do Serviço de Cardiologia do CH Universitário de Lisboa Central, percebeu que estava perante uma técnica inovadora e revolucionária na área da Cardiologia: a tomografia de coerência ótica (optical coherence tomography - OCT). Quando esta ainda estava a dar os primeiros passos, o especialista fez formação em vários centros internacionais, nomeadamente em Espanha e nos EUA, acabando por vir a apostar na introdução da OCT em Santa Marta.

“Tive de enfrentar alguns desafios próprios de soluções inovadoras, não apenas sob o ponto de vista financeiro, mas também na adaptação à técnica em causa, até se tornar prática diária no hospital”, conta.

Face ao seu pioneirismo, desde o último trimestre de 2018 que é, em Portugal, o investigador principal do ILUMIEN IV Study - Optical Coherence Tomography (OCT) Guided Coronary Stent Implantation Compared to Angiography: a Multicentre Randomized Trial in PCI. Uma responsabilidade que se deve ao facto de o Hospital de Santa Marta ser, entre nós, um centro de referência nacional tanto para a correta utilização desta tecnologia, como também na inclusão de vários estudos clínicos de importância internacional.”

“No nosso país, não há muitos centros com OCT, mas apenas nós atingimos cerca de uma centena de casos por ano, daí integrarmos este estudo multicêntrico e inovador”, explica.

Um motivo de orgulho para si e para a equipa, mas também de enorme responsabilidade. “Este estudo está envolto numa grande esperança porque pode permitir a subida de mais um degrau naquilo que é a intervenção coronária, permitindo otimizar os resultados da mesma”, confessa.



No entanto, como sublinha, “exige de todos nós forte empenho a vários níveis, nomeadamente na seleção dos casos clínicos”.

“A OCT é, de facto, imbatível na informação”

Mas quais são as vantagens da OCT? Rui Cruz Ferreira especifica: “Na angiografia fica-se com um conhecimento muito incompleto das artérias coronárias, porque apenas se observa o lúmen, o que acaba por ser limitativo, já que na própria parede do vaso pode verificar-se um conjunt de alterações muito significativas.

Com a OCT tem-se uma visão mais propícia e adequada dessa verdadeira dimensão, o que vai, obviamente, otimizar e tornar mais eficaz o nosso trabalho, clarificando muitas informações que são importantes na tomada de decisões.”

De forma concreta, os profissionais de saúde ficam com uma visão mais realista do que se passa nas artérias dos doentes. “A OCT é uma técnica com uma definição muito maior que a angiografia, daí ser mais fácil avaliar, de forma eficaz, a dimensão da artéria, além de serem visíveis com clareza vários fenómenos que podem ocorrer, como a formação de trombos e dissecções”, aponta.

Mas não só: “É também importante salientar que a OCT permite ao profissional de saúde ter uma ideia mais exata de como está colocado o stent, prática cada vez mais comum na nossa especialidade e que salva muitas vidas. A OCT é, de facto, imbatível na informação que transmite aos profissionais.”

Apesar das vantagens, Rui Cruz Ferreira não defende a sua utilização em exclusivo. “É uma técnica complementar à angiografia, os dois equipamentos estão integrados e, numa intervenção, temos acesso às duas observações. Não está em causa, portanto, a opção entre uma e outra”, indica.



Para o cardiologista, o ILUMIEN IV Study é, de facto, uma esperança para a Cardiologia a nível mundial.

“Se este ensaio conseguir demonstrar o contributo da OCT, vamos com certeza melhorar os resultados das angioplastias coronárias e podemos, inclusive, expandir as indicações da técnica, pois, não tem apenas que ser utilizada na doença coronária.”

Para Rui Cruz Ferreira, a participação de Portugal neste estudo internacional é mais uma forma de sublinhar a qualidade da Cardiologia portuguesa. “Já estivemos envolvidos em estudos decisivos que levaram à adoção, a nível mundial, de boas práticas, como sucedeu com o estudo SYNTAX, e a nossa presença no ILUMIEN é mais uma oportunidade de fazermos História, o que muito nos orgulha”, refere.

Um passo importante, sem dúvida, mas que exige empenho. Até porque, “neste tipo de projetos, não basta haver investimento financeiro, também é preciso que as equipas se esforcem, para que a Cardiologia portuguesa esteja no pelotão da frente”.

E acrescenta: “Não podemos perder esta oportunidade de estarmos num projeto que envolve centros muito conceituados, como é o caso dos grupos de Stanford ou da New York Presbyterian/Columbia University, nos EUA, e por isso devemos dar o nosso melhor.”

125 países de diferentes continentes envolvidos no projeto

O ILUMIEN IV Study - Optical Coherence Tomography (OCT) Guided Coronary Stent Implanttion Compared to Angiography: a Multicentre Randomized Trial in PCI é um estudo prospetivo, randomizado, duplo cego, que avalia a relevância desta técnica na implantação de stents, em comparação com o recurso exclusivo à angiografia.

O estudo teve início no último trimestre de 2018 e, segundo Rui Cruz Ferreira, “face aos critérios rigorosos do ensaio, muito provavelmente ainda decorrerá mais um ano até se conseguir selecionar todos os doentes”.

A investigação clínica envolve 3650 doentes de 125 centros de Cardiologia de vários países, nomeadamente EUA, Canadá, Alemanha, França, Espanha, Portugal, Nova Zelândia e Austrália. Este é o primeiro estudo global randomizado de grande escala sobre a técnica de OCT em doentes com doença coronária arterial complexa e de elevado risco.

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