Carlos Cortes avisa que mais de 200 médicos podem ficar sem acesso à especialidade
Existem, atualmente, mais de 1700 médicos para ocupar cerca de 1500 vagas de especialidade, o que significa que mais de duas centenas não terão lugar em qualquer unidade hospitalar ou centro de saúde para iniciarem a formação numa especialidade. Estes números foram referidos pelo presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (OM), Carlos Cortes, na 22.ª Reunião do Núcleo de Medicina Interna dos Hospitais Distritais, que se realizou na Figueira da Foz.
De acordo com aquele responsável, os mais de 200 candidatos terão duas opções. Ou serão médicos indiferenciados (sem autonomia para o exercício da Medicina), ou emigram, sendo que só no ano passado cerca de 400 médicos procuraram outro país para trabalhar.
Para o presidente da Secção Regional do Centro da OM, esta situação foi criada pelos ministérios da Saúde e da Educação, que “sabem perfeitamente que o número de estudantes que estão a entrar nas faculdades é muito superior às capacidades formativas do nosso país”, situação que se repete desde os anos 90.Carlos Cortes afirmou estar certo de que o Ministério da Saúde quererá encaixar muitos destes médicos nos centros de saúde. E prevê que outros “serão empurrados a trabalhar em muitos hospitais, nomeadamente distritais, que sofrem com falta de recursos humanos”.
Alertou também para a “asfixia” que tem acontecido com os recursos humanos. Segundo disse, há um desequilíbrio importante entre o Litoral e o Interior, assim como entre hospitais centrais e distritais. “A capacidade e a força de captação dos primeiros acaba por reduzir o corpo clínico dos hospitais distritais, acabando por dificultar a manutenção de cuidados de saúde adequados para as populações”, disse.
Outro dos problemas apontado por aquele responsável prende-se com a contratação de médicos através de empresas que se dedicam a esse fim. “Hoje, os próprios conselhos de administração, as direções clínicas e os diretores de serviço têm dificuldade em escolher os médicos que, no dia seguinte, vão trabalhar no hospital, porque essa decisão é tomada pelas empresas de contratações.”
Mencionou ainda o facto de, "sem explicação", terem sido retiradas muitas especialidades a vários hospitais. Um processo que considera ter sido conduzido “de forma atabalhoada”. Isto fez com que em junho e julho últimos tivessem sido constituídas várias comissões para que as mesmas apresentassem, em 90 dias, uma proposta concreta sobre o que deveria ser a rede de referenciação na sua área de especialidade. No entanto, nenhuma apresentou ainda conclusões e muitas delas nem sequer ainda realizaram a sua primeira reunião.