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«A Ordem dos Médicos escolheu o ano de 2040 com um propósito»


Miguel Guimarães

Bastonário da Ordem dos Médicos



2040: O futuro é hoje

Qualquer livro sobre liderança ou gestão diz-nos, logo na introdução, que o planeamento é metade da receita para o sucesso de uma organização, instituição ou serviço. Como diria Steve Jobs, “a chave do sucesso é perceber para onde o mundo se dirige e chegar lá primeiro”.

Num mundo que muda todos os dias com uma velocidade vertiginosa, como aquele em que hoje vivemos, a única estratégia que garante o falhanço é a incapacidade de no adaptarmos. Mas devemos fazê-lo com humanismo, consciência e rigor, são esses os três ingredientes fundamentais que nos guiarão no caminho.

Na saúde e na medicina este mantra não é diferente. Temos muitos diagnósticos construídos sobre o que é preciso mudar a curto ou médio prazo, mas falta-nos, enquanto sistema de saúde – público, privado ou social –, uma visão estratégica estrutural e não meramente conjetural. No 24.º Congresso Nacional da Ordem dos Médicos, vamos falar da “Medicina no Tempo Pós-Covid” e traçar cenários para 2040. O futuro é hoje.

Neste congresso, vamos projetar a medicina e a saúde do futuro. Em todas as suas vertentes. Porque se queremos que o nosso Serviço Nacional de Saúde se torne verdadeiramente competitivo, atraindo e valorizando os médicos com condições que acompanhem o resto da Europa, não podemos continuar a fazer o mesmo de sempre. Precisamos de algo novo, para produzir resultados novos. Insistir no que não funciona, mais do que uma teimosia, é um desperdício de meios e recursos.

Além disso, vamos também projetar como podemos colocar o cidadão (verdadeiramente) no centro de todo o sistema de saúde, criando sinergias, parcerias e contingências, para que ninguém fique para trás e para que a equidade do acesso à saúde em Portugal volte a ser, finalmente, uma realidade plena. Sem listas de espera intermináveis e sem que o código-postal das pessoas seja determinante para o tipo de cuidados que acaba por receber ou ter acesso.

Os médicos desempenharão, em 2040, um papel tão ou mais importante do que aquele que desempenham hoje. Contudo, será, certamente, diferente. Um papel onde a ética terá um peso ainda maior, onde os procedimentos serão executados, cada vez mais, em ambulatório, onde a inteligência artificial fará parte do nosso quotidiano e as especialidades médicas que conhecemos se transformarão. Algumas poderão transformar-se, outras poderão ser fundidas e outras mais poderão ser criadas. O mundo muda e nós mudamos com ele.

A Ordem dos Médicos escolheu o ano de 2040 com um propósito. Pensar com 18 anos de antecedência é absolutamente essencial porque baliza um ciclo de formação de um médico e deixa ainda espaço para alguns anos de planeamento e operacionalização.


Miguel Guimarães

O tempo que nos falta até 2040 tem de ser aproveitado, a partir de agora, para que possamos dar o nosso contributo para Portugal estar melhor preparado. Não nos goramos a essa responsabilidade porque, como referia o investigador americano Warren Bennis, “liderança é a capacidade de traduzir visão em realidade”.

E nós, médicos, queremos uma realidade melhor para todos os portugueses, mesmo com a consciência de que projetar o futuro é arriscado e acarreta uma margem de erro considerável.

Se a pandemia nos ensinou alguma coisa foi que a incerteza fará sempre parte da equação das nossas vidas e profissões – mas que nos cabe a todos, hoje, preparar o amanhã em que queremos viver. Estamos em 2022 numa encruzilhada que nos encaminhar até 2040.

O nosso futuro próximo será moldado por muitas das decisões que tomarmos hoje (por ação ou omissão), quer seja ao nível das alterações climáticas, quer seja na ativação consequente de um programa que combata as desigualdades que temos no mundo ao nível da saúde e educação e que exponenciam ameaças tão básicas e perigosas como a fome.

Não tenhamos dúvidas: as desigualdades são uma ameaça global que afetam tudo e todos, tal como a guerra também o é, onde quer que nos encontremos neste globo, onde tempo e espaço se reduziram como nunca. Seja agora ou daqui a 20 ou 30 anos, será sempre impossível mudar a Saúde se não mudarmos as políticas.


O 24.º Congresso Nacional da Ordem dos Médicos vai contar com a participação de pessoas verdadeiramente extraordinárias, muitas delas fora da área da medicina, potenciando uma multidisciplinaridade essencial para pensarmos mais longe.

As profissões da área da saúde também estão a mudar e vamos ter de trabalhar, cada vez mais, com outros perfis que, com a liderança clínica dos médicos, possibilitem mais e melhores cuidados aos nossos doentes.

Mas permitam-me que vos diga: não obstante a indispensabilidade da tecnologia, nada substitui o Homem, nem ocultará o médico, ou estaremos a falar de algo completamente diferente da medicina como a concebemos.

Porque um médico nunca deixará de ser médico. E um doente nunca deixará de precisar de nós. A humanização da medicina será, também ela, uma prioridade em 2040. Depende de nós que assim seja, preservando a relação médico-doente, esse património que conquistámos e de que não podemos abdicar.

Com um programa envolvendo os Colégios da Ordem dos Médicos, que abrange também várias áreas do conhecimento em múltiplas dimensões, com convidados nacionais e internacionais, vamos pensar em 2040.

Nos dias 1, 2 e 3 de abril contamos convosco, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa. O futuro é hoje e pode ser moldado por cada um de nós, à imagem da medicina em que acreditamos. Cabe-nos fazer parte dele.




O artigo pode ser lido na edição 32 do jornal Hospital Público.

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