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Infeciologia em Aveiro: Intervenção em estabelecimento prisional com «bons resultados»

O Serviço de Infeciologia (SI) do Centro Hospitalar do Baixo Vouga – Aveiro conta já com alguns anos de experiência no seguimento clínico dos detidos no estabelecimento prisional da cidade, que dista uns escassos 350 metros do hospital.

Foi em 2001 que se estabeleceu um protocolo entre o então designado Hospital Infante D. Pedro e o Estabelecimento Prisional Regional de Aveiro (EPRA), através da intervenção, na época, da Sub-região de Saúde do Centro.


Nessa altura, a atividade na área do VIH/SIDA no hospital desenvolvia-se só na consulta e contava apenas com uma médica, a atual diretora do Serviço, a infeciologista Célia Oliveira. Só no ano seguinte foi iniciada a atividade no internamento.

Posteriormente, já em 2007, o Serviço de Infeciologia foi reconhecido como tal pelo, à data, Conselho de Administração do hospital, nessa altura, contando já com três médicos especialistas na área.

Desde que o protocolo foi estabelecido até ao início de julho de 2017, já foram efetuadas 440 consultas a pessoas que estavam detidas no estabelecimento prisional, a maioria das quais portadoras de hepatite vírica B (em menor número) e C (a grande maioria). Assim, 57 foram consultas de imunodeficiência e 383 de Infeciologia geral.

Célia Oliveira afirma que a relação do Serviço com o EPRA tem corrido “bastante bem”, quer com os diversos diretores do estabelecimento prisional, quer com os médicos que estão adstritos ao estabelecimento.



A maior dificuldade nesta matéria prende-se com a mobilidade dos detidos. “Este estabelecimento prisional é de baixa segurança, ou seja, funciona muitas vezes como local de transição,
enquanto os detidos estão à espera da sentença. Com bastante frequência, são transferidos para outros estabelecimentos prisionais sem conhecimento prévio e, por vezes, nem sempre existe oportunidade de enviar a informação clínica do doente, com as consequências que daí advêm – recomeçar todo o processo de avaliação clínica noutro local.”

Na opinião da médica, seria importante melhorar a comunicação entre os estabelecimentos prisionais, por forma a manter a continuidade do trabalho iniciado, evitando as repetições de exames auxiliares de diagnóstico e o desconforto e acréscimo de custos associados. Dessa forma, poupar-se-iam recursos que, como refere, “acabam por ser desperdiçados”.

Ainda que raramente, tem havido indivíduos com infeção pelo VIH seguidos no Serviço que foram transferidos para outros hospitais e pediram para continuar a ser seguidos em Aveiro, com um bom feedback das instituições que os recebem, permitindo manter a relação médico/doente já estabelecida. Na sua opinião, esta é uma atitude “louvável” por parte de quem está a gerir o estabelecimento prisional e que denota bastante sensibilidade na perceção da importância dessa relação no êxito do seguimento clínico.

Até à data, os doentes seguidos em consulta foram todos do sexo masculino, o que não é de estranhar, dado que a percentagem de mulheres detidas naquele estabelecimento prisional é muito inferior à dos homens.

“O nosso balanço é fortemente positivo. Os resultados têm sido bons, havendo uma boa adesão à terapêutica, talvez por estarem mais disponíveis, pois, têm o tempo mais controlado”, refere a médica. Com os novos fármacos disponíveis para tratamento da hepatite C, “o desafio é menor, mas os resultados muito mais gratificantes”, aponta, lamentando apenas os doentes e recursos que se perderam no processo de transferência.

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