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VMER da Figueira da Foz quase a celebrar 21 anos «e sempre operacional»

Há quase 21 anos que a VMER da Figueira da Foz não para, desde que começou a funcionar, no dia 1 de março de 1998. Quando esta reportagem foi feita, na segunda semana de dezembro, a equipa era constituída por 25 médicos e 14 enfermeiros. A coordenadora é a mesma de há 20 anos: Amélia Pereira, especialista em Medicina Interna, com a competência em Emergência médica. E também, desde então, esta VMER esteve "sempre operacional".


Amélia Pereira: “Somos uma equipa unida, em que todos temos o objetivo de fazer o melhor pelo doente.”

Amélia Pereira, que é a diretora do Serviço de Medicina Interna do Hospital Distrital da Figueira da Foz (HDFF), foi a primeira coordenadora da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) e pensa que talvez o seu nome tenha sido, na altura, sugerido pelos elementos da equipa por causa da sua grande motivação. “Estava de corpo e alma no projeto...”, diz.

A certa altura, porque tinha muitas tarefas e achou importante que surgissem nos projetos “pessoas diferentes, com ideias novas”, interrompeu essa tarefa de responsabilidade e outra coordenadora se lhe seguiu. “Mas nunca deixei de fazer VMER e só quando fisicamente já não conseguir é que saio”, faz questão em esclarecer. Voltou à coordenação em abril de 2012.


Parte da equipa de médicos e enfermeiros que integram a VMER da Figueira da Foz

A equipa de uma VMER é constituída por um médico (atenção que na Figueira sempre houve muito mais médicas!) e um enfermeiro (a primeira enfermeira entrou apenas em 2004 e só em 2012 outras duas colegas chegaram para lhe fazer companhia).

O elemento da Enfermagem é sempre o condutor e, por isso, quando segue na viatura – o que, obviamente, só acontece fora do seu horário normal como diretora do Serviço de MI –, Amélia Pereira tem a seu cargo a orientação do trânsito, por exemplo, ou a tarefa de ativar a sirene de emergência. Mas, principalmente, a preocupação de ir pensando na situação clínica que irá encontrar, "combinando com o enfermeiro a melhor estratégia para abordar a situação".

"É preciso gostar muito desta área de atividade"

No seu papel de coordenadora da VMER, diz que a maior dificuldade se prende com a gestão da disponibilidade dos elementos da equipa, “particularmente nos turnos da manhã”.

Estamos a falar de especialistas e internos de Medicina Interna, Ortopedia, Cirurgia Geral, Anestesiologia, Gastrenterologia e até Medicina Geral e Familiar, entre outras especialidades; e de enfermeiros da Urgência, bem como do Bloco Operatório, para além de especialistas em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica, de Reabilitação e Médico-Cirúrgica.


Uma vida inteira ligada ao HDFF: Amélia Pereira está nesta unidade hospitalar desde 1978

“É um serviço no qual só trabalha quem quer. É preciso gostar muito desta área de atividade, porque se lida, tantas vezes, com a fronteira entre a vida e a morte e nem todas as pessoas têm essa capacidade. É necessário conseguir gerir muito bem o stress emocional e tomar decisões rápidas, sendo que delas depende muitas vezes o futuro das pessoas que assistimos e a qualidade desse futuro”, refere Amélia Pereira.

Por outro lado, “enquanto no hospital temos uma equipa multidisciplinar com a qual podemos dialogar, na rua isso não acontece, estamos sozinhos, nós e o enfermeiro; e também completamente expostos; o que fazemos é visível por toda a gente”. Nos primeiros anos de funcionamento da VMER, “a população não percebia por que demorávamos tanto tempo no local e não trazíamos rapidamente o doente para o hospital. Entretanto, as pessoas começaram a perceber a importância do nosso trabalho e hoje há bastante compreensão e colaboração”.


Números que impressionam e que marcam: Desde que iniciou a sua atividade, a VMER da Figueira da Foz nunca esteve "um único minuto inoperacional por falta de tripulação"

O papel “determinante” do enfermeiro

Em 14 anos que leva de VMER, Margarida Martins já conduziu “o Golf, a Passat antiga, a Passat nova e agora o Ford Mondeo”. E já sensibilizou a nova administração do HDFF para a necessidade de se reforçar a suspensão traseira do Mondeo, que não está preparada para o peso do equipamento que tem de suportar.

Aliás, intervenção idêntica teve de ser feita na viatura anterior, a carrinha Passat. Obviamente, já se percebeu que Margarida é enfermeira, pois, é ela que conduz.


Margarida Martins: “Quando toca o telemóvel e me dizem que vou encontrar um acidente, uma criança, ou um adulto jovem a coisa bate de forma diferente.”

Para a coordenadora da Enfermagem da VMER da Figueira, não há qualquer dúvida sobre o papel "determinante" do enfermeiro: “Além de prestarmos os cuidados de saúde diretos ao doente, na nossa formação base, aprendemos que é muito importante a preocupação com a relação de ajuda, com a comunicação, com os elos de ligação a nível familiar, ou seja, que não é possível separar o doente da sua estrutura envolvente. No pré-hospitalar também temos esse tipo de cuidado.”

Prestes a fazer (em março) 56 anos, não tinha mais de 12 quando o seu pai faleceu, vítima de acidente de viação. Na altura, no hospital francês onde se encontrava, ouviu uma expressão que, reconhece, “me marcou para toda a vida”, sendo determinante para a sua formação: “trop tard” (“tarde demais”).

“Após a formação base, comecei na Urgência, que foi o que sempre quis. Depois fui para Coimbra (HUC), para um serviço de trauma, a Cirurgia Maxilofacial. Passados 4 anos, a dinâmica familiar alterou-se e vim para o Hospital da Figueira, sendo colocada, contra a minha vontade, no Serviço de Pediatria”, recorda, justificando: “Eu estava demasiado ligada ao trauma, ao inesperado, ao desafio, àquilo que pudesse ‘entrar pela porta adentro’.”


Amélia Pereira e Margarida Martins

Margarida Martins acabou por se tornar enfermeira especialista em Saúde Infantil e Pediátrica, considerando ser “uma mais-valia na VMER porque todos os médicos que estão comigo quando iniciamos o turno dizem-me logo que se sentem descansados no que concerne à Pediatria...”.

O seu entusiasmo é contagiante. Diz que não se vê “a abandonar a VMER tão cedo, acho que ainda tenho muita genica para estas coisas”. E mais: “Ao fim do dia, se tiver feito a diferença numa única pessoa que seja, isso tem um valor incalculável, vamos de ‘peito cheio’ para casa. Torna-se viciante...”

Longe vai o tempo (2004) em que foi a primeira enfermeira mulher a entrar na VMER, e os 8 anos seguintes, em que era a única. “Agora, já somos muitas!”, diz. Uma coisa não mudou: continua a gostar muito de conduzir, mas sempre de forma defensiva, a pensar na segurança da equipa e dos outros cidadãos que circulam na rua.


Elementos da VMER do Hospital Distrital da Figueira da Foz envolvidos nesta reportagem

A reportagem completa pode ser lida no Hospital Público de janeiro, onde são também entrevistados outros profissionais: os médicos Carlos Vieira, Sónia Campelo Pereira, Ana Sofia Costa e os enfermeiros David Moderno e Rui Coutinho.




Distribuído em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde, e dirigido a estes profissionais, o jornal Hospital Público promove uma partilha transversal de boas práticas entre pares.

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