Saúde Mental: o internamento de adolescentes em unidades de adultos é apenas um dos problemas

Daniel Sampaio, diretor do Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar Lisboa Norte, está preocupado com os dados do relatório “Portugal – Saúde Mental em Números 2014”. Na sessão de apresentação do documento, destacou o internamento de adolescentes em unidades de adultos e a “má interligação com os cuidados de saúde primários (CSP)”.

Fernando Leal da Costa, secretário de Estado adjunto da Saúde, e os membros de uma futura federação que representa familiares de doentes também deram o seu parecer.

As doenças mentais são bastante prevalentes e, no entender de Daniel Sampaio, “o Serviço Nacional de Saúde (SNS) deve dar resposta aos doentes e permitir uma maior intervenção da família e das associações”. E continua: “Estamos perante problemas que são do âmbito da Saúde Pública e, infelizmente, existe um enorme estigma social.”

O especialista sublinhou ainda “o intervalo exagerado entre o início dos sintomas e o diagnóstico”, relembrando que “existem jovens entre os 16 e os 18 anos que estão internados em unidades de adultos, o que não é benéfico para eles”.

A falta de recursos em Psiquiatria da Infância e Adolescência não só se revela na falta de camas, hospitais de dia e especialistas, mas também “no uso de psicofármacos em idade precoce, sem se ter em conta as repercussões futuras”. Para Daniel Sampaio, a situação é “dramática e deve-se apostar nos cuidados continuados integrados de Saúde Mental (CCISM) ”.

Comentando ainda o relatório, o psiquiatra chama a atenção para a necessidade de existir mais interligação com os CSP: “Os profissionais desta área ainda não têm a formação necessária e é preciso relembrar que nem todos têm médico de família.”

Maria João Neves, da Rede Nacional de Pessoas com Experiência de Doença Mental, considera que o relatório atual revela, “mais uma vez, que os CCISM continuam sem ser postos em prática, excetuando a Casa do Restelo, que é um projeto-piloto”, como disse à Just News.

Esta temática foi das mais abordadas no encontro e o secretário de Estado Fernando Leal da Costa reconheceu a existência de problemas, “que também se devem a compromissos anteriores, concentrados em certas regiões”, mas acredita que, “ainda no decorrer desta legislatura, serão solucionados”.

Quem também esteve presente na apresentação dos dados sobre Saúde Mental foram alguns dos membros da futura Federação Portuguesa de Associação de Famílias de Pessoas com Experiência de Doença Mental. “Estamos naturalmente preocupados, porque a prevalência das perturbações mentais é elevada e existem várias lacunas”, disse à Just News Joaquina Castelão. Quanto aos CCISM, “o descanso do cuidador, previsto neste âmbito, não é o mais importante porque, se o SNS conseguir dar uma boa resposta aos utentes, as famílias também são beneficiadas”.

A Federação Portuguesa de Associação de Famílias de Pessoas com Experiência de Doença Mental deverá ser lançada, oficialmente, até março de 2015.

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