Menopausa: «A intervenção do médico de família deve começar antes dos primeiros sintomas»
Paulo Pessanha, copresidente das Jornadas Multidisciplinares de Medicina Geral e Familiar (MGF), evento que já vai na sua 7.ª edição, lamenta que continuem a existir tantos mitos em torno da menopausa, assegurando que os médicos de família estão numa posição privilegiada para aconselhar as utentes nesta fase tão particular das suas vidas.
“O médico de família pode ajudar, informar e orientar as suas utentes sobre esta fase da vida da mulher, até porque a acompanha durante largos períodos da sua vida. Tem um papel muito importante!”, afirma.
A menopausa corresponde à data da última menstruação, mas, normalmente, esta só se considera estabelecida ao fim de 12 meses sem período menstrual.
“Neste âmbito, a intervenção do MF deve começar até antes dos primeiros sintomas se manifestarem, informando que a menopausa deve ser encarada como um facto natural e fisiológico, explicando do que se trata, o que pode suceder e o que é possível fazer para lidar com a situação”, refere Paulo Pessanha, sublinhando ser “muito importante procurar compreender e ajudar a mulher do ponto de vista psicológico, desfazendo os mitos que existem”.
Paulo Pessanha
E prossegue: “A menopausa é uma fase da vida da mulher capaz de originar transtornos psicológicos importantes, até porque, em consequência das alterações hormonais que se verificam, o seu corpo sofre alterações frequentemente bastante significativas. É muito comum, por exemplo, a ideia de que, chegada a essa fase da vida, a componente sexual deixa de existir, porque o prazer e a própria vontade desaparecem, o que não é verdade!”
“É muito importante que a mulher aceite a menopausa como ela é e não como se fosse um ‘drama’”, insiste Paulo Pessanha. Uma das questões que preocupa sobremaneira a mulher é a possibilidade ou não de engravidar, devendo o médico esclarecer devidamente estas e outras dúvidas.
“Podem surgir ondas de calor, irritabilidade persistente, insónias, alterações da pele, secura vaginal... Há uma panóplia de sintomas que podem aparecer na menopausa”, enumera o nosso entrevistado, sendo certo que há mulheres que são praticamente assintomáticas, ao contrário de outras, que têm sintomas “verdadeiramente incapacitantes”.
Surge então a questão candente da terapêutica hormonal de substituição, como uma solução para o tratamento destes sintomas. Esta terapêutica levanta múltiplas questões, algumas não consensuais, que se têm vindo a discutir ao longo dos anos. O especialista Cláudio Rebelo irá esclarecer o “estado da arte” relativamente a este assunto.
“A hemorragia uterina fora do contexto do período menstrual é sempre um sinal de alerta que importa esclarecer adequadamente”
Para além do tema da menopausa, desenvolvido por Cláudio Rebelo, será abordada a hemorragia uterina anormal, tendo sido convidada para o efeito Tânia Barros, do Serviço de Ginecologia do Centro Materno-Infantil do Norte, que integra a ULS de Santo António.
“O médico de família é frequentemente confrontado, na sua atividade diária, com sangramentos anómalos em mulheres em idade fértil e em menopausa, sendo muito importante saber que situações pode potencialmente acompanhar e tratar, que tipo de exames pedir e quando referenciar essas doentes para a Ginecologia hospitalar”, afirma Paulo Pessanha.
E enumera, como exemplos de situações consideradas anormais, a hemorragia que acontece fora da menstruação, o período menstrual com fluxo bastante aumentado ou prolongado no tempo, ou o pequeno sangramento que não para.
Uma coisa é certa, “a hemorragia uterina deve ser sempre vista como um sinal de alarme quando ocorre fora do contexto fisiológico da mulher!” É então preciso “fazer o diagnóstico para se procurar saber a razão do sangramento anormal, sendo a ecografia um dos exames mais importantes e as análises gerais fundamentais, devendo-se incluir a realização de um estudo hormonal”.
Paulo Pessanha deixa o alerta: “Se houver repercussão dessa hemorragia na saúde geral da mulher, se se verificar uma perda de sangue significativa acompanhada de anemia, a situação é potencialmente mais grave, devendo a hemorragia ser controlada o mais rápido possível.