Utilização do «Big data» para uma «reforma de sucesso» do sistema de saúde

Miklós Szócska foi ministro da Saúde da Hungria entre 2010 e 2014 e acredita que a reforma dos sistemas de saúde um pouco por toda a Europa depende umbilicalmente da utilização que os estados estejam dispostos a fazer do big data, ou seja, dos dados armazenados sobre o sistema e que muitas vezes não têm qualquer leitura por parte das autoridades competentes.

O ex-governante húngaro esteve em Portugal para apresentar uma palestra sobre a “Gestão da mudança para a sustentabilidade dos sistemas de saúde”. Na sua intervenção, defendeu ser necessário ultrapassar a imagem antidemocrática muitas vezes associada ao big data.



“Quando falamos neste conceito, muitas pessoas recordam a experiência dos estados totalitários, que recolhiam a informação para controlar tudo. Eu, sinceramente, não gosto dessa visão totalitária e orwelliana do conceito”, esclareceu o especialista, em declarações à Just News, reiterando que a informação disponível não deve ser negligenciada, "dada a sua mais-valia".



“Acredito que podemos tratar essa informação de forma muito personalizada e segura para ser usada em benefício dos doentes e dos prestadores de cuidados de saúde. Tal como em muitos outros setores, julgo que também na saúde a solução reside em informação que possuímos, mas que estamos a desperdiçar”, acrescentou Miklós Szócska, que revelou que na reforma que implementou na Hungria este tipo de ferramenta foi "utilizado com sucesso e não levantou questões legais".

De acordo com o especialista, “no processo que iniciámos, o big data foi decisivo. Usámos essa informação para ter ganhos políticos, mas fomos transparentes e explicámos a cada passo o que estávamos a fazer. Fizemo-lo pelo bem público e, por isso, julgo que foi justificado”. Revelou ainda que, no caso da Hungria, foi até possível “desmascarar” casos de corrupção com recurso a esta informação.

“Assumo que é um tema controverso e que levanta receios fundados, mas não podemos continuar a desperdiçar a riqueza que lhe está subjacente”, rematou.



"envolvimento de todas as partes"

Também importante para a mudança que a Hungria viveu na área da Saúde, de acordo com Miklós Szócska, foi o envolvimento de todos os parceiros.

“A comunicação constante entre todos permitiu fazer as reformas necessárias e usar a informação certa deu-nos a força argumentativa de que necessitávamos”, contou o ex-ministro, que, como médico, admitiu que um dos grandes problemas dos sistemas de saúde atuais é o facto de terem na sua liderança "alguém distante do sistema".

Na sua opinião, “o que acontece em muitos países europeus é que, frequentemente, o ministro da Saúde é um político de carreira. Isso faz com que esteja mais distante da essência do problema." Desta forma, para se conseguir mudar "tem de ser implementado um modelo com base na evidência e tudo tem de ser feito com o envolvimento de todas as partes, a começar pelos próprios cidadãos". E sublinha: "Sem esse compromisso não é possível".



Miklós Szócska esteve em Portugal a convite da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), para participar na 2.ª edição das Conferências de Valor. Este projeto ambicioso que a Associação lançou este ano visa "fomentar a partilha de boas práticas e a procura de novas abordagens, que permitam enfrentar os desafios presentes e futuros, e a consolidação de pontes e sinergias com todos os parceiros do setor", refere Alexandre Lourenço, presidente da APAH.



À semelhança da 1.ª edição, onde "foram extraídas conclusões que hoje estão já na agenda do Ministério da Saúde e de outros parceiros do sistema", a APAH pretende que também esta Conferênca de Valor seja "um contributo para ajudar a que a mudança possa avançar e definir os seus moldes”.

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