O GENIUS e a investigação em patologia digestiva: «Queremos desenvolver massa crítica»

Ao fim de quatro anos, o balanço da atividade desenvolvida pelo GENIUS – Grupo de Investigação em Patologia Digestiva da Luz Saúde “é muito positivo”, assegura Marília Cravo, coordenadora deste grupo multiprofissional.
 
Em declarações à Just News, a gastrenterologista e coordenadora-adjunta do Centro de Oncologia do Hospital da Luz Lisboa, refere que, só no ano passado, profissionais da sua equipa tiveram mais de 10 papers publicados. No entanto, o trabalho que a equipa tem desenvolvido é muito vasto e são vários os motivos para Marília Cravo estar satisfeita com o que têm conseguido.

“A Joana Torres é um grande motor deste grupo”

A médica esclarece que o GENIUS tem “duas grandes áreas de investigação”, a doença oncológica e a doença inflamatória do intestino, fazendo questão de destacar o papel de Joana Torres, “uma expert em doença inflamatória do intestino”, para o crescimento do GENIUS:

“Foi muito importante o financiamento internacional que a Joana conseguiu, em 2019, com o Estudo Clínico CROCO (CROhn’s Disease COhort Study) – um estudo multicêntrico internacional, envolvendo mais de 20 centros hospitalares da Europa, e que tem como promotor, pela primeira vez, o Hospital da Luz Learning Health (HL LH).”

Marília Cravo  adianta que “esta investigação permite estudar a evolução da doença ao longo de um período de 7 anos e foi, de facto, o primeiro projeto gerido  pelo HL LH, com investigadoras, com gestoras do projeto, organizando todo esse processo. E com um financiamento de cerca de 2 milhões.”

E acrescenta: “Mais recentemente, temos outro estudo, também da Joana Torres, em colaboração com o IPATIMUP (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da universidade do Porto), com o grupo da Salomé Pinho, na área dos glicanos, com um financiamento no valor de 7 milhões. A Joana Torres é, sem dúvida, um grande motor deste grupo. A investigação que ela faz está principalmente ligada à fase pré-clínica da Doença de Crohn, que atinge sobretudo os indivíduos jovens e cuja incidência está a aumentar brutalmente.”


Marília Cravo

O facto da investigação se focar muito numa fase pré-clínica da doença é, particularmente importante, sublinha a médica:

“Ou seja, quando o doente nos aparece com diarreia, com sangue, já desnutrido, com outras manifestações, nós fazemos uma colonoscopia e fazemos o diagnóstico da Doença de Crohn mas, provavelmente, já o doente tem a doença há alguns anos. Ou seja, identificar esses marcadores pré-clínicos e atuar nessa fase é muito melhor do que atuar quando já existem estenoses, úlceras ou defeitos anatómicos no intestino. E é esse o caminho que estamos a percorrer.”

A coordenadora do GENIUS aproveita para esclarecer o motivo para tão preocupante crescimento da Doença de Crohn, indicando tratar-se de “mais uma doença autoimune e cujo fator de risco mais importante é ter história familiar. Mas, consistentemente, tem-se verificado que as dietas ocidentais, alimentos processados, muito poucas comidas frescas, são fortes motivos para o aumento de incidência desta doença”.
 
“Com um tratamento personalizado, menos tóxico, mais eficaz, vamos ter resultados muito diferentes”

Na vertente da Oncologia, o GENIUS tem trabalhado em particular o cancro do pâncreas. Qual o propósito? “É perceber quais os doentes que respondem à terapêutica, quais aqueles com maior probabilidade de recidiva. Como se sabe, o cancro do pâncreas é muito prevalente e tem uma grande morbimortalidade, muito difícil de tratar. Aparece já em fases avançadas.”

Segundo Marília Cravo, a equipa está, assim, focada “em marcadores de resposta”. Ou seja, “os doentes estão muitas vezes a fazer quimioterapia durante três ou quatro meses e nós não sabemos se o doente está a responder exatamente como queremos ou não”.

Dessa forma, e apostando novamente em parcerias, “trabalhamos com o IPATIMUP, com o grupo da professora Sónia Melo, em marcadores de resposta de vesículas, de exosomas, com a Faculdade de Ciências e de Tecnologia, com o grupo do professor Pedro Viana Baptista e Alexandra Fernandes, para vermos se as mutações diminuíram, se será um doente que está a responder mal, se mais vale a pena mudar de terapêutica.

Marília Cravo dá ainda um exemplo da importância da terapêutica personalizada em Oncologia: “Em 2014 saiu a nova classificação do cancro do estômago, que considera 4 subtipos moleculares. No entanto, na clínica continuamos a tratar estes subtipos todos da mesma maneira, independentemente de ser o subtipo A, B, C ou D. Estamos a tratar todos da mesma maneira, mas com um tratamento personalizado, menos tóxico, mais eficaz, vamos ter resultados muito diferentes. E é isso que queremos!”


Reuniões mensais

Um aspeto que merece destaque no funcionamento do GENIUS são as reuniões mensais que, pelas suas características, constituem “um elemento diferenciador” deste grupo.

De acordo com Marília Cravo, nestas reuniões, que se realizam todas as primeiras terças-feiras de cada mês, “não pretendemos discutir os trabalhos que estão terminados, mas antes discutir os trabalhos que se estão a programar.” E qual o objetivo? “Queremos que as pessoas acrescentem algo, queremos desenvolver massa crítica. Dar opiniões sobre estudos não só da doença inflamatória ou de oncologia, mas de áreas muito diversas”.

E dá um exemplo: “A Doutora Adalgisa Guerra, que também é do grupo, concorreu com um projeto individual, que foi financiado, e às vezes sente necessidade de falar com outros colegas e receber análises críticas. Ela trabalha em próstata, não tem nada a ver com o tubo digestivo e no, entanto, veio apresentar o seu trabalho.”
 
Estas reuniões do GENIUS estão, assim, “abertas a outros profissionais que tenham algum projeto e que gostem de partilhar. Eu não sou urologista, mas sou capaz de dar a minha perspetiva. E esta dinâmica é muito importante!”

Para Marília Cravo, não há qualquer dúvida: “Acredito que o desenvolvimento desta capacidade crítica melhora também a nossa performance clínica. Sempre que somos obrigados a estudar, a sair da rotina reunião-exame-consulta, faz-nos bem, ajuda-nos a raciocinar melhor. E, por isso, ao final do dia torna-nos, com certeza, melhores clínicos”.

Segundo a médica, o GENIUS, à semelhança dos outros cinco grupos de investigação que existem na Luz Saúde, “pretendem ser multiprofissionais, transversais a várias especialidades e por isso é que não é um único projeto. Devem abordar várias áreas e, no nosso caso, por exemplo, temos neste grupo de investigação cirurgiões, gastroenterologistas, nutricionistas, entre outros.”



Os trabalhos desenvolvidos pelos vários grupos de investigação serão apresentados no 2.º Congresso de Investigação do Hospital da Luz, que decorrerá no final desta semana, sexta-feira, no Auditório do Hospital da Luz Lisboa.

seg.
ter.
qua.
qui.
sex.
sáb.
dom.

Digite o termo que deseja pesquisar no campo abaixo:

Eventos do dia 24/12/2017:

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda