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Parto no século XXI: «Novos desafios ameaçam os bons índices alcançados»

Em Portugal, desde há várias décadas, o parto deixou de ser domiciliário e passou a ser realizado em serviços hospitalares. Contudo, adverte Cristina Nogueira-Silva, assistente hospitalar de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Braga, “tal não significa necessariamente o que muitos querem apregoar como uma medicalização de um fenómeno natural, mas sim a sua realização num cenário que permite a atuação emergente em situações que o exigem”.

A declaração da professora auxiliar da Escola de Medicina da Universidade do Minho e secretária-geral da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (SPOMMF) surge a propósito da última Reunião da referida sociedade científica, organizada pelo Serviço onde desenvolve atividade, cujo tema foi” O Parto no século XXI”.



A médica, que presidiu à Comissão Organizadora do evento, lembra, contudo, que nesta mudança “sempre que possível, é preciso manter a essência do parto como fenómeno natural e as expectativas e desejos dos casais para o momento do parto”.

Segundo refere, nos últimos anos, fruto de diferentes fatores, “o parto está envolto em controvérsias e tornou-se mote de pareceres mais oficiais ou mais oficiosos, notícias na comunicação social, discussões agressivas nas redes sociais, e conversa em qualquer família ou grupos de amigos e nem sempre pelos melhores motivos”.


Isabel Reis e Luís Mendes Graça

Conforme disse a diretora do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Braga, Isabel Reis, na sessão de abertura da Reunião, onde também marcou presença o presidente da SPOMMF, Luís Mendes Graça, “em qualquer pesquisa na internet, o que mais se vê são fotografias de partos nas mais diversas posições, com diferentes tipos de adereços, com histórias e/ou experiências mais ou menos floreadas, que a população ávida de informação tudo absorve e sempre dá como verdadeira e repetível”.

Portugal "bem posicionado na Europa"

De acordo com Cristina Nogueira-Silva, outra grande diferença no parto nas últimas décadas, diretamente relacionada com a sua orientação em instituições de saúde, "é precisamente a melhoria das taxas de morbilidade e mortalidade materna e perinatal a que assistimos em Portugal, que nos coloca entre os mais bem posicionados na Europa". Uma mensagem que ficou patente na conferência inaugural intitulada ‘Nascer em Portugal no século XXI’.



Mas, adverte, “é preciso que tanto profissionais como a população estejam conscientes que no século XXI há novos desafios que ameaçam os bons índices alcançados”, dando como exemplos a idade materna progressivamente mais avançada ou a obesidade e os seus riscos inerentes, nomeadamente no momento do parto.

Aspetos médico-legais no parto foi um dos temas em análise

De acordo com Cristina Nogueira-Silva, perante a evolução da ciência tocológica, o tema e o programa desta reunião surgiram naturalmente como “imperativo”. “Era premente uma reflexão, à luz da ciência, promovida pela SPOMMF. Temos responsabilidade pela saúde das mães e recém-nascidos portugueses, na melhoria dos índices de morbimortalidade associados com o parto e, simultaneamente, na concretização das expectativas de cada casal para o momento tão especial que é o nascimento de um filho.”

Das temáticas em discussão, e pela relevância para a prática clínica atual, na era da Medicina defensiva, Cristina Nogueira-Silva realça uma mesa-redonda dedicada aos aspetos médico-legais no parto (consentimento informado para o parto, responsabilidade legal dos profissionais em Tocologia, comunicação de desfechos adversos). “Foi extraordinário constatar o envolvimento de todos que colocaram as suas muitas dúvidas e promoveram uma alargada discussão.”

Outra das temáticas que realça é a sonda de Foley na indução do trabalho de parto, incluindo em mulheres com cesariana anterior, cuja evidência atual a coloca como uma estratégia de primeira linha.

“Para além das palestras dedicadas ao tema, foram vários os trabalhos apresentados, quer na forma de comunicação oral quer de póster, realizados em serviços nacionais, que versaram esta temática, comprovando a relevância da indução de trabalho de parto na atividade tocológica diária, numa população de gestantes com idade cada vez superior”, menciona, desenvolvendo que os trabalhos premiados como melhor comunicação e melhor póster versavam precisamente a maturação cervical com recurso à sonda de Foley.  



"o parto no século XXI é um processo multidisciplinar"

A especialista destaca o facto de ter sido possível congregar numa mesma reunião diferentes especialidades médicas (para além da Obstetrícia e Ginecologia, a Pediatria, a Anestesiologia, a Gastrenterologia, a Medicina Física e Reabilitação), bem como outros profissionais, como advogados e juristas, deixando patente como "o parto no século XXI é um processo multidisciplinar".

“É com convicção que afirmo que acredito que todos os que participaram nesta reunião da SPOMMF, dedicada ao parto, saíram enriquecidos para a sua atividade tocológica diária.”
 
Controvérsias no parto

Durante a reunião foram várias as controvérsias analisadas, à luz da evidência científica, entre as quais Cristina Nogueira-Silva começa por destaca “Quando laquear o cordão umbilical?”, pela “robustez científica” já atualmente existente, que exige adaptação da prática clínica à nova evidência.


Cristina Nogueira-Silva e Nuno Clode, vice-presidente da SPOMMF e membro da Comissão Organizadora da reunião

A especialista faz também alusão à “Via de parto na apresentação pélvica”, pela relevância desta temática nos serviços de Obstetrícia portugueses, e à conferência sobre o parto no domicílio/na água, "que tornou clara a literatura que permite justificar as recomendações da SPOMMF publicadas este ano, sobre estas temáticas”.



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