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Pedro Canas da Silva, um Homem que «ajudou a Cardiologia portuguesa a afirmar-se»

Faleceu, durante a manhã de ontem, Pedro Canas da Silva, um dos mais ilustres cardiologistas portugueses. Na última semana, o ex-coordenador da Unidade de Cardiologia de Intervenção Joaquim Oliveira, que integra o Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), havia sido homenageado, num evento organizado pela instituição.

A iniciativa assinalou os 10 anos da intervenção percutânea da válvula aórtica - TAVI neste centro hospitalar e o empenho que Pedro Canas da Silva colocou na implementação desta técnica.


Pedro Canas da Silva

"Uma figura exemplar no trato com os doentes, os colegas e os profissionais"

Contactado pela Just News, Fausto Pinto, diretor do Serviço de Cardiologia e do Departamento de Coração e Vasos do CHULN, lamentou “a perda de um amigo e companheiro, que teve uma atividade muito importante no Serviço, enquanto coordenador de uma Unidade de grande relevo”. Referiu ainda que o cardiologista foi “um dos pilares fundamentais da estratégia que montou no Serviço”.

Este é, por isso, “um momento triste, pelo desaparecimento de uma figura exemplar no trato com os doentes, os colegas e os profissionais que com ele lidavam”. Por tudo isso, “ficará para sempre como uma referência nos nossos pensamentos e na nossa mente”.

Também Eduardo Infante de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC) − associação cofundada por Pedro Canas da Silva−, caracterizou o colega como “um cardiologista de extraordinário talento e dedicação, que consagrou a sua vida à prática da Medicina e que tinha uma personalidade magnética a que ninguém era indiferente”.

Destacou ainda a sua “enorme capacidade de ligação com os mais jovens e o treino que deu a várias gerações de cardiologistas”.



"Um elemento fundamental... acima de tudo, para os doentes"

Recuando à sessão de abertura do evento TAVI – 10 anos no CHULN, que se realizou a 26 de setembro, no Hospital de Santa Maria, Fausto Pinto começou por referir a ambivalência sentida, por ser “um momento de celebração pela implementação, ao longo destes 10 anos, desta técnica, que muito tem impactado a qualidade de vida dos doentes, e de alguma tristeza por aquele que iniciou este percurso nesta casa não estar nas melhores condições físicas”.

Para si, Pedro Canas da Silva foi “um elemento fundamental nesse início de jornada e a sua atividade foi muito importante para o Serviço e, acima de tudo, para os doentes”. Por isso, entende que “esta homenagem é mais do que justa, ao procurar agradecer, de forma clara, pelo seu trabalho, quando, muitas vezes, as instituições são acusadas de alguma frieza quando não reconhecem os seus profissionais”.


Filho de Pedro Canas da Silva recebe das mãos de Fausto Pinto o louvor entregue ao seu pai

A maior homenagem "será prosseguir o projeto"

Já na sessão de homenagem, Nunes Diogo, ex-diretor do Serviço de Cardiologia do CHULN, usou da palavra para reiterar que “esta homenagem não é só merecida; é devida” e dizer que, tendo convivido com aquele profissional até se ter reformado, apesar das “várias erupções que existiram pelo caminho, conseguiu-se uma colaboração de louvar”.

A título particular, destaca o facto de terem conseguido, “num período difícil em termos financeiros, entre 2010 e 2014, colocar em ação dois programas que tiveram um impacto notável na vida do hospital, do serviço e, fundamentalmente, dos doentes”. Referia-se aos programas da TAVI e das angioplastias primárias.

Daniel Ferro, presidente do Conselho de Administração do CHULN, agradeceu a Pedro Canas da Silva por “tudo o que fez pela grande diferenciação do Serviço” e sugeriu que “a maior homenagem que lhe pode ser feita será, naturalmente, prosseguir o projeto que está previsto, de melhoria das infraestruturas do Serviço e potenciação das áreas técnicas onde gostaria de trabalhar naquilo que seria o seu gozo profissional”.

Um exemplo "de luta pelos seus sonhos até os conseguir, em prol dos seus doentes”

O presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, Lino Gonçalves, também marcou presença nesta homenagem, começando por referir, desde logo, que Pedro Canas da Silva foi “um dos elementos mais ilustres da SPC, que ajudou não só o Serviço de Cardiologia do CHULN, mas a Cardiologia portuguesa”. E notou que, “através das discussões dirigidas, conseguiu que fossem o mais profícuas possível e fizessem com que a Cardiologia nacional avançasse”.


Lino Gonçalves, Fausto Pinto e Pedro Cardoso, que sucedeu na coordenação da Unidade de Cardiologia de Intervenção  

Lino Gonçalves enobreceu ainda “a preocupação que sempre teve com a próxima geração de jovens cardiologistas de intervenção, assegurando que conseguissem chegar mais longe do que ele”, reforçando que “o legado que deixa não deve ser esquecido pelos mais novos”.

Nessa ótica, evidenciou que Pedro Canas da Silva deve ser visto pelos cardiologistas vindouros como “uma referência e um exemplo de trabalho, de luta pelos seus sonhos até os conseguir, em prol dos seus doentes”.


A preocupação de Pedro Canas da Silva em que os jovens cardiologistas chegassem "mais longe do que ele"

A Unidade de Cardiologia de Intervenção do CHULN foi criada em 1991, oferecendo apenas exames de diagnóstico. Em 1993, passou a fazer também intervenção cardiovascular. Desde então, e graças também ao contributo de Pedro Canas da Silva, que a coordenava deve 2005, cresceu de tal forma que se tornou uma referência nacional e internacional. O cardiologista via a área da Intervenção como “um mundo fascinante”.

Desde 2012, a equipa multidisciplinar, que envolve cardiologistas de intervenção, cirurgiões torácicos, anestesistas, imagiologistas, enfermeiros, técnicos e internos, já implantou mais de 900 válvulas aórticas percutâneas, através de uma técnica menos invasiva e com recuperação mais rápida para a maioria dos doentes de risco.



Pedro Canas da Silva foi ainda coordenador do Grupo de Estudos de Hemodinâmica e Cardiologia de Intervenção, entre 2007 e 2009, e um dos fundadores da APIC, que resultou precisamente da evolução do GEHCI. Em 2021, foi nomeado sócio honorário da APIC. Formou-se pela FMUL e fez todo o processo de internato do Hospital de Santa Maria. Ao longo da sua carreira, fez as três técnicas que mais salvam vidas em Cardiologia – pacing e intervenções coronária e estrutural.

O corpo estará em câmara ardente na capela da Igreja do Campo Grande, hoje, dia 4 de outubro, a partir das 18h00, sendo a Missa e o funeral amanhã, dia 5 de outubro, às 12h45m, a partir da Igreja do Campo Grande.


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