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Psiquiatria Geriátrica: Prestar cuidados de saúde mental também aos «terceiros doentes»

O Sr. Joaquim (nome fictício) vai retirando as folhas secas dos vasos das flores do átrio contíguo às instalações da Unidade de Diagnóstico e Intervenção (UDI) do Serviço de Psiquiatria Geriátrica do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL). Esta é uma das intervenções terapêuticas dos doentes que são acompanhados na UDI, onde se estimula a autonomia dos que ali se encontram, na maioria das situações, sofrendo de demência.



Há pouco mais de um ano, mais precisamente no dia 20 de dezembro de 2016, era inaugurado o Serviço de Psiquiatria Geriátrica do CHPL, que inclui a UDI, a Consulta Externa e uma Unidade de Internamento com 11 camas. O projeto há muito desejado não terá sido uma novidade absoluta, se se tiver em conta que já existia uma Unidade de Dia que se focava na reabilitação de pessoas com demência. Há uns anos, chegou mesmo a existir internamento.

A novidade está na criação do Serviço, que permite uma maior estruturação do apoio que é dado. Como explica Luiz Cortez Pinto, diretor deste Serviço, tal veio também dar resposta a necessidades formativas:

“Há 2 anos foi publicada a indicação de que os futuros médicos psiquiatras teriam de fazer, obrigatoriamente, Internato em Psiquiatria Geriátrica. Como apenas existia um Serviço com estas características no Hospital Magalhães Lemos, no Porto, era preciso abrir outro em Lisboa”.



A equipa integra 4 psiquiatras, 2 neurologistas, 4 médicos internos de Psiquiatria, 2 psicólogas, 1 terapeuta ocupacional, 1 assistente social, 10 enfermeiros, 9 assistentes técnicos e 1 secretária clínica. Dão ainda apoio ao Serviço de Psiquiatria Geriátrica do CHPL, embora não a tempo inteiro, uma especialista em Medicina Interna, uma fisioterapeuta e uma farmacêutica.

“No caso da farmacêutica, contamos com a sua ajuda nas reuniões semanais, onde se discutem os casos clínicos, porque a população geriátrica tem determinadas particularidades que exigem ajustes na terapêutica, quer em termos de dosagem como de interações”, diz Luiz Cortez Pinto.



Neste primeiro ano de atividade, já foram tratados 587 doentes em ambulatório e outros 72 em regime de internamento, com demências e outras patologias do foro psiquiátrico "que surgem frequentemente nas idades mais avançadas, como depressões e psicoses, associadas ou não a processos demenciais". No regime ambulatório também se atendem utentes com sintomas de perturbação de ansiedade.



“São sempre situações clínicas que surgem após os 65 anos. Por exemplo, quem apresente um diagnóstico de esquizofrenia desde muito jovem não tem indicação para ser seguido em Psiquiatria Geriátrica”, esclarece.

Contudo, “no caso das demências frontotemporais, poderemos ter pessoas com menos de 65 anos, o que, aliás, acontece atualmente, embora sejam sempre exceções”. 

Apoiar os cuidadores: os “terceiros doentes”

A questão dos familiares é um desafio constante no Serviço de Psiquiatria Geriátrica. A equipa reconhece que é preciso dar apoio a quem vê um marido, uma esposa, um pai ou uma mãe a perder, de forma progressiva, as suas capacidades físicas e cognitivas. Luiz Cortez Pinto diz mesmo que são os “terceiros doentes”. E explica:

“Estão exaustos, sentem, por vezes, culpa por acharem que não dão o apoio necessário e facilmente estão predispostos à depressão e ao burnout.”

Além da Consulta de Psicologia do Cuidador, o Serviço acompanha, quando necessário, estes familiares, quando já não basta apoio psicológico e é necessária a administração de fármacos. Já houve, inclusive, casos em que os próprios familiares acabaram por apresentar um estado demencial que obrigou ao seu internamento.

Para prevenir o burnout e outras patologias do foro mental nos cuidadores, Luiz Cortez Pinto espera que, no futuro, o Serviço possa vir a ter camas para alívio do cuidador. “É um passo muito importante, apesar de não estar previsto a curto prazo, porque implica ter mais espaço e mais recursos”, aponta.



Para já, fica a certeza de que o Serviço de Psiquiatria Geriátrica, ao abrir no final de dezembro de 2016, foi mesmo "uma prenda de Natal", que tem permitido prestar cuidados de saúde em que se aposta na qualidade de vida e no máximo de autonomia possível, como se pode ver pelo Sr. Joaquim, empenhado em tornar o jardim mais bonito. 

"Saber, lidar e cuidar na demência"

"Cuidar do Cuidador" é precisamente o tema da última das 15 sessões de grupo que terá lugar dia 18 de abril. Esta iniciativa, que teve início a 10 de janeiro, é organizada pelo Serviço de Psiquiatria Geriátrica e tem decorrido às quartas-feiras, sob o lema "Saber, lidar e cuidar na demência".



A decisão da equipa em prestar mais este "apoio psicopedagógico para familiares e cuidadores", gratuito e aberto a todas as pessoas interessadas, tem permitido esclarecer questões como "Como posso ajudar o meu familiar? Que tipo de apoios existem? Estou cansado, como posso ser ajudado?". As sessões são orientadas por técnicos "que apresentam o tema e dinamizam a discussão aberta aos participantes".

À semelhança das restantes sessões já realizadas, a da próxima quarta-feira, 18 de abril, é de inscrição gratuita, que pode ser efetuada presencialmente no próprio dia ou através do email psiquiatriageriatrica@chpl.min-saude.pt



A reportagem completa sobre o Serviço de Psiquiatria Geriátrica do CHPL, com declarações de outros profissionais, poderá ser lida no Hospital Público de abril.



Distribuído, de forma transversal, em cada unidade hospitalar do SNS, o jornal Hospital Público promove a partilha de boas práticas, processos de melhoria contínua, projetos inovadores e iniciativas implementadas por profissionais dos hospitais públicos. 

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