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A abordagem multidisciplinar da hipertensão «deve estender-se por toda a rede de cuidados»

"Apesar da existência de fármacos muito eficazes na redução da pressão arterial, para prevenir eventos e reduzir mortalidade, uma grande proporção dos doentes mantém-se fora do alvo desejado", alerta Heloísa Ribeiro, que é secretária-adjunta do Norte da Sociedade Portuguesa de Hipertensão.

Na sua opinião, para mudar este preocupante cenário, "torna-se necessário desenvolver outras estratégias para aumentar o seu tratamento e controlo, destacando-se a necessidade de uma mudança de paradigma na prestação de cuidados."

Colaboração entre enfermeiros e farmacêuticos

Heloísa Ribeiro considera, por isso, ser muito importante o investimento num trabalho colaborativo, recordando alguns "estudos randomizados e de meta-análise que, incidindo na colaboração com enfermeiros e farmacêuticos, mostraram uma redução da pressão arterial sistólica e diastólica e/ou uma maior proporção de atingimento do alvo quando comparado com o seguimento habitual".

A médica de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga recorda, a propósito, as guidelines de 2017 do American College of Cardiology e da American Heart Association (ACC/AHA) e de 2018 da European Society of Cardiology e da European Society of Hypertension (ESC/ESH), que "recomendam uma abordagem estruturada baseada em equipa (team-based care) e centrada no paciente".

Uma colaboração que, sublinha, naturalmente envolve outros profissionais que, "tendo em conta a sua formação de base, complementam a atividade do médico, desempenhando uma função importante ao nível da educação, do suporte e do seguimento ao doente, nomeadamente, reforçando a adesão terapêutica e a monitorização da pressão arterial".

E acrescenta: "A definição dos diversos papéis na equipa, com base no conhecimento, competências e disponibilidade dos diversos grupos envolvidos, permite não só responder às necessidades do doente como também delegar tarefas, possibilitando ao médico ter uma maior disponibilidade para atender casos mais difíceis."


Heloísa Ribeiro

Dos cuidados primários aos hospitalares

Heloísa Ribeiro salienta que a importância das equipas multidisciplinares "estende-se por toda a rede de cuidados do doente hipertenso, desde os cuidados de saúde primários, onde a maior parte dos casos é seguida, até ao nível hospitalar, onde se abordam situações mais complexas, incluindo casos de hipertensão resistente e secundária e doentes de alto e muito alto risco cardiovascular".

No caso hospitalar, Heloísa Ribeiro destaca ainda a importância do "trabalho em equipa de diversas especialidades médicas (Endocrinologia, Imagiologia e Pneumologia, entre outras), articuladas de forma eficaz com o médico assistente do doente, nomeadamente, através da criação de consultas multidisciplinares (ou do agendamento das diversas consultas no mesmo dia)".

Com este cenário, é assim possível concretizar um conjunto de objetivos: "Agilizar o seguimento, evitando a burocracia da orientação formal para cada consulta individualmente e consequente janela temporal até à observação pretendida, racionalizar o pedido de exames complementares de diagnóstico e estabelecer um plano comum, proporcionando ao doente uma maior celeridade do processo, uma redução dos níveis de ansiedade e um menor absentismo laboral."


"Homogeneizar a prestação de cuidados a nível nacional"

Para Heloísa Ribeiro não há qualquer dúvida quanto ao que é urgente implementar: "Torna-se necessário envidar esforços com vista à criação de protocolos de formalização e atuação destas equipas multidisciplinares, procurando-se homogeneizar a prestação de cuidados a nível nacional, e não pontualmente, com iniciativas locais."

E não só. A internista adverte ainda para a importância de "evitar a duplicação desnecessária de recursos ou a referenciação do doente para múltiplas consultas para resolução do mesmo problema".

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