Endometriose: Médicos de família têm referenciado «muitas mais mulheres» aos ginecologistas
"Temos feito uma ampla divulgação da endometriose junto da Medicina Geral e Familiar, dado o seu papel na prevenção primária", afirma Fátima Faustino, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG).
Em declarações à Just News, a médica, que coordena o Centro Especializado em Endometriose do Hospital Lusíadas Lisboa, adianta que, como resultado destas "pontes", os resultados são visíveis:
"Notamos que nos têm sido referenciadas muitas mais mulheres. "E mesmo que não consigam estabelecer um diagnóstico, se identificarem que há algo que não está bem e referenciarem ao ginecologista, isso já será importantíssimo."
De acordo com Fátima Faustino, este é apenas um exemplo da relevância da MGF para a Ginecologia/Obstetrícia. Na sua opinião, "a ligação com a MGF é importantíssima, desde logo porque os colegas estão muito interessados em poder melhorar os seus conhecimentos na área. Eles são os primeiros a lidar com as mulheres e a contactar com os seus problemas".
Fátima Faustino
Desta forma, se os médicos de família "estiverem alerta para as doenças e a par das novas terapêuticas e dos avanços tecnológicos, torna-se mais fácil saberem orientar as mulheres para os locais convenientes".
A médica faz questão de reforçar esta ideia, assegurando que "é de todo o interesse haver essa partilha e, para nós, é importante que eles possam realizar a triagem e a distribuição dos doentes pelas valências específicas, visando proporcionar o melhor tratamento possível".
Foco na inovação e na formação
Convidada a fazer o balanço de ano e meio de mandato à frente da SPG, a responsável refere que o trabalho desenvolvido "vem na continuação do muito que já foi feito até aqui", salientando existir "dois fulcros principais na Sociedade Portuguesa de Ginecologia – a inovação e a formação".
Fátima Faustino lembra que, "nos últimos anos, tem havido avanços tecnológicos brutais no campo dos medicamentos, dos materiais e dos instrumentos cirúrgicos, algo a que vamos continuar a assistir. Com a introdução da robótica, as novas tecnologias vão continuar a avançar, sem falarmos na inteligência artificial, que está na ordem do dia."
E, se é certo que quando a médica terminou a especialidade nos anos 90, "na altura, a cirurgia laparoscópica em Ginecologia era rara", o facto é que a situação mudou. "Daí em diante, a evolução tecnológica foi enorme e, graças também à disponibilidade formativa, refletiu-se no aperfeiçoamento ao nível da cirurgia laparoscópica", afirma.
E qual a situação atual? "Hoje em dia, os internos e os especialistas mais jovens têm acesso a formação de qualidade em Portugal, sendo uma das nossas preocupações a promoção e o apoio a quem organiza tais cursos. Na época atual, em que vários problemas assolam os hospitais, sobretudo os públicos, cada vez mais as sociedades médicas envolvidas têm de investir na formação dos internos e dos recém-especialistas."
"Ondas de Mudança"
Quando se aproxima um "momento muito especial da SPG", com a comemoração dos seus 50 anos em 2025, Fátima Faustino não tem dúvidas em considerar que se tratar de "uma Sociedade dinâmica e harmoniosa, em que há um equilíbrio saudável entre a Direção, as secções e os núcleos, trabalhando em uníssono para o desenvolvimento da Ginecologia, em prol da saúde da mulher".
E, na sua opinião, esse é um forte alicerce para que "as reuniões, congressos e cursos sejam bem programados, de modo a que todas as áreas possam ir mostrando as inovações e os avanços respetivos".
Foi, aliás, o caso da recente 204.ª Reunião da SPG, que decorreu na última sexta e sábado. Sob o lema "Ondas de Mudança", o evento contou com mais de meio milhar de inscrito, sendo um recorde em reuniões da SPG com estas características.
Esta grande adesão é, naturalmente, motivo de grande satisfação para Fátima Faustino, que considera ser "muito importante estarmos todos juntos e prosseguirmos neste caminho que é a melhoria das condições de vida e de saúde da mulher".