Laparoscopia continua a ser a solução cirúrgica de eleição na endometriose

“Embora, por vezes, se tenha de recorrer a uma abordagem cirúrgica clássica, o gold standard no tratamento cirúrgico da endometriose é a via laparoscópica, atualmente também com a possibilidade da vertente robótica”, afirma Fátima Faustino. A ginecologista adianta que mais de 90% das cirurgias que realiza para tratar esta doença são por laparoscopia.

“Sempre achei que a endometriose era uma patologia muito mal entendida, acabando mesmo por ser algo desvalorizada até por colegas ginecologistas. Aliás, a dor menstrual sempre foi considerada como normal, mas o facto é que ela pode condicionar completamente a vida da mulher. Além disso, as queixas dolorosas prolongam-se muitas vezes para fora da menstruação e surgem associadas, por exemplo, a dor intestinal ou nas relações sexuais”, observa Fátima Faustino, coordenadora do Centro Especializado em Endometriose do Hospital Lusíadas Lisboa e atual presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.


Fátima Faustino

“É uma doença com repercussões e implicações gravíssimas”, frisa a médica, salientando que afeta cerca de 10% das mulheres em idade fértil, 30 a 50% das quais podem vir a ter problemas de infertilidade. “Isto para além da questão da própria dor incapacitante e da forma como esta condiciona a vida pessoal e profissional de quem sofre de endometriose”, observa.

Sendo uma doença que começa na adolescência, “surgem-nos mulheres em idades muito jovens, obrigando, por isso, a recorrer a uma técnica cirúrgica que preserve ao máximo a sua fertilidade, poupando sempre que possível o útero, ovários e trompas e que seja minimamente invasiva”.

Fátima Faustino lembra que o recurso à cirurgia se verifica quando não é possível optar pelo tratamento médico, seja porque simplesmente não resulta, ou se não for possível usar terapêutica hormonal, nomeadamente quando a mulher quer engravidar. “O ideal seria mesmo conseguir-se arranjar uma terapêutica não hormonal eficaz no tratamento da endometriose, o que não é uma tarefa fácil”, assegura.



Curso de Treino para Certificação em Laparoscopia

Filipa Beja Osório, coordenadora do Centro de Endometriose do Hospital da Luz Lisboa, sublinha que a cirurgia laparoscópica ginecológica “tem revolucionado a prática cirúrgica ao oferecer procedimentos minimamente invasivos, que proporcionam menor tempo de recuperação, menos dor pós-operatória e melhores resultados estéticos para as pacientes”.

Mas logo adianta que “a complexidade técnica desta abordagem cirúrgica exige um treino rigoroso, de modo a assegurar que os profissionais estejam aptos a realizar uma intervenção com segurança e eficácia”. Aliás, esse treino “é um processo multifacetado, que começa nos primeiros anos do internato de Ginecologia/Obstetrícia”.


Secção de Endoscopia Ginecológica: Hélder Ferreira, Filipa Beja Osório e Hugo Gaspar

É com o objetivo de “divulgar a laparoscopia e promover uma abordagem cirúrgica minimamente invasiva e eficaz” que, no âmbito da próxima reunião da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), agendada para dias 7 e 8 de junho, em Albufeira, vai a sua Secção de Endoscopia Ginecológica promover um curso dedicado a esta técnica.

O Curso de Treino para Certificação em Laparoscopia, realizado em colaboração com a Sociedade Europeia de Endoscopia Ginecológica (ESGE), aplica o programa GESEA (Gynaecological Endoscopic Surgical Education and Assessment), que se baseia no treino e certificação do conhecimento e destreza prática antes da competência cirúrgica.



O painel de monitores desta ação de formação inclui a própria coordenação da Secção de Endoscopia Ginecológica da SPG, formada por Hugo Gaspar (presidente), Filipa Beja Osório (secretária) e Hélder Ferreira (tesoureiro).

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