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Doentes infetados por VIH: «Estratégias inventivas» em Santarém asseguram adesão à medicação

Embora seja geralmente considerado um distrito em que a população rural é dominante, as características epidemiológicas e de formas de transmissão dos doentes com infeção VIH seguidos no Hospital de Santarém não diferem muito do que acontece no resto do país, de acordo com Fausto Roxo, responsável pelo Hospital de Dia de Doenças Infeciosas daquele hospital.

Em declarações à Just News, o internista conta que os doentes que ali são seguidos residem não apenas nas cidades, como Santarém, Torres Novas, Abrantes ou Tomar, mas também em pequenas localidades do interior do distrito.

“Tratando-se de uma região com uma grande extensão territorial, e sendo a nossa Unidade a única em todo o distrito que segue doentes com infeção VIH, as distâncias a percorrer para consultas ou levantamento de medicação são grandes, obrigando a estratégias inventivas para manter a retenção na consulta e a adesão à medicação”, afirma.

No Hospital de Dia de Doenças Infeciosas do Hospital de Santarém são seguidos presentemente 722 doentes com infeção VIH em todos os seus estádios. Segundo o médico, “embora a incidência não tenha aumentado significativamente, continua a ser motivo de preocupação a constância com que novos doentes entram na consulta, sobretudo aqueles que chegam com um status imunitário já muito debilitado, denunciando lacunas persistentes no diagnóstico e encaminhamento”.

Conforme relata, isto é mais patente em doentes de idades mais altas, com formas de transmissão por contacto heterossexual, população que continua a não efetuar o rastreio da infeção.



É significativa a incidência de novos casos em homens que têm sexo com homens de idades muito jovens. Quanto à caracterização da população infetada, Fausto Roxo explica que nos novos doentes a via de transmissão é quase exclusivamente sexual, homo ou heterossexual. Além disso, “permanecem na consulta os ‘velhos’ utilizadores de drogas endovenosas, quase todos sem consumo atual”.

É uma população, na sua generalidade, com boa adesão ao seguimento e à terapêutica antirretrovírica, idade média crescente, nível socioeconómico e cultural muito diversificado, na sua grande maioria, com atividade profissional mantida.

Diagnóstico precoce do VIH

De acordo com Fausto Roxo, os doentes em seguimento são geralmente pessoas bem informadas, que inquirem frequentemente em relação aos avanços terapêuticos. “A maior comodidade e tolerabilidade da terapêutica é um fator importante na vida das pessoas, sendo visível, também com ajuda de outras estratégias, uma maior retenção em seguimento no Hospital, um dos grandes objetivos nacionais desta e da próxima década”, conta.


“Atualmente, já nos atrevemos a pronunciar a palavra ‘cura’, embora pense pessoalmente que este objetivo será dificilmente alcançável a médio prazo, pela inacessibilidade dos reservatórios do vírus”, refere, acrescentando que há, entretanto, que perseguir a universalidade do seguimento, com indetetabilidade da carga viral e bem-estar global desta população, assim como a redução drástica da transmissão.

Por outro lado, diz, “há que reforçar a prevenção, a informação à comunidade e o diagnóstico precoce”, sendo que, em relação a este último, o médico considera que “é fundamental mobilizar os cuidados de saúde primários, assim como alertar para a janela de oportunidade que é o rastreio em serviços de urgência”.

Fausto Roxo considera que é necessário investir ainda muito em  ações de formação e estabelecimento de estratégias comuns para o alargamento do diagnóstico mais precoce, assim como em programas de investigação epidemiológica, para identificação e rastreio de contactos prévios. Aqui, defende, “a Saúde Pública tem um papel importante, onde parece haver novos elementos e novo entusiasmo no nosso distrito”, sendo importante aproveitar esse facto para que se atinjam de objetivos que são de todos.

Uma doença que ainda "é muito diferente"

O estigma associado a esta infeção permanece um dos grandes problemas com que os doentes se confrontam no dia-a-dia. Fausto Roxo considera que, infelizmente, os progressos nesta área têm sido “escassíssimos”, sendo “chocante verificar que este estigma está muitas vezes presente dentro das próprias instituições de saúde”.

“A modificação de preconceitos em relação a tudo o que é diferente é uma meta difícil de alcançar, para mais em tempos negros de intolerância e de isolamento.

Quando dizemos aos doentes que esta é uma doença crónica, como a diabetes ou a hipertensão, eles respondem-nos que ‘é muito diferente…’. Ainda têm razão”, conclui.





Notícia publicada na última edição do Hospital Público.

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