USF Portus Alacer: Percorrer muitos quilómetros em Portalegre para chegar a quem precisa
Com o antigo nome da cidade de Portalegre, Portus Alacer, a primeira USF criada naquele distrito, em setembro de 2009, distingue-se das demais, sobretudo pela sua constituição. Esta dispõe de 10 polos – a sede e nove extensões, nas diferentes localidades: Atalaião, Alegrete, Assentos, Caia, Carreiras, Reguengo, Ribeira de Nisa, São Julião e Urra.
Esta característica é, indubitavelmente, uma mais-valia para uma população rural, dispersa, que se apresenta envelhecida e, muitas vezes, com dificuldades em se deslocar. Porém, em termos de gestão de recursos, sobretudo humanos, apresenta alguns desafios.
A equipa da USF, que é tema de reportagem na última edição do Jornal Médico, é constituída por seis médicos, sete enfermeiros e seis secretários clínicos. É sob o lema “Mais saúde, melhor saúde” que, diariamente, os profissionais da unidade fazem cerca de 200 km, para chegar a todos os que dela necessitam.
“Servimos uma população muito idosa e com necessidades de cuidados de enfermagem, às vezes, mais até do que de cuidados médicos, daí termos mais um enfermeiro", explica António Mendes da Luz, coordenador da unidade.
E acrescenta: "Percorremos, todos os dias, muitos quilómetros em visitas domiciliárias, para fazer pensos e medir a tensão, entre outros procedimentos, a pessoas muitas vezes com cerca de 90 anos, que se encontram, frequentemente, em sítios de difícil acesso, onde não há transportes públicos - esta é uma das grandes deficiências do nosso interior".
Outras características menos comuns deste espaço é o horário, que é alargado na sede, que funciona das 8h00 às 20h00, de segunda a sexta, e das 8h00 às 14h00, aos fins de semana e feriados. As extensões funcionam, normalmente, durante a parte da manhã ou da tarde, dependendo da zona. Todos os doentes podem dirigir-se à sede ou a outro polo, sempre que por alguma razão lhes seja mais conveniente. Basta para tal que sejam utentes da unidade.
António Mendes da Luz com alguns dos elementos da USF que coordena.
Organização eficiente
António Mendes da Luz é coordenador da USF Portus Alacer há cerca de quatro anos. Esteve envolvido na sua criação. Contudo, refere que o mérito é da Dr.ª Dorinda Calha, a quem sucedeu, e do enfermeiro Álvaro Costa, uma vez que o projeto nasceu da iniciativa, trabalho e empenho de ambos.
Afirma que, neste espaço, as decisões são tomadas em conjunto. Contudo, ainda assim, o seu trabalho alterou-se bastante após ter assumido a coordenação. Apesar da dificuldade inicial de gerir os recursos humanos e as diferentes extensões, António Mendes da Luz afirma que a organização do serviço é “muito eficiente”, sobretudo quando comparado com a forma de funcionamento dos centros de saúde.
“Conseguimos fazer um bom esquema e ter, todos os dias, os elementos necessários em cada uma das extensões, sem grandes conturbações. A nível organizacional, foi uma das maiores batalhas e conquistas”, menciona.
"A base de uma USF é o trabalho em equipa"
Álvaro Costa.
“As USF surgiram com o objetivo de mais utentes poderem vir a ter médico de família, mas com grandes aliciantes, por exemplo, a forma de trabalhar é, sem dúvida, uma mais-valia para nós, mas também para o utente”, afirma Álvaro Costa, enfermeiro interlocutor.
E refere: “Somos nós que nos organizamos e criamos a nossa própria forma de trabalhar. A base de uma USF é o trabalho em equipa. Aqui, todos somos iguais, sejam médicos, enfermeiros ou administrativos. Já nem era capaz de estar de outra forma.”
Álvaro Costa lembra que sempre gostou muito da ligação às pessoas, de as apoiar e de prestar cuidados a quem deles precisa, razão pela qual decidiu, há cerca de 40 anos, estudar Enfermagem. De qualquer forma, e apesar de gostar muito da sua profissão, afirma-se muito mais realizado desde que passou para USF.
“Não há qualquer comparação. No centro de saúde não ‘tinha voto na matéria’, limitava-me a receber ordens. Aqui, decidimos o que fazemos e, como sempre, a pensar na satisfação dos utentes”, indica.
Criar a USF "foi trabalhoso, mas muito compensador”
Fernanda Ribeiro.
Fernanda Ribeiro, responsável administrativa, recorda a criação da USF como algo trabalhoso, mas muito bom e compensador. “Havia uma grande expectativa, porque era algo diferente, era novo e íamos poder trabalhar com pessoas por nós escolhidas, de quem gostávamos e já conhecíamos há anos”, recorda. E afirma: “Foi um esforço que valeu muito a pena.”
O ambiente entre os membros da equipa é, segundo menciona, muito bom. “Não podia ser de outra forma, caso contrário, não aguentávamos. A pressão é muita”, menciona Fernanda Ribeiro, fazendo referência à falta de recursos humanos.
A reportagem completa sobre a USF Portus Alacer pode ser lida na mais recente edição do Jornal Médico.