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Hospital de VFX: utentes beneficiam da «maior proatividade dos farmacêuticos»

A Farmácia do Hospital de Vila Franca de Xira (HVFX), gerida por Carla Ferrer, tem a seu cargo o processo de segurança do medicamento, mas, em entrevista à Just News, no âmbito de uma reportagem publicada no Hospital Público, revelou que o serviço que lidera vai bem mais longe na sua missão.

Hospital novo, vida nova

O processo de transformar a farmácia do HVFX num serviço mais participativo na decisão terapêutica começou em 2009, ainda no hospital antigo. Quebraram-se as primeiras barreiras, estabeleceram-se pontes... e veio a mudança para o novo hospital. Mais moderno, com melhores infraestruturas, mas que voltou, em muitos casos, a afastar serviços que antes estavam à distância de um corredor.



Carla Ferrer reconhece que esta foi uma dificuldade adicional, mas diz que os ganhos foram, de longe, superiores ao trabalhar numa unidade que permite uma cobertura assistencial mais diversificada para os seus utentes. Simultaneamente, frisa, o surgimento de novas especialidades lançou um desafio complementar à farmácia que coordena:

“Especialidades como Oftalmologia, Otorrinolaringologia, Neurologia, Pneumologia e Psiquiatria geraram a necessidade de introduzir em massa diversos fármacos para dar resposta a todas estas novas áreas e isso foi um estímulo que nos obrigou a aprofundar estes conhecimentos.”


Elementos da equipa dos Serviços Farmacêuticos do Hospital de VFX: uma intervenção dinâmica "que vai muito além da mera entrega da medicação".


O doente é o principal beneficiado

Toda a atividade desenvolvida pela farmácia hospitalar tem um único propósito: "contribuir de forma proativa" para que o doente receba a qualidade expectável na prestação de cuidados de saúde proporcionada no hospital. E essa qualidade "está diretamente vinculada a um aumento de segurança possibilitada pela estrutura existente".

“O doente encontra maior garantia de segurança dada a estrutura inerente ao processo de Qualidade implementado”, realça Carla Ferrer.

De acordo com a responsável, “a maioria das intervenções farmacêuticas vão nesse sentido, pois, numa primeira abordagem, procuramos sempre avaliar os padrões de segurança e minimizar o potencial de eventos adversos de determinada medicação para o doente.”


Carla Ferrer.

Por outro lado, a especialista explica que há também ganhos em termos de eficácia. “Os dois processos são paralelos”, confirma: “Ao ajustar a segurança, procuramos garantir, simultaneamente, que a eficácia desejada é atingida.”

Ainda ao nível da segurança, a diretora dos Serviços Farmacêuticos frisa que o hospital é acreditado pela Joint Comission International, o que incrementa as garantias de segurança no circuito do medicamento.



“É um processo global que não se esgota no espaço da farmácia e que vai até às condições e práticas realizadas nos serviços clínicos. Por isso, tudo tem de estar uniformizado e, claramente, hoje temos um hospital muito mais seguro”, assegura. Refere ainda que existe uma dinâmica que faz com que os procedimentos sejam integrados todos os dias "e não apenas quando há uma auditoria".




"O seu farmacêutico" – um projeto que faz a diferença

O ambulatório é a área, por excelência, em que "o doente pode contactar com o farmacêutico". O aumento da complexidade dos fármacos, as estreitas margens terapêuticas que, por vezes, os caracterizam, tal como o conhecimento parcial do seu perfil de segurança, resultante da escassa exposição aos novos medicamentos no momento da sua comercialização, torna imperiosa uma intervenção mais próxima do doente, "que vai muito além da mera entrega da medicação".

Para Carla Ferrer, estão reunidas as condições para prestar um serviço diferenciador: “Personalizamos a dispensa e nesse momento realizamos uma consulta sumária ao doente, que abrange a deteção precoce de reações adversas medicamentosas ou outros problemas relacionados com medicamentos e a monitorização da eficácia terapêutica, que reportamos ao médico consoante a gravidade ou a evolução da situação."
 


