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Voluntariado na Guiné-Bissau: internas de Psiquiatria dão formação a profissionais de saúde

Durante 2 semanas duas médicas internas de Psiquiatria decidiram trocar Portugal pela Guiné-Bissau para apoiar a população, mas também os médicos locais.

A iniciativa é da Mundo A Sorrir, uma ONGD que visa "promover a Saúde e a Saúde Oral como um direito universal junto das populações em situação de vulnerabilidade socioeconómica". Para o efeito, desenvolve projetos que "potenciam a inclusão social e a cooperação para o desenvolvimento".

As voluntárias integraram o projeto “Saúde A Sorrir: Educação para a Saúde”, apoiado pela Direção Geral da Saúde portuguesa e pelo International College of Dentists.

Em Bissau, o objetivo foi, sobretudo, dar aulas a alunos de 5.º ano de Medicina da Universidade UniPiaget de Bissau, com uma componente prática no Centro de Saúde Mental Osvaldo Vieira, onde também decorreram ações de capacitação para os profissionais de saúde locais.



Segundo Ana Miguel, interna no Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho e uma das voluntárias portuguesas, “a Psiquiatria ainda é bastante embrionária na Guiné-Bissau, apesar de os médicos serem muito competentes e interessados”.  O problema está, segundo indica, nos entraves que existem no acesso a formações, na remuneração que leva à emigração e na própria cultura do país.

“Existe ainda uma visão geral muito esotérica da Psiquiatria e também de alguns quadros neurológicos e orgânicos que cursam com sintomas neuropsiquiátricos, e que acabam por condicionar um atraso no acesso aos cuidados médicos de que estes doentes necessitam”, explica.

Contudo, apesar de várias vicissitudes, Ana Miguel garante que o trabalho de cooperação foi muito positivo, esperando que se possa continuar a ajudar os colegas guineenses, que ainda têm de enfrentar obstáculos do ponto de vista farmacológico, por não terem acesso aos medicamentos mais recentes ou a alternativas terapêuticas.



Ana Miguel e Berta Ramos

Impacto de  “explicações culturais e religiosas”

Outra realidade com forte impacto na Saúde Mental é a violência doméstica e sexual, que inclui práticas como tráfico humano, casamento forçado e mutilação genital feminina. “A estada foi curta e ficou, sem dúvida, longe de suprir por completo as necessidades manifestadas pelos profissionais que se dedicam a esta área.”

Berta Ramos, interna no Centro Hospitalar Universitário de S. João e outra voluntária, destaca também o peso das “explicações culturais e religiosas” associadas às doenças mentais, o que se traduz, na maioria dos casos, em atraso na procura de cuidados médicos.  “Isto vai ter repercussões no prognóstico.”



Além da componente formativa e de diagnóstico e tratamento, a equipa realizou ainda algumas ações de prevenção e promoção de saúde mental, no sentido de alertar para a importância da adoção de hábitos de vida saudáveis e de estratégias de bem-estar e sucesso pessoal.

"A psicóloga deixa um alerta"

No fim, admite que também aprendeu com a experiência. “O contacto com os profissionais de saúde e alunos dinâmicos e desejosos de se dotar de competências para melhor tratar, ainda que com acesso a informação e recursos muito limitados, foi efetivamente inspirador e algo que trago comigo.”

Da parte da Guiné-Bissau, Iama da Costa, psicóloga no Centro de Saúde Mental Osvaldo Ribeiro, o balanço não podia ser melhor. “Esta formação em saúde mental contribuiu para o meu crescimento pessoal e profissional, de grande aprendizagem e partilha de experiências.”

A especialista deixa um alerta: “É preciso continuar este tipo de projetos, já que o conflito militar de 1998 impediu o desenvolvimento da Psiquiatria no país. Neste momento, o país não dispõe de um médico psiquiatra, nem condições para internamento de pacientes com necessidades, no único centro mental público.”



Psiquiatria, Saúde Oral e Oftalmologia

O projeto “Saúde A Sorrir: Educação para a Saúde” está a ser implementado em parceria com os atores locais, sendo eles o Ministério da Saúde Pública da Guiné-Bissau, a Universidade Piaget, o Hospital Nacional Simão Mendes, o Instituto Nacional de Saúde Pública da Guiné-Bissau, a Missão Semide e a ONG Pronto Socorro.

Além da Psiquiatria, o projeto abrange ainda a Saúde Oral e a Oftalmologia. Quem pretenda ser voluntário só terá de contactar a ONG (voluntariado@mundoasorrir.org).


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