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Gestão hospitalar: Homenagem a Augusto Mantas, João Urbano e Margarida Bentes

Numa cerimónia integrada no 50.º aniversário da criação da carreira de Administração Hospitalar, foram há dias homenageados “três vultos da gestão hospitalar em Portugal” já falecidos. De acordo com Alexandre Lourenço, presidente da APAH - Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, “estas pessoas ajudaram-nos a construir o SNS”.

Augusto Mantas, João Urbano e Margarida Bentes, o primeiro dos quais não era administrador hospitalar de carreira, foram lembrados numa cerimónia que decorreu recentemente e que teve como palco a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), em Lisboa.


Jorge Varanda, João Pereira e Alexandre Lourenço

Numa iniciativa que envolveu a própria ENSP, a Sociedade Portuguesa de História dos Hospitais (SPHH) e a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), dezenas de participantes associaram-se a um evento que se prolongou por todo o dia e que contou com a presença de um convidado especial – Don Holloway, o consultor norte-americano que, nos anos 80, ajudou a melhorar a gestão dos hospitais portugueses.

A sessão de abertura foi de evocação das três personalidades homenageadas, tendo o diretor da ENSP, João Pereira, recordado “com grande carinho” três figuras que “foram marcantes no desenvolvimento da gestão em saúde em Portugal”.



Jorge Varanda, que falou na qualidade de presidente da SPHH, sublinhou que a cerimónia fazia todo o sentido “do ponto de vista da história dos hospitais”. Referiu-se ao respeito “quase filial” por Augusto Mantas, à “inovação”, “energia”, “determinação”, “conhecimento” e “insatisfação” de João Urbano, frisando que o que ele fez “foi pura inovação”. E admitiu que Margarida Bentes, por sua vez, “deixou em todos nós um travo imenso de saudade”.



Augusto Mantas (1926-1997)

Augusto Mantas foi, ao longo dos anos 70 e 80, diretor-geral dos Hospitais, presidente da Comissão Coordenadora do Financiamento da Saúde, dirigiu o Departamento de Gestão Financeira dos Serviços de Saúde e presidiu à Comissão Instaladora dos Serviços Informáticos da Saúde. Em 2016, haveria de receber a Medalha de Ouro de Serviços Distintos do Ministério da Saúde.

Segundo Alexandre Lourenço, “foi essencialmente uma pessoa muito relevante pelo seu contributo na gestão financeira do SNS”. E mais: “Entrou nesta área da Saúde com uma quantidades de conhecimentos de gestão financeira que transformaram o Ministério da Saúde e a gestão financeira deste setor, algo de marcante para o resto da administração pública”.

João Urbano (1940-2016)

Em declarações à Just News, o presidente da APAH referiu-se a João Urbano como “uma personalidade muito marcante da gestão hospitalar”, tendo sido “um dos grandes impulsionadores do desenvolvimento da carreira da Administração Hospitalar em 1979/80”. Foi o grande responsável por fazer com que Portugal se tornasse no primeiro país europeu a aplicar um conjunto de conhecimentos e processos de gestão hospitalar inovadores, através da cooperação norte-americana.

O programa de gestão hospitalar introduzido por João Urbano era de tal forma inovador, nos primeiros anos da década de 80, que a Alemanha só veio a introduzir esse sistema em 2004, sublinhou Alexandre Lourenço, referindo-se ao processo inovador de pagamento prospetivo dos episódios de internamento.

A lista de projetos introduzidos é extensa, relacionados, por exemplo, com a elaboração de relatórios de produtividade por centros de custo, as tabelas de ponderação de atos médicos, o planeamento de altas, a classificação de doentes por grau de dependência de enfermagem, ou a racionalização do sistema de recolha e distribuição de roupa.


Augusto Mantas, João Urbano e Margarida Bentes

Margarida Bentes (1956-2009)

Licenciada em Economia e com pós-graduação em Administração Hospitalar, Margarida Bentes esteve ligada ao Sistema de Informação para a Gestão dos Serviços de Saúde, bem como ao Instituto de Gestão Informática e Financeira do Ministério da Saúde. Foi depois presidente do CA da Administração Central do Sistema de Saúde e do CD da ARS de Lisboa e Vale do Tejo.

De acordo com Alexandre Lourenço, “a Dr.ª Margarida Bentes continuou o trabalho do Dr. João Urbano, numa vertente muito mais académica. Foi muito estudiosa dos sistemas de saúde e ajudou a consolidar o conhecimento científico nesta matéria”.

Sócios de mérito da APAH

Não tendo sido administrador hospitalar, Augusto Mantas viu-lhe ser atribuído o título de sócio honorário da APAH logo na década de 80, “pelo seu contributo para o desenvolvimento da Administração Hospitalar”.



Quanto a João Urbano e Margarida Bentes, o presidente da APAH anunciou, na cerimónia que teve lugar na ENSP, que vai ser apresentada em assembleia-geral a proposta para que sejam considerados sócios de mérito, um galardão atribuído a administradores hospitalares.




A notícia pode ser lida na edição de fevereiro do Hospital Público.

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