A experiência adquirida leva a responsável a não ter qualquer dúvida de que, havendo um contacto mais frequente entre o farmacêutico e o doente, o momento da dispensa do medicamento torna-se "uma ocasião de recolha de informação crítica e com enorme potencial na melhoria da segurança da terapêutica instituída".

E acrescenta: “A minha visão é alocar os doentes a um farmacêutico, porque a rotatividade da equipa nesta tarefa gera dificuldades no seguimento terapêutico personalizado. Tenho defendido a atribuição nominal de doentes por farmacêutico.”



Maria Augusto


Maria Augusto é quem neste momento assume o projeto “O seu farmacêutico” e acredita que é possível fazer a diferença com pouco. “Como fazemos o acompanhamento num espaço privado, a pessoa sente-se mais à vontade e pode expor as suas questões com maior naturalidade”, diz, realçando a importância deste trabalho de proximidade com o doente e com o médico assistente.

Uma inovação neste espaço é o atendimento por marcação, o que, segundo Maria Augusto, permite fazer uma avaliação clínica prévia, saber os medicamentos que vão sair e fazer uma gestão ativa dos stocks, para que não haja falhas. De sorriso fácil, a farmacêutica gosta de falar com os doentes e valoriza as pequenas grandes conquistas de cada dia:

“Muitas vezes estamos a falar de pessoas com doenças muito complicadas. Por isso, vê-las sair daqui mais satisfeitas e animadas é a melhor gratificação que posso ter.”




Nem só na prescrição se podem obter ganhos


Catarina da Luz Oliveira é a diretora adjunta da farmácia do HVFX. Muito ligada à área da qualidade, explica que o medicamento é, por si só, uma das metas de qualidade da instituição. Portanto, o trabalho gira em torno do doente, do medicamento e da segurança, de forma "a potenciar o benefício dos medicamentos".

Traçado o cenário, cedo a farmácia hospitalar percebeu que "podia ir mais além na sua atividade e recomendações". As prescrições medicamentosas são efetuadas sempre que exista essa necessidade, mas os exames que os doentes fazem têm, por vezes, maior regularidade e podem dar a estes profissionais informações valiosas no despiste de alterações no estado de saúde dos doentes. Estava aberta a porta para um projeto que é hoje liderado por Catarina da Luz Oliveira, que explica os seus fundamentos:


“Após a prescrição médica, fazemos a sua validação e é importante manter o objetivo do benefício da terapêutica. Para isso, temos de acompanhar os doentes, mas não apenas quando existem novas prescrições. No fundo, o que nos propomos fazer é monitorizar os doentes durante o internamento no HVFX."

A dimensão que será avaliada, "e queremos introduzir outras depois de medido o impacto que esta tem nos doentes", refere Catarina da Luz Oliveira, é a das análises que o doente faz entre prescrições, "sinalizando as alterações que podem ter impacto no perfil de segurança dos medicamentos prescritos com necessidade de ajuste durante o internamento".


Catarina da Luz Oliveira

Nesta primeira fase, vai ser alvo de maior atenção a função renal, "porque há muitos medicamentos que são excretados pelo rim e têm elevada toxicidade".

“Partiu-se para este projeto porque foi encontrada esta necessidade”, relata a nossa interlocutora, que explica que a prescrição não pode ser vista "como uma fotografia, mas
sim como um filme", ou seja, “é um processo progressivo e contínuo, em que percebemos mais rapidamente quais os medicamentos que têm impacto nas alterações detetadas”.


A reportagem completa pode ser lida na primeira edição do Hospital Público.



Hospital Público é uma publicação da Just News, de periodicidade mensal, particularmente dirigida aos profissionais de saúde das unidades hospitalares do SNS, incluindo as de gestão privada.

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