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Hospital Pedro Hispano previne sequelas após internamento em cuidados intensivos

Devido ao avanço geral da Medicina, nas últimas décadas, sobrevive-se mais ao internamento em cuidados intensivos. Mas isso não basta. É necessário melhorar a qualidade de vida destes doentes, prevenindo ou atenuando as sequelas.

Este é um novo paradigma conceptual, com pressupostos e intervenções validados na literatura científica. Síndrome pós-internamento em cuidados intensivos (SPICI) é a designação atribuída ao conjunto de fatores que podem afetar a qualidade de vida dos doentes e seus familiares, sejam eles afeções físicas, psicológicas ou cognitivas.

O projeto “Seguimento Pós-Internamento no SMI”, desenhado pelo Serviço de Medicina Intensiva do Hospital Pedro Hispano (HPH), que interna, em média, 380 doentes por ano, tem como foco "a recuperação funcional do doente crítico, de forma o mais ampla possível, nas dimensões física, psicológica e cognitiva".


Ernestina Gomes

A coordenadora e mentora deste projeto, Ernestina Gomes, explica que a metodologia de trabalho desenhada começa pela identificação do risco que o doente tem de vir a desenvolver SPICI e a tentativa de o  prevenir durante o internamento no SMI.

Durante o restante internamento hospitalar, a síndrome é monitorizada e tratada. Após a alta hospitalar, numa consulta de seguimento, aos três meses, avaliam-se as sequelas e a qualidade de vida.

"Evitar sequelas após o internamento"

Tudo começou por uma consulta de follow up que já existia há anos, mas que estava organizada de forma diferente. “A atual abordagem não se limita à constatação dos fatores de risco, incluindo também a tentativa de prevenção e atenuação dos mesmos, para evitar sequelas após o internamento”, frisa Rui Araújo, diretor do Serviço de Medicina Intensiva.

Ernestina Gomes esclarece que o risco de SPICI é identificado através de um conjunto de fatores, que implicam mais tempo de internamento e mais risco de desenvolver sequelas, como, por exemplo, a insuficiência respiratória grave e a existência de antecedentes de patologia psiquiátrica. 


Daniela Carvalho, Elena Molinos, Amélia Ferreira, Ernestina Gomes, Fernando Pinto e Cláudia Vales 

O projeto tem uma equipa fixa, constituída por três médicos (Ernestina Gomes, Daniela Carvalho e Elena Molinos) e cinco enfermeiros do Serviço de Medicina Intensiva (Amélia Ferreira, Rosa Jacinto, Cláudia Vales, Fernando Pinto e Francisco Sousa), que trabalham ativamente no seguimento dos doentes.

Otimizar o potencial de recuperação dos doentes


Após a identificação do risco de SPICI, há um conjunto de protocolos e boas práticas implementadas no serviço que permitem, no essencial, que o doente esteja sedado e ventilado por um menor tempo possível, o que, por si só, diminui o risco de sequelas. 



“Mesmo um doente ventilado pode e deve estar acordado se a sua patologia o permitir”, indica a médica intensivista. Se, durante o internamento no SMI ou depois da alta durante o internamento no HPH, for identificada uma componente de SPICI, "os doentes são referenciados a outro serviço, como o de Medicina Física e de Reabilitação, Psiquiatria, Nutrição, ORL, Dor Crónica, etc".

Estes pedidos de colaboração e subsequentes consultorias multidisciplinares irão otimizar o potencial de recuperação dos doentes. 


Rui Araújo

“Se em qualquer momento do processo houver necessidade de outras intervenções que extravasam o domínio dos cuidados intensivos, o doente beneficia de um gestor do seu processo que identifica quais são os problemas  passíveis de intervenção e que o referencie ao interlocutor adequado para os tentar controlar”, salienta Rui Araújo.

Envolver a família no tratamento do doente

Desde abril de 2017 que o projeto passou a envolver, de forma estruturada, uma nova vertente. Foi implementada uma intervenção que aborda a família, reconhecendo o seu papel na ajuda do doente, mas igualmente as suas necessidades individuais.

A enfermeira Cláudia Vales, que se tem dedicado de forma particular a esta área, sublinha que a SPICI está reconhecida como entidade extensiva à família: “Obviamente que a família não vai ter componentes físicos, sendo, porém, frequentes as consequências psicológicas, nomeadamente, a ansiedade, a depressão e o stress pós-traumático.

O objetivo é incluí-la no tratamento do doente e tentar identificar os fatores que poderão ser de risco de mais SPICI no seio familiar.“ Na prática, o que acontece agora, conta Amélia Ferreira (enfermeira chefe do Serviço) é que, ao terceiro dia de internamento no SMI, é feita a caracterização da família.



Quando o doente tem alta para outro serviço, é visitado pela enfermeira-chefe e por um dos três médicos do grupo dedicado ao seguimento pós-internamento nos cuidados intensivos, que se deslocam todas as quintas-feiras à enfermaria para avaliar o doente, aproveitando para conversar com a família e realizar os primeiros testes de ansiedade e depressão aos familiares/cuidadores informais.

Após a alta, quando o doente é convocado para a consulta de seguimento aos três meses, é pedido que se faça acompanhar do seu familiar/cuidador. Nessa altura, são feitas duas consultas (uma médica e outra de enfermagem) individualizadas, com um e com o outro.

Se se concluir que a família tem níveis de ansiedade/depressão que ultrapassam a sua capacidade de gestão, é reencaminhada para a Psiquiatria (do HPH ou de outro hospital). O grande objetivo é intervir o mais precocemente possível.

Diário em cuidados intensivos

Esta equipa multidisciplinar de follow-up foi responsável, também, pela implementação de uma plataforma de comunicação e interação entre os profissionais, o doente e a família: o “diário” em cuidados intensivos.

“Os diários podem ser escritos por médicos, enfermeiros e assistentes operacionais do Serviço, assim como por outros profissionais envolvidos em intervenções feitas ao doente e também pela família. Nele é explicado, por palavras simples, aquilo que vai acontecendo enquanto os doentes estão internados”, refere Ernestina Gomes.



Os diários em cuidados intensivos, que são elaborados quando os doentes estão sedados e ventilados mais do que três dias, visam contribuir para a prevenção do stress pós-traumático, criando memórias de factos e evitando que tenham memórias delirantes. Há quem continue a escrever no diário depois de o mesmo lhe ser entregue.

Por outro lado, eles também são importantes para as famílias, porque reforçam o seu papel na comunicação com o doente enquanto este permanece sedado.

“Há famílias que pintam, mandam fotografias dos netos, dos filhos, dos amigos, postais de Natal, e nós colamos tudo no diário. Ele pode ser também fundamental nos processos de luto”, conta Ernestina Gomes.




A reportagem pode ser lida na edição de fevereiro 2018 do Hospital Público.

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