Cepheid Talks

Escola de Reanimação do Hospital Fernando Fonseca investe na formação em escolas secundárias

No ginásio da Escola Secundária de Santa Maria, em Sintra, a música dos Bee Gees “Staying’ Alive” marca o ritmo ideal para os alunos realizarem as compressões no peito para ressuscitação cardiopulmonar (RC) em manequins que simulam ser vítimas de ataque cardíaco.

Os jovens sabem agora, porque os professores lhes ensinaram, que as compressões devem ser feitas com uma frequência de 100-120 por minuto. A música dos Bee Gees alcança isso de forma quase perfeita, com 103 batidas em 60 segundos. A possibilidade dos alunos, no futuro, utilizarem a metodologia do projeto “3C´s” em situações reais não é tão pequena quanto isso: em Portugal, entre 25 a 30 pessoas morrem todos os dias por paragem cardiorrespiratória.



Segundo Pedro Nunes, especialista em Cuidados Intensivos Pediátricos e coordenador da Escola de Reanimação do HFF, após uma paragem cardiorrespiratória, a possibilidade de sobrevivência da vítima decresce 10% a cada minuto que passa sem reanimação cardiopulmonar. “Enquanto a lesão cardíaca irreversível ocorre ao cabo de 20 minutos, as lesões neurológicas começam a surgir ao fim de três a cinco minutos sem oxigénio”, explica à Just News, no âmbito de uma reportagem publicada no Hospital Público.

Ora, estas situações “não acontecem ao lado da base do INEM, do quartel dos bombeiros ou à porta do hospital. Elas ocorrem em casa, nos locais públicos, com os nossos amigos e familiares. Por isso, a base da reanimação não é a ambulância do INEM, não são os bombeiros, são os leigos!”.

Nos EUA e nalguns países europeus, como a Holanda, a Dinamarca ou a Espanha, as técnicas de reanimação cardiorrespiratória fazem parte do curriculum do ensino secundário. Em Portugal, apesar de, em 2013, a Assembleia da República ter recomendado ao Governo a introdução do ensino de suporte básico de vida nas escolas, esta temática, “embora esteja incluída no curriculum escolar do 9.º ano, tem uma componente muito teórica e não é colocada em prática na maioria dos estabelecimentos de ensino".



Projeto “3C’s” nasceu na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos

Michele Costa, mulher de Pedro Nunes, médica intensivista de adultos e operacional do INEM, de origem norte-americana, estranhava que em muitas das ativações da viatura médica de emergência rápida (VMER) por paragem cardiorrespiratória, apesar de as vítimas estarem normalmente rodeadas por outras pessoas, ninguém se dispusesse a iniciar compressões antes da chegada dos técnicos.

Esta e outras circunstâncias, como o processo de destruição lenta de um pai cuja criança morrera de paragem súbita cardiorrespiratória sem que ele soubesse como ajudá-la, fez com que Pedro Nunes e outros profissionais da Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos do HFF – como o enfermeiro Daniel Martín – começassem a pensar numa intervenção estruturada junto das escolas dos concelhos de abrangência do hospital (Amadora e Sintra).

“O projeto teve a sua génese na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos com o ensino, por profissionais dessa Unidade, de técnicas de suporte básico de vida aos pais das crianças internadas no hospital”, recorda Pedro Nunes.

Posteriormente, “o Departamento de Pediatria, que sempre teve uma grande vocação de intervenção na comunidade, quis alargar esta formação às escolas e, em colaboração com a Câmara Municipal da Amadora, iniciou-se um projeto de formação escolar".

Inicialmente, "o ensino era generalista – além de suporte básico de vida, incluía a abordagem da febre, engasgamento e convulsões e estava direcionado a alunos, professores e assistentes operacionais –, mas progressivamente centrou-se nos alunos, e agora, desde 2012, apenas nos que frequentam os 10.º, 11.º e 12.º anos".

Com a criação da Escola de Reanimação intra-hospitalar e as novas guidelines de reanimação de 2015, nasceu então a iniciativa “3C´s - Salva uma vida”. O objetivo é dotar as escolas dos conhecimentos e meios necessários para, a partir do 10.º ano, poderem ser os próprios professores a dar formação aos alunos, repetindo-a anualmente, até ao 12.º.

De acordo com Pedro Nunes, "até ao 9.º ano, os miúdos, de uma maneira geral, não têm capacidade  para executar compressões de forma tão eficaz quanto um adulto. Mas a partir do 10.º ano a imensa maioria já consegue".



Pedro Nunes, com os professores Jorge Damásio, Cristina Azevedo, Carlos Sousa e o enfermeiro Ignatio Tobias 


Confirmar, Comunicar, Comprimir

Incorporado nas atividades da escola, o projeto assenta nos três pilares básicos da reanimação por leigos:
- CONFIRMAR a situação de paragem cardiorrespiratória.
- COMUNICAR a situação adequadamente ao serviço de emergência médica.
- COMPRIMIR o esterno a um ritmo de 100-120 compressões por minuto.

Mass training no campo de futebol

A Escola de Reanimação do Hospital Fernando Fonseca, a Câmara Municipal de Sintra e o Movimento Salvar + Vidas juntaram recentemente, no campo de futebol do Grupo Desportivo de Rio de Mouro, Rinchoa e Mercês, mais de mil estudantes dos agrupamentos de escolas daquele concelho que já realizaram a formação no âmbito do projeto “3C´s - Salva Uma Vida”.



Esta impressionante ação de mass training visou sensibilizar a comunidade para o facto da resposta rápida de proximidade ser fundamental, sobretudo nos primeiros minutos de uma paragem cardiorrespiratória, e divulgar o trabalho que está a ser realizado nas escolas.

Autarquias de todo o país interessadas no projeto


Câmaras municipais de todo o país estão entretanto a mostrar interesse na implementação do projeto a nível local. Na perspetiva de Pedro Nunes, esta é, de facto, uma iniciativa que só pode funcionar bem com o envolvimento da comunidade, dos hospitais, dos centros de saúde e das instituições administrativas locais.



“Praticamente todos os hospitais do SNS têm profissionais dedicados à reanimação", refere o coordenador da Escola de Reanimação do HFF, "sendo possível criar núcleos locais que se envolvam na formação dos professores, em conjunto com as autarquias e os agrupamentos de escolas", acrescentando:

"No nosso caso, desde o início que contámos com o apoio dos autarcas da área de envolvência do Hospital e o impulso do presidente do Conselho de Administração do Hospital Fernando Fonseca, Francisco Velez Roxo, e do então coordenador da Escola de Reanimação, Paulo Freitas”.




A reportagem completa pode ser lida no Hospital Público de setembro.

Distribuído em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde, o jornal Hospital Público promove uma partilha transversal de boas práticas e de iniciativas desenvolvidas por profissionais dos hospitais públicos.

seg.
ter.
qua.
qui.
sex.
sáb.
dom.

Digite o termo que deseja pesquisar no campo abaixo:

Eventos do dia 24/12/2017:

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda