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Estomatologia em «fase de revitalização»: foi criada a Comissão Nacional de Internos

“A Estomatologia é uma área de grande interesse, mas é muitas vezes esquecida”, afirma David Ângelo, responsável pelo 1.º Encontro Nacional de Internos de Estomatologia, que decorreu no Centro Hospitalar de Setúbal. O médico acrescenta que a especialidade vive “uma nova fase”, com a entrada de mais internos. No evento foi, aliás, criada a primeira Comissão Nacional de Internos de Estomatologia.

David Ângelo é um médico apaixonado pela sua área de especialização e defende um maior reconhecimento da mesma em Portugal, daí ter apostado na organização do encontro, que contou com a presença de 23 internos, vindos do Porto, Coimbra e Lisboa.



“Quando era interno senti falta deste tipo de iniciativas, é uma forma de adquirir competências, de nos conhecermos, de discutirmos ideias para o futuro, de nos sentirmos uma família”, aponta.

"Estamos numa fase de revitalização"

Em declarações à Just News, esclarece que, em Portugal, existem cerca de 150 estomatologistas no Serviço Nacional de Saúde e mais 40 internos da especialidade.

Na sua opinião, "estamos numa fase de revitalização, o que também se deve à importância da Estomatologia nos hospitais, que dá resposta a diversas situações, muitas delas graves: patologia da articulação temporomandibular, apneia obstrutiva do sono, patologia tumoral benigna e maligna oromaxilar, alterações morfológicas da mandíbula e da maxila, traumatologia, infeções, inflamações e osteonecroses (a maioria iatrogénicas), entre outras".

Trata-se de “várias áreas de atuação que ainda não são de todo reconhecidas”, refere David Ângelo, acrescentando: “A nossa formação médica, ao contrário de outros profissionais, permite-nos abordar de uma maneira completa e integrada toda a patologia dentofacial.”

E acrescentou: “Apesar de entre os pares já existir um maior reconhecimento das nossas competências, ainda somos muito solicitados para tratar utentes sem doença estomatológica, apenas com cáries.”

No seu entender, este tipo de situações acontece, sobretudo, pela falta de resposta a nível da Saúde Oral básica no SNS. “Apenas recentemente se iniciaram projetos-piloto nesta área, permitindo assim que muitos colegas da Medicina Geral e Familiar (MGF) possam hoje enviar para outros profissionais casos de doença simples da cavidade oral, como a cárie dentária”, frisa.



Para David Ângelo, “a Saúde Oral deve ser um direito de todos”, devendo existir "uma maior aposta" no trabalho dos médicos dentistas que hoje já colaboram com os cuidados de saúde primários.

Na sua opinião, ao estomatologista compete diagnosticar e tratar a patologia mais complexa e/ou em doente de risco: “O nosso papel deve ficar reservado para os casos que nos competem, de modo que se evitem longas filas de espera para consultas hospitalares, correndo-se o risco de atrasar o início do tratamento de uma pessoa com uma doença estomatológica mais grave”.

Relativamente à MGF, David Ângelo defende mais formação sobre o papel do estomatologista. “60% das referenciações para o hospital são mal feitas”, afirma.

A pensar no futuro da Estomatologia, David Ângelo deixou uma mensagem aos internos: “Os conhecimentos gerais são importantes, mas apostem na diferenciação. Só assim será possível garantir tratamentos de excelência aos doentes do SNS!”

Comissão Nacional de Internos: "criação de dinâmicas"
 
O 1.º Encontro Nacional de Internos de Estomatologia também ficou marcado pela criação da Comissão Nacional de Internos da Associação dos Médicos Estomatologistas Portugueses (AMEP). O presidente é o médico interno estomatologista Pedro Alberto Santos, do Centro Hospitalar São João.



Como referiu à Just News, os principais objetivos são “defender os interesses específicos dos seus representados, promover eventos de índole técnico-científica, de modo a enriquecer e a diversificar a formação dos internos desta área, melhorando a qualidade da assistência clínica aos doentes”.

Avaliando os desafios futuros, apontou exatamente esta fase inicial da Comissão. “Não existindo precedência, estamos a começar da casa de partida, a criação de dinâmicas é morosa.” Mas, como garantiu, “estamos certos de que, com dedicação e trabalho, iremos alcançar os objetivos”.



"Relevância nas vertentes dentofacial, médica e cirúrgica"

Tal como David Ângelo, o presidente da Comissão acredita que “a diferenciação, a exigência e a qualidade científica centrada no doente são o motor de afirmação da especialidade de Estomatologia”.

Assim, acrescenta, o trabalho desta comissão deverá ser alicerçado nestes princípios, a fim de que “a visão dos colegas e dos utentes sobre a especialidade seja a que corresponde à sua realidade e relevância nas vertentes dentofacial, médica e cirúrgica”.

O 1.º Encontro Nacional de Internos de Estomatologia foi organizado pelo Serviço de Estomatologia do Centro Hospitalar de Setúbal e teve o patrocínio científico da AMEP.



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