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«Não compreendo que não exista Saúde do Idoso quando há Saúde Infantil»

A existência muito reduzida de unidades de Geriatria no SNS constituídas por equipas multidisciplinares capazes de fazerem a avaliação geriátrica global e a falta de autonomia que têm são dois entraves para o desenvolvimento da Geriatria em Portugal. A convicção é de Sofia Duque, coordenadora do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.


Em entrevista à Just News, a médica salienta que "a Geriatria não está contemplada no nosso SNS e, por isso, infelizmente, não há um motor para desenvolver unidades de Geriatria em todos os hospitais”.

No seu entender, “é preciso que essas unidades sejam valorizadas, não sendo consideradas uma resposta supérflua, mas sim fundamental e estrutural do sistema, e que seja feito um investimento em consonância”. Para si, essa concretização “faria todo o sentido, considerando o envelhecimento da população portuguesa”.

Segundo a médica, no plano ideal, essas unidades “deveriam ter uma área de internamento para doentes agudos com multimorbilidade e várias síndromes geriátricas e ser constituídas por uma equipa multidisciplinar que fizesse a avaliação geriátrica do doente”.

Cumulativamente, seria muito importante que tivessem “uma forte componente de consultadoria junto de outras enfermarias médicas e cirúrgicas, e ainda englobassem valências como a Ortogeriatria e a Oncogeriatria, dado serem problemas prevalentes na população idosa, que justificam a existência de respostas especializadas”.

No entanto, realça que o facto de “várias unidades de Ortogeriatria terem sido encerradas durante a pandemia e depois não terem reaberto de forma célere reflete a importância secundária que se atribui à problemática das pessoas idosas”.

Intervenção nos serviços de Urgência

A coordenadora do NEGERMI adianta que, “hoje em dia, fala-se em modelos de assistência clínica em Geriatria, que contemplam, por exemplo, a intervenção nos serviços de Urgência”.

A título de exemplo, refere que “no Reino Unido muitos hospitais têm as suas unidades de fragilidade integradas na Urgência, permitindo obviar muitas admissões hospitalares e garantindo uma resposta eficiente após a alta, ao focar-se também na vertente social, além da clínica”.



Sofia Duque: “A Geriatria só se conseguirá desenvolver a partir do momento em que tiver autonomia e for uma prioridade estrutural do SNS”

No campo dos hospitais privados que conhece, nota que “há um interesse na resposta clínica a esta população – em termos de Internamento e de Ambulatório – e em torná-la mais favorável e personalizada”.

No caso do Hospital CUF Descobertas, onde trabalha desde outubro de 2021, explica que a sua integração na equipa permitiu reativar, nessa data, a Consulta de Geriatria, que estava descontinuada por falta de médico.

Sofia Duque reconhece que a Consulta “tem uma procura cada vez maior porque a população começa a identificar como necessidade básica ter acesso a cuidados de saúde especializados, da mesma forma que as crianças acedem à especialidade de Pediatria”. A título futuro, o objetivo é “melhorar os cuidados oferecidos no Internamento”.

A médica entende que “a autonomia das unidades de Geriatria seria fundamental para haver uma consistência de processos e procedimentos e para se estabelecerem linhas orientadoras e planos de ação”.

“Para se fazer bem Geriatria, é preciso formação, sensibilização, vocação e entrega”

Enquanto coordenadora do NEGERMI, função que iniciou em outubro de 2021, destaca que “a formação é uma das grandes apostas do Núcleo e, inclusivamente, o seu mote, pois, esse é o primeiro passo para começarmos a tratar as pessoas idosas de forma mais correta”.

A internista adianta que não tem havido dificuldade em encontrar formandos, muito pelo contrário, “tem existido muita procura não só de médicos mas também de outros profissionais
de saúde, o que significa que daqui a alguns anos poderá haver cuidados mais especializados”. Daquilo a que tem assistido, “cada vez há menor preconceito e, apesar de a Geriatria não ser a área mais atrativa para a maioria dos profissionais, há muitos a procurá-la, inclusivamente internos e jovens especialistas”.

Na opinião da médica, há certos requisitos que é necessário preencher  para abraçar esta área: “Para se fazer bem Geriatria, é preciso formação, sensibilização, vocação e entrega, para responder da melhor forma não só aos problemas clínicos mas também sociais e psicológicos. Tal exige que os profissionais se dediquem a esta área por gosto e não por obrigação.”

O desafio inerente a esse campo de trabalho é, na sua ótica, um fator de atratividade, pois, “cada vez há mais idosos e, com o avançar da idade, começam a surgir condições que antes eram raras”. Tal faz com que “estes doentes sejam a nova Medicina e o seu estudo e tratamento sejam desafiantes. Adicionalmente, essa prática clínica não é rotineira e obriga a um trabalho de equipa. E os idosos costumam reconhecer o trabalho feito e mostrar-se gratos pelas pequenas melhorias”.

Sofia Duque considera que “a Medicina Geriátrica deve ser do interesse de todos os médicos internistas e de família, e também que os clínicos de outras especialidades médicas devem ter competências básicas em Geriatria”.

Lamenta que tal não aconteça ainda de forma generalizada pelo facto de “a formação médica prégraduada nesta área não estar ainda devidamente desenvolvida”. De facto, “alguns cursos de Medicina já cobrem assuntos relacionados com a Geriatria, mas ainda falta a componente prática”.



A entrevista completa pode ser lida na edição de janeiro/fevereiro do Hospital Público.

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