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«A prescrição social é uma resposta diferenciadora e é ainda mais necessária agora»

Esta quinta-feira assinala-se o Dia Internacional da Prescrição Social e, para Cristiano Figueiredo, médico de família na USF Baixa, é mais uma oportunidade de alertar para a necessidade de se apostar numa maior articulação entre a Saúde e a comunidade, através do Serviço Social.

“Cerca de 80% do estado de saúde de uma pessoa depende das suas condições de vida”, relembra o médico, que está a promover a realização de um webinar precisamente sobre o tema, dia 18 de março.



A USF Baixa tem desde setembro de 2018 um projeto de prescrição social, que visa dar respostas sociais para otimizar a saúde dos utentes. A ideia teve como mentor o médico de família Cristiano Figueiredo, que conheceu este conceito num intercâmbio Erasmus+, em 2015, em Londres.

“Quem tem de enfrentar problemas sociais acaba por ter pior saúde, vendo mesmo agudizar-se as doenças crónicas”, realça.

Perante a atual pandemia, o responsável considera mesmo que “a prescrição social é uma resposta diferenciadora e específica, vital neste momento”, numa altura em que aumenta o isolamento social, o desemprego e o sedentarismo.

“Nas consultas vemos que os idosos estão mais debilitados e mais sedentários, não conseguindo controlar tanto as suas doenças crónicas. Isto deve-se muito ao facto de terem deixado de participar em atividades propostas na prescrição social, como frequentar a Universidade Sénior, participar em convívios ou caminhadas.”

Cristiano Figueiredo diz-se preocupado com o facto de a pandemia e o confinamento estarem a aumentar os casos de isolamento social, que acabam por ter repercussões na saúde mental. “Anteriormente, incentivava-se o diálogo até com vizinhos, para se evitar a doença mental, como a depressão, ou até mesmo a demência. Hoje não é possível.”

Sendo a Baixa lisboeta uma zona multicultural, os imigrantes também têm sido dos mais afetados ou não fossem aqueles que trabalham, sobretudo, em áreas ligadas ao Turismo e à restauração. “Muitos tinham contratos precários e ficaram sem emprego; o problema é ainda maior por não saberem a quem pedir ajuda e por não terem uma rede familiar que dê um apoio mais imediato.”

USF Baixa: Cerca de 300 referenciações num só ano

O projeto de prescrição social da USF Baixa iniciou-se em 2018 e, desde então, apenas entre setembro de 2018 e dezembro de 2019 foram referenciados cerca de 300 casos para o Serviço Social.

A maioria devia-se a problemas de isolamento social, necessidade de benefícios sociais, sedentarismo e saúde mental. “Ficou claramente demonstrado que a prescrição social é fundamental e que devia ser integrada na resposta do Serviço Nacional de Saúde, tal como acontece, desde 2019, no Reino Unido”, defende Cristiano Figueiredo.

Como acrescenta: “É preciso assim apostar no reforço das equipas, nomeadamente de assistentes sociais. Na USF Baixa tivemos, até outubro passado, apenas a Andreia Coelho, cofundadora do projeto, partilhada entre três unidades de saúde. Atualmente temos mais um assistente social, contudo com a pandemia estão alocados a tarefas da Trace-Covid.”


Cristiano Figueiredo

A covid-19 trouxe vários desafios ao projeto, obrigando, no ano passado, ao cancelamento da celebração do Dia Internacional da Prescrição Social e a algum abrandamento no apoio dado, por falta de recursos. “As respostas estão na comunidade e como as associações locais e as organizações não-governamentais foram obrigadas a cancelar muitas atividades, as pessoas ficaram sem acesso aos seus serviços e apoios.”

Mesmo assim não deixaram de dar atenção a quem mais precisa. “Pedia-se sobretudo alimentos e medicamentos, que são obviamente importantes e que estão diretamente relacionados com a saúde e bem-estar dos utentes. A articulação pré-existente entre a Saúde e o Serviço Social permitiu dar-se apoio em tempo útil.”

Em 2020 também foi tempo de divulgar as mais-valias da prescrição social, quer junto da população, como interpares e junto dos alunos de Medicina da Nova Medical School, recorrendo para o efeito a plataformas digitais. “Esse foi o lado mais positivo.”

Nos próximos tempos, Cristiano Figueiredo acredita que vão aumentar as referenciações, por médicos e enfermeiros de família, de casos de solidão, sedentarismo, doença mental e necessidade de requalificação profissional, por causa das consequências do novo vírus.

Quanto à replicação da prescrição social a nível nacional, tem esperança no futuro. “Na USF Almirante, do ACES Lisboa Central, também já têm este projeto – alguns em parceria com a USF Baixa -, o Programa Municipal para a Saúde Mental da Câmara Municipal de Lisboa inclui a sua expansão a unidades funcionais do ACES Lisboa Norte e ACES Lisboa Ocidental e Oeiras e a Comissão da Saúde Mental do Health Parliament Portugal também quer avançar nesse sentido.”

"Assegurar a saúde das nossas comunidades durante a pandemia global"

A confirmar a ideia de que há cada vez um maior interesse nesta área são também os mais de 100 inscritos, a nível nacional, no webinar que assinala o Dia Internacional da Prescrição Social e que decorre entre as 15h e as 17h.

A iniciativa inclui uma sessão de perguntas e respostas sobre a funcionalidade e utilidade da prescrição social e um debate sobre or recursos da comunidade, com apresentação de "novas respostas, atividades e serviços da comunidade"

No âmbito do lema #LisboaProtege, serão discutidas igualmente "medidas de apoio às empresas, famílias, cultura e setor social". Dirigido a todas as pessoas, profissionais ou organizações com interesse na Prescrição Social, o evento "conta ainda com uma surpresa", adianta Cristiano Figueiredo.



A inscrição (gratuita) pode ser efetuada aqui.



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