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Implantes cocleares: curso inédito organizado por 4 centros hospitalares

Realizou-se, pela primeira vez, um curso de implantes cocleares organizado pelos maiores centros hospitalares universitários do país. Numa fusão inédita, os CHU de Coimbra, São João e Porto aceitaram o repto lançado por Lisboa Norte de se debruçarem sobre a atualização em implantes cocleares.



Dissecação de cadáver de cabeça: uma experiência "muito mais realista"

Num programa de dois dias, no final de outubro, dividido entre aulas teóricas e práticas e cirurgias ao vivo em quatro doentes com surdez neurosensorial profunda, incidiu-se sobre a avaliação pré-operatória, a reabilitação e o prognóstico.


Leonel Luís

A dissecação de cadáver de cabeça congelada inteira foi um dos momentos mais aguardados pelos internos de Otorrinolaringologia (ORL), por ser “uma experiência muito mais realista, completamente distinta da cirurgia em osso temporal inerte”, explica Leonel Luís, diretor do Serviço de ORL do CHULN e impulsionador deste curso.

Também as cirurgias ao vivo foram momentos muito esperados pelos participantes, principalmente por ter sido “das primeiras vezes, senão a primeira, em que se projetaram imagens em 3D e 4K em ORL”.

Esta iniciativa enquadra-se no trabalho em rede que está a ser feito nesta área dos implantes cocleares, pelos CHU de Lisboa Norte, Coimbra e Porto, e ainda pelo CH de Vila Nova de Gaia/Espinho desde 2017. Sendo o CHU de Coimbra o centro de referência na área, o objetivo é “partilhar a sua experiência com os centros afiliados”. Até ao momento, o CHVNG/E é apenas referenciador, não realizando o procedimento, enquanto o CHUSJ está interessado em integrar esta rede.



“Não trabalhamos com pessoas que estão doentes, mas sãs”

Luís Filipe Santos Silva é quem dirige o Serviço de ORL do CHUC, o centro hospitalar que “tem o mais elevado número de implantes cocleares realizados”. Até à data desta formação, contavam-se quase 1500 surdos (adultos e crianças) implantados, neste que é o centro de referência nacional mais antigo nesta área. Tal deve-se ao facto de esta intervenção, no CHUC, remontar já a 1985, data em que surgiu também na Europa − na Alemanha e na Noruega.



Na sua ótica, este tipo de formações são muito importantes, “porque a casuística é baixa”, mas também porque esta intervenção se inclui “na vasta área da biotecnologia da saúde, que está em constante evolução e que engloba parâmetros complexos e de tamanha responsabilidade”. Ao mesmo tempo, “servem para que os nossos níveis de exigência na área da Saúde sejam equiparados aos dos restantes países da Europa”.

Como destaca, “nós não trabalhamos com pessoas que estão doentes, estão sãs, mas a possibilidade da sua introdução no mundo dos ouvintes realça a importância de áreas como esta, de recuperação funcional, terem a devida atenção”.


Luís Filipe Santos Silva e Carla Pinto Moura

“Uma metodologia que modifica a vida das pessoas”

Carla Pinto Moura, diretora do Serviço de ORL do CHUSJ, foi uma das coorganizadoras e palestrantes deste curso. Abordando a questão da causalidade genética da perda auditiva, a especialista explicou, em declarações à Just News, que essa avaliação é “fundamental para o prognóstico”, avançando que a resposta aos implantes se correlaciona com a mutação identificada do gene causal da hipoacusia. Ao mesmo tempo, “é relevante para prever se a perda auditiva é ou não de carácter progressivo, orientando a escolha do elétrodo mais ajustável a implantar”.

No CHUSJ, o primeiro implante coclear foi realizado em dezembro de 2016, e a diretora daquele Serviço não tem dúvidas de que se trata de “uma metodologia que modifica completamente a vida das pessoas”. Até porque, nota, “este primeiro implantado é hoje um adulto ouvinte que consegue falar comigo a utilizar máscara, quando anteriormente fazia apenas leitura labial”.

Reconhecendo a “mais-valia para a divulgação científica e aprendizagem destes cursos”, Carla Pinto Moura valoriza ainda a “colaboração institucional entre o CHUSJ e o CHULN, em tudo o que respeita a apoio e a troca de conhecimento”.



“A dissecção em cadáver permite replicar o procedimento feito na cirurgia”

Em representação do Serviço de ORL do CHUP, esteve presente neste curso o otorrinolaringologista João Lino. Referindo terem já realizado, no CHUP, quase oito dezenas de implantes cocleares, valoriza o trabalho conjunto realizado pelos quatro centros hospitalares. “Vamos caminhando no sentido da maior autonomia e independência, mas partilhando sempre comunicações e resultados”, destaca.


João Lino

Quanto a este programa formativo, caracterizou a dissecção em cadáver como “uma importante componente prática, onde se replica totalmente o procedimento feito na cirurgia”. Para si, esta vertente tem grande importância também porque “alguns internos não têm a possibilidade de fazer este treino nos seus hospitais”.



VII Curso de Diagnóstico, Tratamento e Reeducação vestibular

Os três dias que se seguiram ao curso de implantes cocleares foram também de formação, neste caso, na área vestibular. Nesta que foi a sétima edição do curso, foram abordados a anatomia, fisiologia, avaliação e reabilitação vestibular. Tendo a particularidade de ser muito internacional, este curso já foi participado, segundo Leonel Luís, por alunos de 31 países diferentes. Este ano, acabou por ter uma intensa participação ibérica.



Enquanto o primeiro curso contou com 40 participantes, tendo havido outros 40 em lista de espera, o segundo reduziu-se a apenas 20 elementos, divididos em três grupos de trabalho.


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