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«ULS – Utopia, Lunatismo ou Solução?»


Pedro Melo

Doutor em Enfermagem. Professor adjunto na Escola Superior de Enfermagem do Porto



O título do “Diagnóstico de Enfermagem” desta edição remete para uma reflexão de três palavras que aparentam ser paradoxais numa construção da sigla ULS. Na verdade, as Unidades Locais de Saúde são uma inquestionável realidade em desenvolvimento no universo saúde em Portugal que tem trazido algumas questões e alguma vivência de ansiedade pelos profissionais, associada ao desconhecido e ao incerto.

Tenho acompanhado de perto, particularmente, os profissionais dos Cuidados de Saúde Primários e identifico nas narrativas essencialmente três motivos de ansiedade, enformados em três questões:

-- Será que as ULS vão fazer os CSP perder poder em detrimento dos hospitais?
-- Como vão ser geridos os recursos humanos, quando associados a uma ULS?
-- Haverá mais dificuldade na governação clínica?

Ao longo da minha vida profissional, tive a oportunidade de exercer funções numa Unidade Local de Saúde que tinha, no momento em que lá iniciei funções, poucos anos de existência.

Bem tenho noção que as realidades não serão todas iguais e que a ULS onde desenvolvi funções geograficamente tinha muitas facilidades, além de integrar apenas um hospital e um conjunto de centros de saúde que hoje constituem apenas um Agrupamento de Centros de Saúde. Mas é de exemplos concretos que emergem dados concretos que depois se podem circunstanciar às realidades em análise.

Pois bem, não vou negar que senti, enquanto enfermeiro dos CSP, que na altura em que ingressei naquela ULS havia muito caminho a fazer na afirmação destes em relação ao valor dado ao hospital.

O Conselho de Administração de então era maioritariamente constituído por profissionais com experiência hospitalar e isso dificultava, obviamente, esta noção concreta de valor que permitisse a integração efetiva dos CSP numa gestão sistémica da ULS.


Pedro Melo

Mas hoje a realidade é outra. Vivenciei esse caminho. Os CSP não só foram tendo mais oportunidade de demonstrar o seu valor (em diferentes domínios), através de um diálogo de proximidade como do ponto de vista estratégico se tornaram um epicentro de gestão da ULS, potenciando o desenvolvimento de projetos intersetoriais (por exemplo, a possibilidade de enfermeiros de família e enfermeiros do hospital planearem conjuntamente a alta, evitando complicações associadas à cirurgia para colocação de próteses da anca).

Fiz muitas visitas aos serviços de internamento para analisar, em parceria com os colegas do hospital, como iria organizar com a família a reintegração da pessoa internada em casa, pois eu conhecia, como enfermeiro de família, melhor que ninguém a realidade.

Mas também na saúde escolar consegui ter um diálogo muito mais efetivo com as estruturas do hospital para gerir o acompanhamento de crianças com necessidades de saúde especiais. Enfim, poderia aqui elencar uma série de bons exemplos que servem como potencial benchmarking às futuras ULS.

Claro que, neste momento, estamos a falar de ULS que vão agregar mais do que um ACES e com estruturas geográficas bem maiores do que aquela onde exerci funções. Mas diria que não estamos a partir do zero. Temos já história e estórias para partilhar e potenciar estas novas ULS.

Vi numa entrevista alguém da Direção Executiva do SNS dizer que esta é uma ousadia diferente para resultados diferentes. Tenho outra perspetiva. As ULS não são uma ousadia diferente, mas sim um desafio que pode ser potenciado a partir de resultados de experiências já existentes. Isso muda completamente o paradigma desta discussão.


Não estamos a falar de Utopia. É possível. É uma realidade já demonstrada. Há resultados evidentes de potencialidade.

Não estamos a falar de Lunatismo. É uma verdade perfeitamente exequível e com grande sentido de potencialidade. Estaremos a falar de Solução? Aqui exige-se prudência e pragmatismo. Diria que, muito potencialmente, sim, se o caminho for feito com um olhar de aprendentes sobre as experiências anteriores.

Respondendo às três questões de ansiedade dos profissionais:

- os CSP nas ULS só têm mais poder para se afirmar se assim o quiserem;
- os recursos humanos podem ser potenciados e articulados com um profundo respeito pelas competências e pelas necessidades dos clientes que são o centro da gestão integrada de cuidados;
- a governação clínica torna-se mais efetiva, eficiente e eficaz se for potenciado um diálogo efetivo entre serviços hospitalares e CSP e uma liderança que potencie uma visão sistémica da ULS.

Sem medo, mas com atenção, faça-se caminho.

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