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Endometriose: Investigação de ginecologistas pode «abrir novos horizontes terapêuticos»

O Serviço de Ginecologia-Obstetrícia do Hospital da Luz Lisboa é um centro de referência de endometriose. Este foi um dos motivos que incentivou os ginecologistas do Grupo WHALE - Women`s Health And MaternaL FEtal Research Group a desenvolver dois importantes projetos de investigação neste campo.

Em declarações à Just News, o ginecologista-obstetra Jorge Lima, que coordena este grupo de investigação do Hospital da Luz Lisboa, começa por salientar o impacto desta doença:

“A endometriose afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva, sendo uma patologia com grande impacto na qualidade de vida. O principal sintoma é a dor crónica no abdómen e 30 a 50% das mulheres sofrem de infertilidade e de outros sintomas como a dismenorreia, a dispareunia, a disúria e a disquesia."

O médico esclarece ainda que a endometriose está intimamente relacionada com distúrbios imunológicos, "porque as suas características são semelhantes às de doenças autoimunes, como diminuição da apoptose, aumento dos níveis de citocinas e vias anormais mediadas por células. Enquanto isso, a interação entre o sistema imunológico e a microbiota intestinal desempenha um papel fundamental na manutenção da homeostase imunológica."

Segundo o especialista, "descobertas recentes revelaram perfis alterados da microbiota intestinal e vaginal na endometriose e, por sua vez, essa microbiota alterada parece ser causa de progressão da doença".

Assim, e face a este cenário, o Grupo WHALE decidiu desenvolver dois projetos nesta área:


1)
"Natural killer cells inhibitory receptors & endometriosis"

"A endometriose é um distúrbio ginecológico com alto impacto na qualidade de vida. O diagnóstico é muitas vezes difícil e não existem biomarcadores que permitam prever a gravidade e evolução da doença", explica Jorge Lima, acrescentando:

"Uma das teorias mais aceites para a etiopatogenia é a da menstruação retrógrada, mas como esse é um fenômeno frequente, não se sabe por que algumas mulheres desenvolvem a doença e outras não."

Desta forma, os autores, neste estudo prospetivo, pretendem "avaliar a expressão de um painel de recetores inibidores de células NK em mulheres com endometriose, ao nível do líquido peritoneal, do tecido endometriótico e do sangue periférico".

Com esta investigação, a equipa pretende "contribuir para a compreensão da etiopatogenia da doença, eventualmente abrindo novos horizontes terapêuticos e encontrando um biomarcador no sangue periférico que possa estar associado à gravidade da doença".

 

2) "Unravelling the role of microbiota, endocrine disruptors, and lifestyle modification in quality of life and pain of women with endometriosis - Quasi-experimental study"

Este estudo, com uma previsão de dois anos de duração, foi projetado, de acordo com Jorge Lima, para "observar o impacto do aconselhamento breve sobre a modificação do estilo de vida como parte dos padrões de vigilância na qualidade de vida e dor em mulheres com endometriose".

E qual o seu propósito? "Os principais objetivos deste estudo observacional prospetivo é investigar o papel da microbiota e dos disruptores endócrinos na fisiopatologia da endometriose e o impacto de um breve aconselhamento de modificação do estilo de vida na sua modulação e avaliar qual dos fatores foi mais decisivo para a redução da dor e melhoria da qualidade de vida."


Jorge Lima


Perda gestacional e microbiota intestinal

Além da endometriose, o Grupo WHALE tem em curso dois outros projetos que entusiasmam igualmente a equipa. Na área da imunologia reprodutiva, está a ser desenvolvido um estudo relacionado com a perda gestacional recorrente, definida como duas ou mais gestações sem sucesso consecutivas.

Jorge Lima explica porque a equipa decidiu avançar com este projeto, intitulado “Endometrial Immunology, Microbiota and Idiopathic Recurrent Reproductive Failure”:

“Quase 50% dos casos não têm causas identificadas e são consideradas perdas gestacionais idiopáticas. Pacientes com perda gestacional idiopática podem ter células NK uterinas aumentadas e associações foram feitas entre o microbiota endometrial, pobre em Lactobacillus e baixo sucesso na gravidez.”

Este estudo prospetivo, a decorrer há mais de 1 ano, visa “caracterizar, utilizando uma metodologia inovadora, o perfil imune endometrial de mulheres com perda gestacional recorrente idiopática e investigar a sua associação com a microbiota intestinal.“

E que boas notícias poderá esta investigação trazer? De acordo com o Ginecologista-Obstetra, “este estudo poderá no futuro permitir aos clínicos uma intervenção terapêutica mais seletiva neste grupo de mulheres com perda gestacional recorrente e com perfis imunológicos endometriais específicos".

Oncologia Ginecológica

O WHALE tem ainda em curso outra investigação, intitulada: "High-grade Endometrioid Endometrial Carcinoma - Molecular and Proteomic Signature and it’s implications in the overall prognosis of this neoplasm".

Neste caso, a equipa foi motivada pelo facto da incidência e a mortalidade por cancro de endométrio estarem a aumentar, “principalmente devido ao aumento da incidência de obesidade”.

O principal objetivo deste estudo será, assim, "lançar alguma luz sobre o perfil molecular e proteómica deste subtipo e sua correlação com os resultados clínicos".

Além de Jorge Lima, os investigadores principais dos vários projetos desenvolvidos no âmbito da WHALE são também todos especialistas do Serviço de Ginecologia/Obstetrícia do Hospital da Luz Lisboa: Filipa Beja Osório, João Casanova e José Lourenço Reis


2.º Congresso de Investigação

As investigações desenvolvidas no âmbito da WHALE serão um dos temas a apresentar no 2.º Congresso de Investigação do Hospital da Luz, que decorrerá dia 21 de abril, no Auditório do Hospital da Luz Lisboa.

O objetivo do evento, cuja inscrição é gratuita, passa por partilhar os desenvolvimentos e novidades dos seis grupos de investigação do Grupo Luz Saúde. Pretende-se abordar igualmente a forma como estão a ser ultrapassados diferentes obstáculos no avanço das investigações e perspetivar os resultados que poderão ser obtidos e respetivo impacto, nomeadamente, nos tratamentos e na saúde dos doentes.

O evento deste ano fica marcado pelo facto de estar ainda mais aberto ao exterior, em particular, a todos os profissionais de saúde com interesse na área da investigação. O lema da reunião é precisamente "como aumentar a investigação num hospital?". Nesse sentido, e além de outros temas, o programa inclui também o debate sobre diferentes estratégias relacionadas com a captação de financiamento para a investigação.

O programa pode ser consultado aqui. 

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