«É urgente valorizar as competências de todos os profissionais de Saúde Mental»

“Acredito que a Saúde Mental está, neste momento, a atravessar uma maré positiva no nosso país. Há investimento e há vontade de mudar, sendo justo reconhecer que se está a fazer esse caminho”, afirma Francisco Sampaio, professor na Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Porto (ESEP), em entrevista à Just News, a propósito do XVI Congresso Internacional da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de SM, que se realiza em meados de outubro e a que vai presidir.

Um dos aspetos que realça prende-se com “o esforço que tem vindo a ser feito, nos últimos anos, para organizar os serviços numa lógica verdadeiramente interdisciplinar, ou até mesmo transdisciplinar, através da criação de novas equipas comunitárias de SM”.

Ora, desta forma, “a pessoa com experiência de doença mental passa a estar no centro do processo de cuidados, com um plano individual elaborado por uma equipa que integra diferentes profissionais”.

Frisa mesmo estarmos perante “uma mudança de paradigma importante, que permite uma resposta mais personalizada, mais próxima das reais necessidades de cada pessoa”.

Francisco Sampaio também aplaude a reorganização que tem estado a ser feita nos serviços de SM, promovendo uma maior proximidade às comunidades: “Esta lógica de setorização e descentralização já está a ter impacto, nomeadamente na redução das taxas de reinternamento em situações de doença mental grave. Essas pessoas estão hoje mais acompanhadas, têm um terapeuta de referência e recorrem menos à Urgência.”

Na área dos cuidados de saúde primários (CSP), no entanto, “há ainda muito por fazer”, desde logo, “contratar mais profissionais”, com prioridade para enfermeiros especialistas em Enfermagem de SM e Psiquiátrica e psicólogos clínicos, “para que se possam desenvolver intervenções psicoeducacionais e psicoterapêuticas”.


Francisco Sampaio: “Muitas pessoas acabam por não ter acesso ao acompanhamento psicoterapêutico de que necessitam”


Investir na literacia em SM é igualmente algo essencial para Francisco Sampaio, porque “muitas pessoas continuam a ter dificuldade em identificar sinais e sintomas de doença mental, em procurar ajuda e até mesmo em gerir a sua condição de saúde”.

É também necessário, no seu entender, reconhecer o papel da formação contínua dos profissionais, “apostando numa prática mais segura, mais atual e mais eficaz”, e investir na investigação em Enfermagem de SM e Psiquiátrica, “porque investigar é também cuidar com mais profundidade”.

“É urgente valorizar e aproveitar bem as competências de todos os profissionais de saúde”, diz, “porque só com equipas completas, qualificadas e colaborativas conseguiremos garantir que todos os cidadãos tenham acesso, de forma justa e atempada, aos cuidados de que realmente necessitam”.



Congresso realiza-se em Santarém

“Intervenções psicoterapêuticas” é precisamente um dos temas centrais do XVI Congresso Internacional da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, que se realiza entre 15 e 17 de outubro, na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Santarém.

“Vamos trazer para debate não só esta questão, mas muitas outras que atravessam a prática clínica, a organização dos serviços e os desafios futuros”, esclarece Francisco Sampaio. E acrescenta que preletores nacionais e estrangeiros, de áreas como a Enfermagem de SM e Psiquiátrica, a Psiquiatria e a Psicologia, vão abordar temas como a importância da relação terapêutica, a evolução das abordagens psicoterapêuticas e a forma como os serviços de SM estão organizados em diversos países europeus.

Este ano, o Congresso terá o apoio institucional da Coordenação Nacional das Políticas de SM e do próprio Ministério da Saúde, bem como o apoio científico da Sigma Theta Tau International Honor Society of Nursing – Europe Region.

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