Doente oncológico: «o médico de família é fundamental em todas as fases do tratamento»
Quem o diz é António Araújo, codiretor do 6th Postgraduate Course in Oncology for General Practitioners and Young Oncologists. O OncoGP decorreu entre 4 e 6 de novembro, na Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, e teve casa cheia.
“O médico de família é aquele que melhor conhece o doente, portanto, faz todo o sentido que participe em todas as fases do tratamento oncológico”, começa por destacar António Araújo, diretor do Serviço de Oncologia Médica do Centro Hospitalar Universitário do Porto. Nessa lógica, “deverá ter noções daquilo que, hoje em dia, se faz a nível oncológico”.
Como distingue, “cada vez mais os doentes procuram o seu médico de família em qualquer fase da doença oncológica, não só porque necessitam de receituário, mas porque apresentam comorbilidades”. É preciso não esquecer que “o doente oncológico não é só um doente com cancro, e o médico de família deve continuar a segui-lo como um todo”.
Tendo este curso sido pensado sobretudo para médicos de família, com o avançar das edições, “tem-se verificado a sua grande utilidade para jovens oncologistas e, até mesmo, para médicos de Medicina Interna e de Cirurgia Geral. No fundo, a revisão global da Oncologia que aqui se faz interessa a todas as especialidades que tratem doentes oncológicos”.
Atingindo o limite das 75 inscrições, 60% corresponderam a jovens internos de Oncologia Médica, 35% a médicos de MGF e 5% a outros especialistas.
O primeiro dia ficou marcado pela partilha de conceitos base, ao mesmo tempo que se demonstrou o papel de cada especialidade na orientação do doente oncológico. Já no segundo e terceiro dias, o objetivo foi discutir a forma como se encara o doente e quais os tratamentos propostos para cada uma das patologias.
António Araújo com Blanca Cantos Ibarguen (oncologista do Hospital Universitário Puerta de Hierro, Madrid) e José Gomez Codina (oncologista do Hospital Universitário La Fe, Valência) com um aluno do curso, Richard Vanegas Gomez
Participação ibérica marca OncoGP
Este curso foi marcado, desde o primeiro dia, por uma forte participação ibérica, tanto em termos de palestrantes, como de formandos. Codirigido por António Araújo, que também acumula o cargo de presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, e por Mariano Provencio, diretor do Serviço de Oncologia do Hospital Puerta de Hierro de Madrid e presidente do Grupo Espanhol de Cancro do Pulmão, os dois entenderam haver muitas semelhanças entre os dois países, “fazendo todo o sentido esta partilha de experiências”.
Como o oncologista português reitera, “os nossos problemas são os problemas deles, pelo que juntos podemos encontrar as melhores soluções na abordagem dos doentes”.
Covid-19 atrasa diagnósticos e condiciona investigação
Considerando que a pandemia de covid-19 veio reduzir o número de cancros diagnosticados, António Araújo nota que “muitos doentes chegaram aos hospitais em estádios mais avançados e em pior estado global”. E lembra que, “durante pelo menos seis meses, grande parte dos rastreios foram suspensos, o que resultou num impacto significativo em termos de diagnóstico”.
A par, reconhece que também a investigação ficou em parte limitada, apesar de “existirem alguns exemplos de evolução não só a nível metodológico e imunoterapêutico, mas também no caso das terapias dirigidas e da radioterapia, para lá da pandemia”.
O diretor do Serviço de Oncologia do CHUP destaca, neste campo, a personalização da imunoterapia como um dos avanços mais recentes da Oncologia, que “teve um forte impacto na forma de encararmos e de tratarmos o doente”.
Para abordar precisamente esta temática, teve a palavra, neste curso, Eduardo Sotomayor, “um excelente tutor, diretor do Cancer Institute do Tampa General Hospital, que abarca na sua experiência a docência na Universidade de Washington”. Além de “revisitar o conceito da imunoterapia, incidiu a sua apresentação no desenvolvimento das CAR T-cells”.
