Reforçar a ligação hospital-comunidade: «ULS estão na linha da frente»
Adelaide Belo, da Unidade de Gestão Operacional do Acesso dos utentes ao SNS, uma unidade criada pela ACSS - Administração Central do Sistema de Saúde, não tem dúvidas: a prestação de cuidados está a mudar e a ligação hospital-comunidade deve ser reforçada.
“A tradicional dicotomia entre cuidados de saúde primários (CSP) e cuidados diferenciados acabou e a assistência aos doentes tem de ser pensada de uma outra maneira", afirmou a médica, ao intervir na sessão do “Caminho dos Hospitais” que a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) promoveu em Castelo Branco. E sublinha: "Muito concretamente, penso que as ULS estão na linha da frente para fazerem esta alteração na prestação dos cuidados”.
Apresentando como exemplo o caso de um doente com mais de 80 anos e com várias comorbilidades, a especialista frisou que "a estratificação de risco é ainda um desafio complementar, mas que é nas ULS que essa capacidade é mais evidente". Para a responsável, a dicotomia entre CSP e cuidados diferenciados "não só é incorreta do ponto de vista médico, mas também gera disfunções do ponto de vista organizativo".
"Um envolvimento próximo com a comunidade"
Na sua opinião, “existe a necessidade de criação de unidades integradas de cuidados de saúde, com a indispensável personalização e interligação entre centros de saúde e hospitais. Isto é algo que já estava previsto desde a década de 90, mas que teima em não se praticar”, lamentou Adelaide Belo, mostrando-se convicta de que a “fórmula de sucesso passará forçosamente por um envolvimento próximo com a comunidade".
Para Adelaide Belo, que é também coordenadora nacional do Programa CTH (Consulta a Tempo e Horas), este é um processo que envolve alguns critérios, "como o incentivo dos hospitais, o uso de tecnologia de informação, uma população definida e, obviamente, a existência de uma liderança e coordenação".
Fez também referência a uma mudança de paradigma, "uma nova filosofia centrada nos utentes, pois constata-se que existe a necessidade de fazer diferente, com acesso mais facilitado dos médicos de família aos especialistas, melhor triagem pelos paramédicos e uma grande aposta em centros de reabilitação".
A especialista de Medicina Interna da ULS do Litoral Alentejano destacou ainda a necessidade de "melhorar os cuidados em fim de vida, a telemonitorização e a partilha de modelos para gestão da doença crónica", concluindo: "Em suma, o fundamental é perceber que as ULS têm uma organização que lhes permite mais facilmente do que as outras organizações avançar com estas medidas”.
APAH empenhada na procura de "soluções que promovam a integração de cuidados"
Elementos das direções da APAH e da ULS de Castelo Branco.
A intervenção de Adelaide Belo surge no âmbito de mais uma sessão de “Caminho dos Hospitais”, um ambicioso projeto dinamizado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e cuja última reunião decorreu na ULS de Castelo Branco.
Ao convidar especialistas e responsáveis de variadas entidades, em reuniões que se realizam por todo o país, o objetivo da APAH é facilitar um profícuo debate e contribuir para que se encontrem "soluções que promovam a integração de cuidados a nível hospitalar e com os centros de saúde e comunidade".