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O papel dos hospitais «na gestão dos doentes com VIH»

"O advento da terapêutica antirretrovírica tripla alterou de forma decisiva o modelo de cuidados ao doente com infeção VIH/SIDA, nomeadamente da resposta hospitalar", afirma Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH).

Novos desafios para os hospitais

Em declarações à Just News, o responsável recorda que, "em termos de volume de cuidados, evoluímos de uma resposta maioritariamente de internamento para uma resposta centrada no ambulatório" e que esta realidade trouxe grandes desafios para os hospitais:

"Genericamente, o foco do modelo de organização hospitalar nos últimos 100 anos está relacionado com a cura do doente e com a doença aguda. Esta alteração ao decurso natural da doença exigiu uma reformulação do modelo de cuidados de saúde. Esta modificação passa a não ser apenas de natureza estrutural, mas também conceptual."

Na sua opinião, em Portugal, "como em outros países, a resposta hospitalar foi sendo ajustada e, em muitos casos, foi possível desenvolver respostas multidisciplinares com base em clínicas de ambulatório, envolvendo-se não só o infeciologista ou o internista com competência nesta área, mas também outros profissionais de saúde, como, por exemplo, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos e nutricionistas".

Por outro lado, acrescenta, este novo contexto "exigiu que as próprias farmácias hospitalares se adaptassem à necessidade de dispensa de medicamento para o ambulatório. Questões como a adesão à terapêutica e a educação do doente passam a ser parte do quotidiano da farmácia hospitalar."


De acordo com Alexandre Lourenço, apesar do esforço no desenvolvimento de respostas centradas no doente, "não fomos ainda capazes de assegurar o continuum de cuidados" e a referenciação de doentes com infeção VIH/SIDA "continua a ser demorada e difícil em demasiados hospitais".

O administrador hospitalar adverte que "os programas de dispensa de medicamentos mais adequados às necessidades dos doentes (por exemplo, dispensa de ARV pelos programas de substituição opiácea, centros de diagnóstico pneumológico, ou por farmácias comunitárias) tardam em ser generalizados".

E sublinha: "Acima de tudo, ainda não fomos capazes de criar mecanismos sistemáticos para ouvir o doente e, consequentemente, ajustar a oferta de cuidados de saúde".



Alexandre Lourenço vai desenvolver este tema amanhã, sábado, durante as Jornadas organizadas pelo Núcleo de Estudos da Doença VIH (NEDVIH) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).

A mesa redonda onde vai intervir, intitulada "Doença VIH como modelo de gestão de doença crónica", será presidida por Telo Faria, presidente do NEDVIH, e participam, igualmente como palestrantes, o presidente da SPMI, Luís Campos, e a diretora do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, Mari Mesquita.

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