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«Quase metade do país não tem cuidados de cirurgia vascular de proximidade!»

A disparidade regional que se verifica em Portugal quanto à distribuição de unidades e de serviços de Cirurgia Vascular é uma realidade para a qual Luís Mendes Pedro tem vindo a chamar a atenção desde que assumiu a presidênca da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular (SPACV), em setembro.

Em declarações à Just News, alerta que "essa é uma questão que se mantém e que tem que ver sobretudo com a Tutela e o Governo, no âmbito da organização dos cuidados no país".



Luís Mendes Pedro

O médico e diretor do Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital de Santa Maria considera que "a Ordem dos Médicos, enquanto órgão consultivo, também pode ter um papel importante no sentido de sugerir uma organização diferente". Contudo, refere, "quem toma esse tipo de decisões é o Governo."

De acordo com Luís Mendes Pedro, essa assimetria é evidente. "Quase metade do país não tem cuidados de cirurgia vascular de proximidade", dando um exemplo: "Abaixo de Almada – onde existe um Serviço −, há apenas uma pequena Unidade de Angiologia e Cirurgia Vascular no Hospital do Espírito Santo de Évora, que conta com dois cirurgiões vasculares."

Ou seja, "toda a força de tratamento dos doentes de Cirurgia Vascular está, praticamente, acima do Tejo". 

Aneurisma e trombose: as doenças mais preocupantes

Quanto às doenças mais comuns, Luís Mendes Pedro adianta que "o aneurisma da aorta e a trombose venosa profunda são as patologias vasculares que tratamos mais frequentemente, no nosso dia-a-dia, e o nosso objetivo é divulgá-las junto da população e de outros especialistas". O motivo para este investimento em literacia em saúde é claro:

"Tipicamente, são doenças que, quando diagnosticadas precocemente, podem ser tratadas de forma muito mais eficaz. Tardiamente, muitas podem estar associadas a complicações graves, colocando eventualmente em risco a função ou a vida dos doentes. Existir um sentido de alerta para este tipo de patologias é crucial, a fim de as conseguirmos tratar precocemente."

População e cuidados primários

Nesse sentido, outra das missões da SPACV é dinamizar ações de sensibilização junto da população e, especificamente, junto dos profissionais dos Cuidados de Saúde Primários.

"O site da SPACV e os folhetos informativos que criámos são algumas ferramentas que servem o propósito de falar sobre as principais patologias vasculares. Para breve, temos prevista ainda a realização de várias ações mais locais, que o contexto pandémico inviabilizou nestes últimos dois anos", afirma Luís Mendes Pedro, que possui o título europeu de especialista em Cirurgia Vascular pelo European Board of Vascular Surgery.

Por outro lado, a SPACV tem demonstrado bastante vontade de formalizar a relação da Angiologia e Cirurgia Vascular com a Medicina Geral e Familiar (MGF). "Neste momento, não é ainda um projeto muito ativo, porque a MGF continua muito dedicada a tratar doentes covid-19 e a tentar recuperar o atraso relativamente a doentes com outras patologias", explica Luís Mendes Pedro.

E acrescenta: "Consideramos estar ainda numa fase de transição, em que não é legítimo desencadearmos já muitas atividades, mas temos noção da importância da realização de projetos conjuntos com os Cuidados de Saúde Primários."



Promover a proximidade entre especialidades e diminuir as amputações

Este empenho da SPACV em desenvolver uma "forte colaboração" com outras especialidades teve também reflexo no programa do Congresso, que decorreu no mês passado, em Braga:

"Destaco a palestra do Prof. João Raposo, presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, inserida na sessão que aborda a doença arterial periférica. Sendo esta uma área de fronteira muito relevante, porque os diabéticos têm muitas complicações vasculares, como o pé diabético, que é uma importante causa de amputação a nível nacional, é preciso haver uma forte colaboração entre diabetologistas e cirurgiões vasculares, no sentido de diminuir o número de amputações."

Já a organização das sessões do último dia do Congresso foi partilhada entre a SPACV e a Sociedade Portuguesa de Flebologia (SPF), realizando-se a II Reunião Conjunta SPACV-SPF, em simultâneo com o IV Simpósio Ibérico de Flebologia, que englobou duas sessões – a primeira dedicada ao sistema venoso superficial e a segunda ao sistema venoso profundo.


Conhecer a realidade 

Quanto ao futuro, Luís Mendes Pedro faz referência à importância dos registos nacionais implementados pela Sociedade, nomeadamente, "o registo do aneurisma da aorta abdominal, estabelecido há vários anos e reativado na Direção anterior, após um período de desativação".

Conforme explica, "este projeto permite reunir um grande conjunto de informação sobre os aneurismas da aorta abdominal que são tratados em Portugal, nomeadamente, que aneurismas são tratados, em que hospitais, por que via, com que resultados, complicações e taxa de mortalidade, que poderá servir de base para tomar decisões futuras".

O responsável adianta ainda que a SPACV está "muito empenhada na manutenção deste registo e na introdução de outros, que contribuam para conhecermos a realidade nacional da nossa especialidade", sendo que "o próximo registo a ser implementado será o da doença carotídea".

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